sexta-feira, 19 de agosto de 2016

O Cânon e a Autoridade das Escrituras




IGREJA PRESBITERIANA DE RIACHÃO DO JACUÍPE – BA.
CURSO DE IDENTIDADE PRESBITERIANA
CONHECENDO A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER.
Rev. João Ricardo Ferreira de França.
ESTUDO 02:
O Cânon e a Autoridade das Escrituras
Introdução:
            Neste estudo estaremos estudando um tema de capital importância para o resgate de nossa identidade confessional se faz necessário conhecermos a formação da Revelação Especial de Deus; esta formação nós chamamos de Cânon, que por sua vez, indica o nosso padrão de crença; em outras palavras a Escritura Sagrada é Cânon de nossa fé e dentro desse processo lidamos também com o tema da autoridade das Escrituras Sagradas.
I – A DOUTRINA DO CÂNON CONSIDERADA (CFW.I, 3)
1.      A Definição do Cânon:
A palavra “cânon” é uma mera transliteração do termo grego “kanw,nkanôn – que significa vara reta, régua, regra. É uma palavra usada com referência para indicar a autoridade suprema da Bíblia sobre a vida dos cristãos. Ou seja, refere-se aos livros que compõem a Bíblia conforme conhecemos.[1] Uma definição mais lexical nos informa que a origem da palavra “cânon” é derivada
de uma raiz semítica [assírio Qanû; ugarítico:Qn; hebraico: hn<q;)( (Qâneh) ocorre 61 vezes no Antigo Testamento e é sempre empregada no sentido literal (veja-se 1 Rs 14.15; Jó 40.21; Is 36.6; 42.3; Ez 40.3,5,7), significando ‘cana’ (planta que era usada para medir e pautar) “balança” (Is.46.6) e também ‘a cana para trançar os cestos, ou bastão reto[2]
Esta palavra “Cânon” indica a nossa regra, o nosso limite e ainda mais, o nosso padrão; sendo todos estes sentidos aplicados à Palavra de Deus. Os que formam a Bíblia, exceto os livros apócrifos são a regra de nossa fé, o padrão que devemos sempre seguir.

2.      Critérios para a Canonicidade Bíblica:
Como saber se os livros que temos em nossa Bíblia são de fato os livros que comunicam a revelação de Deus. Quais critérios a Igreja usou para reconhecer os livros que traziam a revelação divina?
2.1  Critério da Apostolicidade: Se um livro fosse escrito por um apóstolo, ou alguém ligado ao apóstolo deveria ser tido e incluído na lista dos livros canônicos. P.e – O Evangelho de Marcos estava ligado a pregação de Pedro.
2.2   - Critério da Leitura Eclesiástica: Se um livro ou carta fosse lida pela maioria das igrejas deveria ser incluído como um livro canônico, a prática da leitura eclesiástica remonta-se ao período apostólico (Colossenses 4.16 e em 1 Timóteo 4.13).
2.3   - Critério da Harmonia Doutrinária: Nem livro ou epístola poderia contradizer os ensinos apostólicos já estabelecidos na igreja, se ocorresse tal contradição o livro deveria ser considerado como um livro sem assinatura ou apócrifo; pois, um livro apócrifo não tem autoridade na igreja de Deus porque contradiz doutrinas bíblicas importantes.
II – A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS (CFW. I.4,5)
            Uma vez que o Cânon é formado, logicamente seu conteúdo se torna autoridade na vida da Igreja de Cristo Jesus. Vale lembrar que a autoridade das Escrituras “repousa na inspiração”[3] o registro da revelação de Deus confere a autoridade à Palavra de Deus. O que Esta doutrina significa? Significa que toda a Palavra de Deus conforme está registrada é inerrante, e, não possui erros em nada do que se propõe dizer e ensinar, por isso, deve ser aceita como autoridade suprema na vida e no culto do povo de Deus.
1.      É uma Doutrina Atestada por Cristo: Em qualquer controvérsia ele usava a expressão “está escrito” indicando que a palavra final deve ser dada a Palavra inspirada por Deus. (Mateus 4. 4,6,710) Cristo ao usar a expressão “está escrito” usa um verbo grego “ge,graptai” – gégraptai –é um verbo no perfeito que indica uma ação contínua, significando “permanece escrito”, então, o Senhor Jesus está apelando para a autoridade da Bíblia como fonte autorizada da verdade. ”; todavia, o texto que podemos ver claramente a defesa da autoridade bíblica provinda dos lábios de Cristo é aquele de João 10.35: “E a Escritura não pode falhar”.
No texto de João 10. 35 nos chama a atenção o verbo “falhar” no grego temos “luqh/nai”- lythênai – é um verbo usado para descrever a quebra do sábado (Lucas 13.16), a ideia é de quebrar, ser quebrada, ou mesmo de ser diminuída a sua importância e valor. Cristo diz que toda a Escritura é a autoridade na vida da Igreja.[4]

