terça-feira, 19 de setembro de 2017

BREVE HISTÓRIA DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

BREVE HISTÓRIA DA HERMENÊUTICA ( I ).
Rev. João Ricardo Ferreira de França.
INTRODUÇÃO:                     
No estudo da Hermenêutica Bíblica é necessário compreendermos os caminhos percorridos pelos primeiros intérpretes da Palavra de Deus para a condição da hermenêutica atual.
Neste estudo observaremos uma breve história da Interpretação com vista à compreensão dos processos e métodos hermenêuticos existentes na atualidade; pois, somente uma caminhada na história da interpretação poderá nos auxiliar no caminho a seguir para uma interpretação segura da Palavra de Deus.
I – A INTERPRETAÇÃO DO ANTIGO TESTAMENTO.
O Antigo Testamento é o primeiro documento da Escritura Sagrada a exigir uma interpretação. Quando lemos Neemias 8. Neste trecho vemos que o povo que regressara do exílio babilônico não compreendiam o que linha na Bíblia, por isso, Neemias e Esdras providenciaram os Targums que significa aqueles que explicam o texto.[1] E assim temos o primeiro processo interpretativo para a comunidade pectual.
1.      A Interpretação judaica no inicio da era Cristã:
Nos primórdios da era Cristã os rabinos judeus tendiam a seguir duas abordagens básicas para se detectar o sentido do texto sagrado.
a)      O Peshar:  É conhecido como o sentido “claro” ou “simples” que deriva a ideia de sentido literal ou sentido histórico do texto.
b)      O Remaz: Conhecido como sentido oculto da lei mosaica[2], dentro desse conglomerado. Havia também o sentido conhecido como derush termo geralmente usado para descrever o processo da exegese. O termo pode ser compreendido a partir da língua hebraica, no uso da palavra vr:*d< (derash) que tem uma gama de significados entre os quais temos: “tirar informações, indagar, procurar, buscar, preocupar-se, examinar, inquirir, pesquisar, exigir; ansiar” [3] e aqui denota “o estudo intenso, ou exame do sentido de uma passagem”.[4]
2.      A Interpretação Rabínica
Na interpretação rabínica desenvolveu-se grandes coleções de escritos interpretativos que no período cristão passou a ser conhecidos como o Mishnah, o Gemara e o Talmude.[5] Para nossos propósitos didáticos iremos apresentar apenas as regras de interpretação do famoso rabino Hillel:[6]
Regra 1: Inferência do sentido mais brando para o mais forte. Isto seria basicamente o que fazemos em filosofia dentro do silogismo. Partimos da premissa menor (o sentido mais brando) para uma premissa maior (sentido mais forte). O principio hermenêutico estabelecido é que aquilo que é verdade sobre o menor é igualmente verdade para o sentido maior.
P.e. Levando em consideração que o Sábado é mais importante  do que outros dias festivos, e aquilo que possa ser restrito no dia de Sábado era ainda singularmente mais aplicável ao dia de Sábado.
Regra 2: Analogia de expressões: As ambiguidades de passagens bíblicas eram superadas quando se fazia referências às expressões semelhantes dentro do corpo canônico.
P.e – A passagem de Levítico 16.29 diz que os judeus deveria afligir a alma no dia da expiação e  forma desse “afligireis a vossa alma” foi interpretada como um abster-se da comida com base na analogia da passagem de Deuteronômio 8.3 que usa a mesma expressão em referência ao estar com fome.
Regra 3: Aplicação por analogia com uma cláusula ou a extensão do específico para o geral.
Um principia geral era construído sobre a base de um ensinamento contido num versículo.
P.e. O caso de um homicídio culposo (sem a intenção) conforme descrito em Deuteronômio 19.
Regra 4:   Aplicação por analogia com duas cláusulas.
Isto significa que duas cláusulas bíblicas servem de base para um principio geral. Por exemplo, vemos em Êxodo 21.26-27. Nesta passagem lemos que se um escravo viesse a ter um “dente” ou um “olho destruído” este mesmo princípio deverá ser aplicado as outras partes do corpo.
Regra 5: Inferência de um princípio geral par um caso ou exemplo específico. Essa regra pode ser usada de duas maneiras – do geral para o específico ou vice-versa.
P.e O que é dito em Êxodo 22.9 – “qualquer coisa” pode ser aplicado a qualquer coisa que foi tomada por empréstimo e perdida e que deve ser reembolsada.
Regra 6: Explicação de outra passagem
            O uso de outra passagem para explicar a primeira passagem com vista a elucidação. Por exemplo, se o cordeiro pascoal deveria ser abatido caso o dia da páscoa caísse em sábado? Segundo esse princípio Números 28.10 fala de “sacrifícios diários” e por isso, o cordeiro deveria se sacrificado para a páscoa não importando o dia para isso.
Regra 7: Aplicação de uma inferência evidente por si só em um texto.
            Esta regra lembra que nenhuma declaração deve ser tomada de modo isolado, mas somente à luz do seu contexto.


II – A INTERPRETAÇÃO DO NOVO TESTAMENTO.
            Neste momento o nosso estudo se ocupará em lidar com as questões relacionadas com a interpretação neotestamentária desde a forma como o Novo Testamento interpreta o Antigo até as avaliações interpretativas deste segundo testamento.
Antes de tudo devemos lembrar que há “224 citações diretas do Antigo Testamento dentro do Novo Testamento”.[7] Cristo fez bom uso do Antigo Testamento através de seus ensinos (Marcos 2.25-28 e João 7.23; João 10.34-36).
Paulo também faz bom uso no Antigo Testamento no Novo Testamento. Vemos ele valer-se de uma alegoria para referir-se a relação que o Cristão tem com a Lei conforme lemos em Gálatas 4.24-31.
No capítulo 10.1-6 de 1ª Coríntios encontramos Paulo fazendo aplicação de eventos históricos-redentivos como uma alusão à Cristo bem como referência ao novo momento que a Aliança se aplica à igreja. E ainda em Gálatas 3.29 Paulo argumenta que Cristo é o Messias baseando seu argumento na distinção entre singular e plural da palavra semente – ou descendente.
III – A INTERPRETAÇÃO NA PATRÍSTICA
            Uma fonte bastante interpretativa na História da Interpretação é certamente os escritos dos pais apostólicos. Por questões de espaço iremos apresentar, de forma lacônica, as ideias gerais das escolas de interpretação deste período:
3.1 – A Escola de Alexandria:
            Para esta escola de interpretação as Escrituras deveriam ser interpretadas alegoricamente.[8]Trata-se de uma das escolas mais antigas de interpretação.[9] O pai dessa escola de interpretação foi Clemente de Alexandria, ele “acreditava que as Escrituras ocultavam seu verdadeiro significado a fim de que fossemos inquiridores, e também porque não é bom que todos a entendam”.[10] Virkler lembra-nos que Clemente de Alexandria “ desenvolveu a teoria de que cinco sentidos estão ligados à Escritura (histórico, doutrinário, profético, filosófico, e místico), com as mais profundas riquezas disponíveis somente aos que entendem os sentidos mais profundos.”[11] O principio da alegorização se difundiu neste período que era quase impossível um escritor deste tempo não interpretar valendo-se dessa escola.
            Ressaltamos também que o conceito “de que a verdade se encontra alegoricamente oculta além da letra e da realidade visível”[12] era dominante neste escola interpretativa, ou seja, o sentido natural e simples da passagem não era considerado a verdade clara. Vejamos um exemplo da interpretação alegórica de Gênesis 22.1-4 em Clemente de Alexandria:
Quando, no terceiro dia, Abraão chegou ao lugar que Deus lhe havia indicado, erguendo os olhos, viu o lugar à distância. O primeiro dia é aquele constituído pela visão de coisas boas; o segundo é o melhor desejo da alma; no terceiro a mente percebe coisas espirituais, sendo os olhos do entendimento abertos pelo Mestre que ressuscitou no terceiro dia. Os três dias podem ser o mistério do selo (batismo) no qual cremos realmente em Deus. É, por consequência, à distância que ele percebe o lugar. Porque o reino de Deus é difícil de atingir, o qual Platão chama de reino de ideias, havendo aprendido de Moisés que se tratava de um lugar que continha todas as coisas universalmente. Mas Abraão corretamente o vê à distância, em virtude de estar ele nos domínios da geração, e ele é imediatamente iniciado pelo anjo. Por esse motivo diz o apóstolo: "Porque agora vemos como em espelho, obscuramente, então veremos face a face", mediante aquelas exclusivas aplicações puras e incorpóreas do intelecto.[13]