2.      É uma Doutrina Atestada pelos Apóstolos: O Apóstolo Paulo atesta sobre a autoridade da Palavra de Deus ao declarar que os crentes de Tessalonicenses acataram a verdade por ele pregada, “não como palavras de homens, mas como palavra de Deus”( 1 Tessalonicenses 2.13). E, ainda o Apóstolo Pedro reconhece os escritos de Paulo como escritos cheios da autoridade do próprio Deus, ao colocar as cartas de Paulo no mesmo patamar das “demais Escrituras” (2 Pedro 3.15-16)
3.      É uma doutrina incitada pelo testemunho da Igreja: O testemunho que a igreja tem oferecido  sobre a Palavra de Deus pode nos conduzir satisfatoriamente para a doutrina da autoridade bíblica. Como se dá esse testemunho?
3.1 – Na experiência Apostólica: O apóstolo Pedro fala-nos disso em seu 2ª epístola no capítulo 1.19-21. Ele no começo do texto nos informa que teve uma experiência com o Cristo ressurreto no monte da transfiguração. E termina incitado à igreja que se apegue à palavra profética. E assim, ratifica o conceito autoritativo das Escrituras na vida da Igreja.
3.2 – Na própria suficiência da Palavra de Deus: 2 Timóteo 3.16. A Escritura é útil para:
Ensinar = “διδασκαλίαν ”[didaskalian] – a escritura é a nossa escola.
Repreender = “ἐλεγμόν”{elegmon} – indica que a escritura nos capacita para refutar o erro.
Corrigir = “ἐπανόρθωσιν”[epanorthosin] – aponta para a ideia de colocar na linha, deixar reto.
Educar = “παιδείαν” [paideian] – Treinamento, instrução e disciplina

4.      O Testemunho Interno do Espírito Santo aponta para a autoridade das Escrituras: Não importa a quantidade de evidências que se apresente ao cético ou incrédulo para que creiam na autoridade das Escrituras, a Confissão de Fé de Westminster nos lembra que apenas o Espírito Santo pode oferecer plena certeza da autoridade das Escrituras. Um dos grandes defensores desta verdade foi John Owen, teólogo puritano, que “pressupunha uma afinidade e correspondência diretas entre a mente divina e a mente humana, de forma tal que Deus é capaz de falar conosco por meio de palavras, e nós, dentro dos limites de sua própria auto-revelação, podemos compreendê-lo em nossos pensamentos.”[5] Como isso ocorre?
4.1   – O Espirito Santo Guia a Igreja: O Espírito Santo é quem guia a Igreja na verdade e pela verdade isso nós aprendemos na Palavra de Deus em João 16.13-14. O papel do Espírito Santo não deixar a Igreja na ignorância mas guiá-la pra a luz da verdade do evangelho de Deus. Ele nos capacita a crermos nas Escrituras. Como nos diz Packer citando John Owen: “O Espírito Santo iluminou nossas mentes, produziu em nós a fé, capacitando-nos a crer nas Escrituras”[6]
4.2   O Espírito Santo é Mestre da Igreja: Paulo em 1 Coríntios 2.10-12, um dos objetivos do Espírito Santo que nos foi outorgado [dado] é que venhamos conhecer mais e mais a revelação de Deus nas Escrituras. Este é o ensino cristalino da Palavra de Deus sobre a Autoridade da Sagrada Escritura e relação com o Espírito Santo.
Questionário:
1)      O que significa a palavra Cânon?
2)      Quais critérios foram usados pela igreja para estabelecer o cânon que possuímos?
3)      Segundo a Confissão de Fé de Westminster como devem ser empregados os livros apócrifos? Explique.
4)      Onde repousa a autoridade das Escrituras Sagradas?
5)      A doutrina da autoridade das Escrituras é fruto do fundamentalismo cristão? Justifique sua resposta:
6)      Como a igreja nos incita à crença na autoridade das Escrituras?
7)      Como o Espírito Santo testifica em favor da Autoridade das Escrituras?
8)      Você subscreve as declarações estudadas nestas seções da CFW?




[1] ANGLADA, Paulo R. B. Sola Scriptura – A doutrina Reformada das Escrituras. São Paulo: Os Puritanos, 1998, p.33-34.
[2] COSTA, Herminstem Maia Pereira da. Inspiração e Inerrância das Escrituras. São Paulo: Cultura Cristã, 1998, p.18-19
[3]PACKER, James I. Vocábulos de Deus. São Paulo: FIEL, 2002, p.33.
[4] SCHWERTLEY, Braian. O Modernismo e a Inerrância Bíblica.  Tradutora: Denise Meister. Recife: Os Puritanos, 2000, p.30-31
[5] PACKER, J.I. Entre os Gicantes de Deus – Uma Visão Puritana da Vida Cristã. São Paulo: Editora fiel,1996, p.88.
[6] Ibid, p.100.