Entretanto, o maior expoente da escola de interpretação alegórica foi Orígenes. Ele “é o membro mais  destacado da escola Alexandrina, e é ele quem afirma de forma mais completa e adequada os princípios da alegorização cristã”[14]. Ele sustentava a ideia de que cada parte da Escritura é alegórica. Ele entendia que o sentido literal é “valioso, mas algumas vezes obscurece o sentido primário, que é o espiritual. O literal é para os iniciantes, mas o espiritual é para os maduros na fé.”[15] Virkler nos lembra:
Orígenes acreditava que assim como o homem se constitui de três partes — corpo, alma e espírito — da mesma forma a Escritura possui três sentidos. O corpo é o sentido literal, a alma o sentido moral, e o espírito o sentido alegórico ou místico. Na prática, Orígenes tipicamente menosprezou o sentido literal, raramente se referiu ao sentido moral, e empregou constantemente a alegoria, uma vez que só ela produzia o verdadeiro conhecimento.[16]
Esse sistema interpretativo foi construído sobre a doutrina da correspondência, onde um elemento natural e físico nas Escrituras (sentido natural claro) é acompanhado de um elemento ou acontecimento análogo à realidade espiritual.[17]
3.2 – A Escola de Antioquia.
                Havia uma escola que se fazia oposição ao alegorismo alexandrino que ficou conhecida como Escola de Antioquia. O verdadeiro fundador desta escola foi provavelmente Luciano de Samosata. Outras acham que fora o Presbítero Diodoro o fundador da famosa escola. Entretanto, há dois fundamentais representantes desta escola de interpretação: Theodoro de Mopsuéstia e João Crisóstomo. Virkler sumariza para nós a distinção entre as duas escolas de forma bastante lacônica:
Teodoro de Mopsuéstía (c. 350—428), defendiam com o maior zelo o princípio da interpretação histórico-gramatical, isto é, que um texto deve ser interpretado segundo as regras da gramática e os fatos da história. Evitavam a exegese dogmática, asseverando que uma interpretação deve ser justificada por um estudo de seu contexto gramático e histórico, e não por um apelo à autoridade. Criticavam os alegoristas por lançarem dúvida na historicidade de muita coisa do Antigo Testamento[18]

Esta escola rejeitou a interpretação alegórica também fez a distinção entre o gênero alegórico e a interpretação alegórica; explicou os textos cristológicos do Antigo Testamento por meio da interpretação tipológica baseada nos padrões regulares das Escrituras, buscavam a intenção autoral como o sentido natural das Escrituras[19]. Ressaltamos que os Reformadores se identificaram com esta escola de interpretação.
3.3  - A Escola do Ocidente.
            Na patrística temos uma escola de interpretação ocidental que é conhecida como a mais eclética (ela vale-se tanto dos princípios dos alexandrinos quanto dos antioquianos). Segundo Kaiser a importância desta escola se dá exatamente porque  nela se insere a autoridade da tradição na interpretação bíblica[20] como algo importante a ser considerado. Os principais representantes desta escola são Hilário, Ambrósio e, especialmente, Jerônimo e Agostinho.
            Agostinho desenvolveu princípios hermenêuticos importantes em sua  obra  De Doctrina Christiana. Nesta importante obra ele ressaltou a necessidade de um sentido literal como sendo a base essencial para o sentido alegórico. Mas, ele mesmo não hesitou em usar o método alegórico de forma livre. Quanto uma passegem necessitava deu análise decisiva ele apelava para a regula fidei (regra de fé), que de acordo com o próprio Agostinho é conjunto de doutrinas da igreja. Aqui a tradição começa a ganhar força na interpretação das Escrituras.
Vale ressaltar que a Bíblia e a tradição (vista como o testemunho da Igreja) devem andar juntas, nos precisamos ouvir a ambas ou como coloca sabiamente um autor reformado presbiteriano:
A Bíblia sozinha seria a religião dos protestantes. O problema e que a Bíblia nunca esta sozinha. O próprio Calvino, que falou da autoridade da Bíblia nos termos mais elevados, sempre leu-a e ouviu-a segundo as tradições. Sua revisão litúrgica foi feita de acordo com as praticas da Igreja Antiga, o mesmo sucedendo com a organização eclesiástica por ele desenvolvida[21]
Agostinho fez com que a tradição se avultasse sobre as Escrituras de forma  prejudicar a interpretação da mesma. Queremos deixar claro que podemos ler a Bíblia com as tradições, o problema encontra-se quando as tradições estão se opondo a Bíblia. A Igreja é a coluna e baluarte da verdade (1 Tm.3.15). E vivemos uma época em que a historia da igreja (que funciona como testemunho para nós) tem sido negligenciada, mais uma vez Leith nos adverte para isso:
Os protestantes têm sido sempre tentados a crer que, de alguma forma, podem ignorar todos os séculos da historia crista, estudando a Bíblia sem ajuda e os embaraços dos que os antecederam. Na verdade, porem, aqueles que se recusam a ler a Bíblia a luz das tradições da Igreja acabam sendo dominados pelas suas próprias tradições históricas e culturais[22]
Agostinho também seguiu, infelizmente, o método chamado de quadriga. Que consistia em compreender que as Escrituras possuíam um sentido quádruplo:
1.      Histórico; 2. Etiológico (uma investigação da origem e das causas); 3. Analógico e 4. Alegórico. Este método surgiu com João Cassiano sobre a cidade Jerusalém ele ensinou: Jerusalém literalmente significa a cidade dos Judeus; alegoricamente  Jerusalém é a igreja (Salmos 46.4-5); Tropologicamente , Jerusalém é a alma (Salmos 147.1-2,12); e, anagogicamente, Jerusalém é nosso lar celestial (Gálatas 4.26). O próprio Cassiano reconhecer que o sentido da quadriga  não se aplicava a todos os textos das Escrituras, e enfatizava a busca pelo sentido natural e literal do texto sagrado.[23]


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1.      ANGLADA, Paulo Roberto Batista. Introdução à Hermenêutica Reformada. Ananindeua: Knox, 2006
2.      GRANT, Robert.; TRACY, David. A Short History of the Interpretation of the Bible USA: Fortress Ress,1984
3.      KAISER JR, Walter. C.; SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Cultura Cristã, 2009
4.      LEITH, John. A Tradição Reformada – Uma Maneira de ser a Comunidade Cristã. São Paulo: Pendão Real, 1999
5.      LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e Seus Intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2004
6.      NICOLE, Roger. New Testament Use Of The Old Testament in: Carl F. H. Henry - REVELATION AND THE BIBLE Contemporary Evangelical Thought.
7.      SCHWANTES, Milton. Dicionário de Hebraico-Português & Aramaico-Português. São Paulo: Vozes e Sinodal,  2003, p.51.
8.       VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada. São Paulo: Vida, 1987




[1] KAISER JR, Walter. C.; SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p.204.
[2] Idem
[3] SCHWANTES, Milton. Dicionário de Hebraico-Português & Aramaico-Português. São Paulo: Vozes e Sinodal,  2003, p.51.
[4] LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e Seus Intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p.51
[5] KAISER JR, Walter. C.; SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p.204.
[6] Ibid, p.205-206.
[7] NICOLE, Roger. New Testament Use Of The Old Testament in: Carl F. H. Henry - REVELATION AND THE BIBLE Contemporary Evangelical Thought , p.137.
[8]KAISER JR, Walter. C.; SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p.211.
[9] ANGLADA, Paulo Roberto Batista. Introdução à Hermenêutica Reformada. Ananindeua: Knox, 2006 ,p.27.
[10] VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada. São Paulo: Vida, 1987, p. 44.
[11] Idem.
[12] LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e Seus Intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p.51
[13] VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada. São Paulo: Vida, 1987, p. 44.
[14]GRANT, Robert.; TRACY, David. A Short History of the Interpretation of the Bible USA: Fortress Ress,1984, p.56
[15] LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e Seus Intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p.132.
[16] VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada. São Paulo: Vida, 1987, p. 44.
[17] KAISER JR, Walter. C.; SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p.212.
[18] VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada. São Paulo: Vida, 1987, p. 46.
[19] ANGLADA, Paulo Roberto Batista. Introdução à Hermenêutica Reformada. Ananindeua: Knox, 2006 ,p.61
[20] KAISER JR, Walter. C.; SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p.214
[21] LEITH, John. A Tradição Reformada – Uma Maneira de ser a Comunidade Cristã. São Paulo: Pendão Real, 1999, p. 20
[22] Idem.
[23] KAISER JR, Walter. C.; SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p.214.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

A AUTORIA DO LIVRO DE ATOS

SEMINÁRIO PRESBITERIANO FUNDAMENTALISTA DO BRASIL.
Curso Modular de Atos dos Apóstolos
Professor visitante: Rev. João França
Módulo I – O Pano de Fundo  de Atos dos Apóstolos
Aula 01 – Questões Introdutórias ao Livro.

ATOS DOS APÓSTOLOS

INTRODUÇÃO:

            O livro de Atos dos Apóstolos narra os primeiros trinta anos após a ascensão de Jesus ao Pai. Um livro riquíssimo no qual devemos mergulhar para o entendermos.  Este é um capítulo inspirador da História da Igreja. Na verdade, o Livro que nos propomos estudar neste curso é a primeira história eclesiástica neotestamentária[1].
            Este livro trata de modo particular como viveu a Igreja logo após a entronização[2] de Cristo! O título atribuído ao livro já suscitou na vida da igreja algum certo debate, os que preferem o título conforme se encontra em nossas bíblias “PRAXEIS APOSTOLWN” (Praxeis Apostolon) ou “Práticas dos Apóstolos” tem um apoio na Igreja Primitiva[3], outros tem sugerido que o título do livro é infeliz e que por isso deveria chamar-se Atos do Espírito Santo.[4]Mas, certamente falta evidências suficientes para isto. Devemos considerar Atos como a continuação da obra de Cristo Jesus por meio dos apóstolos como o verso de abertura deste livro parece nos indicar: “Escrevi o primeiro livro, ó Teófilo, relatando todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar” e prossegue no verso seguinte apoiando essa pressuposição básica “até ao dia em que, depois de haver dado mandamentos por intermédio do Espírito Santo aos apóstolos que escolhera, foi elevado às alturas.”.

I – QUESTÕES INTRODUTÓRIAS (AUTORIA):
            O livro de Atos dos Apóstolos é resultado da inspiração do Espírito Santo sobre a vida de seu autor. É claro que o autor primeiro deste livro bíblico é Deus. Mas, sua inspiração divina não deve distrair a nossa atenção do autor humano. A tradição eclesiástica (a tradição da igreja) tem atribuído a autoria deste livro a Lucas.
Mas, será que tal tradição se sustenta? Será que podemos provar que Lucas tenha escrito o livro de Atos? Para isso faremos três importantes procedimentos: 1. Faremos uma comparação entre Atos e o Evangelho; 2. Analisaremos a História da Igreja Primitiva; e por fim, 3. Olharemos para o restante do Novo Testamento para ver se existe alguma evidência da autoria lucana deste livro.
  1. O EVANGELHO DE LUCAS COMPARADO COM ATOS:
Nosso trabalho se ocupará agora de uma comparação entre os dois livros neotestamentários. E quando procedemos com a comparação surgem dois tipos de evidências importantes que sugerem com muita força que uma só pessoa escreveu ambos os livros. Tais evidências são classificas de 1. Explícita (aquela que está claramente indicando que é o mesmo autor); 2. Implícita (aquela que sugere a autoria comum dentro do corpo textual), vejamos:
  1. Evidências Explícitas:
Em Atos 1.1 nós lemos as seguintes palavras: “Escrevi o primeiro livro, ó Teófilo, relatando todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar”
Aqui o escritor do livro fala de “seu primeiro livro”, dando a entender que Atos é faz parte de uma obra em dois volumes. Também somos informados que ele escreveu o livro destinado a uma pessoa de nome Teófilo. Agora vejamos o prólogo de Lucas 1.1-4:
Visto que muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram deles testemunhas oculares e ministros da palavra, igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma exposição em ordem, para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído.

            Então, nesta simples comparação podemos observar que o livro de Atos dos Apóstolos trata-se de um segundo tomo de uma obra única. Kistemaker mais uma vez é elucidativo neste aspecto:
O Evangelho de Lucas e Atos estão estreitamente relacionados devido à dedicatória desses dois livros a Teófilo (Lc 1.3; At 1.1). Casualmente, o tratamento excelentíssimo Teófilo parece inferir que este pertencia a uma alta classe social (comparem-se 23.26; 24.3; 26.25). E ainda, o versículo introdutório de Atos (1.1) revela que esse é o segundo volume que Lucas escreveu e uma continuação do primeiro (o Evangelho).[5]

Vale salientar que tanto “Lucas quanto Atos são anônimos, no sentido estrito da palavra”[6], por isso, se faz necessário determinarmos o autor de ambas as obras, mas pelo que as evidências nos apresentam apenas um autor escreveu estes dois livros.

  1. Evidências Implícitas:
Além das evidências explícitas da autoria de Lucas para Atos dos Apóstolos encontramos muitos escritores que reconhecem essa similaridade na obra Atos-Lucas. Conforme nós percebemos em Lucas 1.1-4 o autor se esforçou em apresentar um relato ordenado das coisas como ocorreram. O livro de Atos também segue basicamente a mesma estrutura. Há semelhanças entre os livros, entre as quais destacamos:
a.       Eles se desenvolvem em estilo episódio.
b.      Há temas paralelos em ambos os livros.
c.       Também há expectativas no livro de Lucas que só se cumprem em Atos: “porque os meus olhos já viram a tua salvação, a qual preparaste diante de todos os povos: luz para revelação aos gentios, e para glória do teu povo de Israel.” Lucas 2.30-32.
O ministério de Jesus, segundo o evangelho de Lucas, explica a salvação e a promessa à Israel. Mas só em Atos vemos a salvação de Deus que serve em formas significativas como uma luz para revelação aos gentios.
  1. O TESTEMUNHO DA IGREJA PRIMITIVA DA AUTORIA LUCANA:
Desde o quarto século a igreja tem sempre reconhecido que Lucas é o autor de Atos-Lucas. Analisaremos isso observando os manuscritos neotestamentários; bem como, o testemunho epistolar dos pais da igreja.
  1. Os Manuscritos:

Nos anos de 1952 foi encontrado o famoso manuscrito conhecido como p75 (Papiro 75) ele é datado do ano 175-200 d.C. Este manuscrito possui o escrito que conhecemos como o Evangelho de Lucas e no final deste escrito encontramos a seguinte expressão: EUAGGELION KATA LOUKAN (EUANGELION KATA LOUKAN – O Evangelho Segundo Lucas) este manuscrito certamente nos indica que o terceiro evangelho foi escrito por Lucas e que por consequência também ele é o autor do livro de Atos.
  1. Os Escritos pós-apostólicos:
As evidencias externas apontam para que Lucas tenha escrito Lucas-Atos é bastante forte, conforme vemos nos informa Carson[7]; pois, o fragmento Muratoriano datado por volta de 170 a 190 d.C. coloca na sua lista dos livros do Novo Testamento Lucas como autor de Atos dos Apóstolos; Irineu na sua obra contra as heresias documenta este fato da autoria de Lucas para Atos. E as palavras do manuscrito antimarcionistas em 160-180 são esclarecedoras:

            “Lucas é sírio, natural de Antioquia, por profissão um médico. Foi discípulo dos apóstolos e mais tarde acompanhou Paulo até o seu martírio. Serviu ao Senhor sem distrações, sem esposa, sem filhos. À idade de 84 anos adormeceu na Beócia, cheio do Espírito Santo”[8]


            Outro personagem da História da Igreja que confirma ser Lucas o autor de Atos é Eusébio de Cesárea em sua História Eclesiástica: “Lucas[...]fez menção dos censos em Atos”.

  1. O NOVO TESTAMENTO E BUSCA DO AUTOR DE ATOS DOS APÓSTOLOS.

Agora precisamos olhar para o Novo Testamento e investigar se o mesmo apresenta alguma indicação de que o Autor de Atos seja Lucas.
  1. Pistas da autoria no Novo Testamento:
Vale salientar mais uma vez que tanto o Evangelho de Lucas quanto o livro de Atos são anônimos e que não tem indicação alguma de sua autoria. Notamos no capítulo 1.3 do Evangelho Lucano a seguinte declaração:
igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma exposição em ordem,”
Vemos aqui que ele não cita seu próprio nome. Mas, uma coisa é certa Teófilo certamente o conhecia muito bem. Esta questão da identificação da autoria não foi um problema para Teófilo, mas tem suscitado um debate longo para nós. Mas, o Novo Testamento nos fala mais sobre o nosso autor:
1º Ele não é um apóstolo:
“Visto que muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram,  2 conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram deles testemunhas oculares
            Quando o autor diz “conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas” está informando que ele não fora uma testemunha ocular de tais fatos, logo não era um apóstolo.
2º Tanto Atos quanto o Evangelho partilham de “semelhanças no estilo e na linguagem e compartilham de preferências teológicas”[9] F.F. Bruce nos apresenta algumas dessas preferências: “Sentimentos católicos (i.e. universais), interesse pelos gentios, importância às mulheres, tendências apologéticas semelhantes, aparições do Cristo ressurreto limitadas à Judéia e o julgamento de Cristo perante Herodes Antipas[10]
  1. Lucas e as Informações sobre ele:
 O autor é alguém muito bem-educado o teólogo Barclay nos lembra:
Embora o Livro não diga, desde os primeiros tempos se sustentou que Lucas é seu autor. Sabemos muito pouco a respeito de Lucas; só há três referências a ele no Novo Testamento (Colossenses 4:14; Filemom 24; 2 Timóteo 4:11). Estas referências nos permitem assegurar duas coisas sobre ele. Em primeiro lugar, Lucas era médico; segundo, era um dos colaboradores mais apreciados por Paulo e um de seus amigos mais fiéis, porque foi seu companheiro em sua última prisão. Podemos deduzir uma coisa: Lucas era um gentio. Colossenses 4:11 inclui uma lista de menções e saudações àqueles que estão circuncidados, quer dizer os judeus; e o versículo 12 começa com uma nova lista, e concluímos naturalmente que sou tráfico de gentios. portanto nos encontramos ante o interessante feito de que Lucas é o único autor gentil no Novo Testamento. Poderíamos ter adivinhado que Lucas era um médico, porque instintivamente utiliza termos médicos. No Lucas 4:35, quando fala do homem que tinha o espírito de um demônio imundo, Lucas utiliza a frase: "derrubando-o em meio deles", e a palavra que utiliza é o termo médico correto para convulsões. No Lucas 9:38 descreve ao homem que pede a Jesus: "Rogo-te que veja meu filho". A palavra que utiliza é o termo convencional para a visita de um médico a um paciente. O exemplo mais interessante da preferência do Lucas por termos médicos é um dito sobre o camelo e o buraco da agulha. Três autores do Evangelho nos dão esse dito (Mateus 19: 24; Marcos 10:25; Lucas 18:25). Para a palavra agulha tanto Marcos como Mateus utilizam o termo grego raphis que se refere à agulha de um alfaiate ou caseira; somente Lucas utiliza o termo belone que é o nome técnico da agulha de um cirurgião. Lucas era médico, e os termos médicos fluíam naturalmente de sua pluma.[11]

Conclusão:
Conforme temos visto podemos aprender que o Autor de Atos é alguém cujo nome é Lucas. Não há grandes contestações em ralação a posição tradicional da igreja em identificar este escrito como vindo da pluma de Lucas o autor do Evangelho.
Descobrimos que este livro é a segunda parte de um outro, ou seja, do terceiro Evangelho, portanto, é uma continuação do primeiro. O título do Livro tem sido motivo de especulações e de sugestões para a alteração do foco de estudo, pois, alguns sugerem que este Livro deveria se chamar Atos do Espírito Santo e outros preferem chamar o livro Atos de Jesus Cristo , já que parece indicar que tratar-se da continuação da obra de Cristo pelo que se pode perceber dos versos iniciais deste livro; entretanto, a igreja sempre entendeu que Livro trata da ação de  Cristo em benefício da Igreja  por meio do ministério apostólico.





[1] Ainda que MARSHALL considere essa avaliação como algo de um leitor mediano, essa pressuposição histórica básica é evidente (MARSHALL, I. Howard. Atos – Introdução e Comentário, São Paulo: Vida Nova, 1983, p.14).
[2] Aqui referimo-nos ao fato da ascensão, pois, sabemos que Cristo reina desde os dias da eternidade, e que quando ressuscitou Deus, O Pai lhe assegurou todo poder (Mateus 28.18-19)
[3]Irineu, Against Heresies 3.13.3; Clemente de Alexandria Stromata 5.82; Tertuliano, Fasting 10. Os Códices Sinaiticus, Vaticanus e Bezae trazem essa tradução. Manuscritos minúsculos fornecem extensões: “Atos dos Santos Apóstolos” e “Atos dos Santos Apóstolos de Lucas o Evangelista”.
[4] Veja-Se KISTEMAKER, Simon J. Comentário a Atos – volume 1. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p.17 – no qual ele contesta também essa tentativa de colocar tal título no livro.
[5] KISTEMAKER, Simon. Comentário a Atos – volume 1. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 40
[6] CARSON, D.A; MOO, Douglas; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997, p.208
[7] Ibid, p. 209
[8] Apud, KISTEMAKER, Simon. Comentário a Atos – volume 1. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 39

[9] PINTO, Carlos Osvaldo. Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento. São Paulo: Editora Hagnos, 2008, p.109
[10] BRUCE, F.F. The Acts of the Apostles, p. 2
[11] BARCLAY, William. Atos. Tradução: Carlos Biagini. Disponível em: http://www.iprichmond.com/atos acessado em 07/03/2017.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

A LIDERANÇA DO HOMEM PIEDOSO

A LIDERANÇA DO HOMEM PIEDOSO
Rev. João Ricardo Ferreira de França.

Exposição Bíblica:
Salmos 101:
Texto:
Salmo de Davi

1Cantarei a bondade e a justiça; a ti, SENHOR, cantarei.
 2 Atentarei sabiamente ao caminho da perfeição. Oh! Quando virás ter comigo? Portas a dentro, em minha casa, terei coração sincero. 3 Não porei coisa injusta diante dos meus olhos; aborreço o proceder dos que se desviam; nada disto se me pegará. 4 Longe de mim o coração perverso; não quero conhecer o mal.  5 Ao que às ocultas calunia o próximo, a esse destruirei; o que tem olhar altivo e coração soberbo, não o suportarei.  6 Os meus olhos procurarão os fiéis da terra, para que habitem comigo; o que anda em reto caminho, esse me servirá.  7 Não há de ficar em minha casa o que usa de fraude; o que profere mentiras não permanecerá ante os meus olhos.  8 Manhã após manhã, destruirei todos os ímpios da terra, para limpar a cidade do SENHOR dos que praticam a iniqüidade.
 (Salmo 101.1-8 ARA)

Introdução:

            As famílias cristãs precisam de liderança. Nestes últimos tempos a as famílias estão desgovernadas; pais e filhos estão num navio estão aderiva; há muita falta de liderança na vida igreja e das famílias – os maridos não estão mais governando o lar de forma piedosa, as mulheres não estão sendo submissas aos seus esposos.
            Este salmo é conhecido na história da igreja como o salmo do chefe da família. Aqui reflete a liderança fiel do lar cristão pode ser apresentada neste trecho das Escrituras. Como liderar a família que o Senhor nos confiou?

I – LIDERE A FAMÍLIA COM JUSTIÇA E MISERICÓRDIA (vs.1)
            Aqui nós aprendemos que Davi introduziu um compromisso com a integridade com as palavras inicias deste salmo “CANTAREI a misericórdia e o juízo; a ti, SENHOR, cantarei” (Salmos 101.1 ACF).
            Davi estava se alegrando na “misericórdia e no juízo”, pois, como rei da nação deveria demonstrar isso. Liderar com esses atributos, assim deste mesmo modo o líder do lar deve proceder, devem governar. Olhando para a prática cristã atual você homem tem governado seu lar com o amor [חֶֽסֶד  - hased]? Nós devemos lembra o que Cristo nos ensina em Efésios 5.25: “Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela,”.
            O Puritano William Gouge tem algo a nos dizer sobre isso: “Da parte do marido, não existe dever algum que possa ser cumprido corretamente, a não ser que esteja temperado com amor[...] seu olhar, suas palavras, seu comportamento  e todo o  seu agir com a esposa precisa ser temperado com amor [...] Assim como o sal precisa ser a primeira coisa a ser colocada na mesa e a última a ser tirada e ser comido com cada pedaço de carne, da mesma maneira o amor precisa ser a primeira coisa que entra no coração do marido e a última coisa que sai dele e de estar misturado em cada ação relacionada com a esposa”[1]
            De modo similar deve ocorrer com os nossos filhos; pois, não os devemos discipliná-los com excessiva auteridade e severidade, semblante carrancudo, palavra ameaçadoras e ultrajantes, tratamento duro demais, correção severa demais,[...]
            Como devemos corrigir os nossos filhos? Como devemos liderar usando a disciplina?  O pai precisa corrigir  sua esposa e filhos, mas com brandura, cumprindo a lei de Cristo conforme Gálatas 6.1-2: “Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão, olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado. 2 Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo.”
            Como proceder na correção de nossos filhos? Outro puritano Samuel Lee nos ensina:
Que repreensões oportunas e prudentes  sejam ministradas de acordo com a natureza  e o tipo das ofensas deles. Começa com brandura; usa todos os argumentos persuasivos para, se possível, atraí-los e cativá-los para os caminhos de Deus.
            Mas, às vezes a repreensão é necessária , até mesmo a repreensão  com um ira santa, caso um membro da família seja contumaz em seus pecados. No entanto, devemos precaver-nos das chamadas explosões do temperamento e de gritos desnecessários. As repreensões devem ser ministradas com muito respeito e humildade.
            Quando não devo repreender a minha esposa? Não devemos repreender na presença dos filhos e dos empregados, para que não enfraqueça a autoridade da mesma sobre os subordinados (filhos e empregados)[2], no caso de faltas cometidas por crianças devemos  repreendê-las em particular, caso não tenho feito na frente de outros. Devemos fazer as distinções entre fraquezas, pecados não cometidos com rebelião, e rebelião ostensiva de forma escandalosa e persistente.  Levemos sempre Efésios 6.4 em nosso coração: “E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor.”


II – FAÇA DEVOCIONAIS PESSOAIS (vs. 2)

            Aqui no Salmo 101 ainda somos ensinados a cuidar de nossa própria alma, de nosso próprio coração: “Atentarei sabiamente ao caminho da perfeição. Oh! Quando virás ter comigo? Portas a dentro, em minha casa, terei coração sincero. (Psa 101:2 ARA)” Aqui Davi se compromete em ser íntegro porque ele anelava pela presença graciosa de Deus. O termo sabiamente “אַשְׂכִּ֤ילָה  - ‘askilah” – significa “prudência”, “sabedoria”, “saber”. O poeta aqui buscava comunhão com Deus; a busca da santidade á a busca por Deus (Salmos 15.1-5; Isaías 57.15); por isso, devemos mantes uma vida piedosa em nosso lar, buscar comunhão pessoal com Deus.  A pergunta “quando virás a mim”? É a ideia de Deus vim trazer um certa nutrição e vida a alma (alguma benção)

III – COMPORTE-SE COM INTEGRIDADE PIEDOSA EM SUA CASA (vs. 2b)
            Davi ainda nos ensina “Andarei em minha casa com um coração sincero. (Salmos 101:2 ARC)” – a palavra hebraica usada aqui para “sincero” é a palavra “בְּתָם  - betam” – ser correto, o sentido é ser completo. Servir a Deus com um coração bastante piedoso – algo fundamental na vida do líder do lar.
IV – MANTENHA A PUREZA DE SEU LAR (vs.3-5,7-8)

            Como líderes de nossas casas devemos manter um coração puro, uma vida pura diante de Deus e dos homens. O nosso coração não pode ser alimentado pelo engano.  Nossa prática deve ser a vida de piedade (vs.6).




[1] BEEKE, Joel R.; JONES, Mark. Teologia Puritana – Doutrina para a Vida. São Paulo: Vida Novo, 2017, p. 1217.
[2] Veja-se as perguntas do Catecismo maior 130-132.