domingo, 13 de março de 2016

Exposição em 1ª Coríntios 4.6-13

Exposição Bíblica:
!ª Coríntios:
Rev. João Ricardo Ferreira de França
Texto:
6 Estas coisas, irmãos, apliquei-as figuradamente a mim mesmo e a Apolo, por vossa causa, para que por nosso exemplo aprendais isto: não ultrapasseis o que está escrito; a fim de que ninguém se ensoberbeça a favor de um em detrimento de outro. 7 Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido? 8 Já estais fartos, já estais ricos; chegastes a reinar sem nós; sim, tomara reinásseis para que também nós viéssemos a reinar convosco. 9 Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens. 10 Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós, sábios em Cristo; nós, fracos, e vós, fortes; vós, nobres, e nós, desprezíveis. 11 Até à presente hora, sofremos fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos morada certa, 12 e nos afadigamos, trabalhando com as nossas próprias mãos. Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos, suportamos; 13 quando caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos.
 (1Co 4:6-13 ARA)
Introdução:
            Paulo agora passa aplicar e a exortar com maior severidade a Igreja de corinto por suas práticas partidaristas; e claro, o apóstolo aqui tenciona trazê-los novamente a sobriedade para que eles vivam em uma comunhão saudável para o bem da Igreja. E para tanto, Paulo assegura que tudo que havia dito anteriormente serve para alguns propósitos específicos.
            Por que Paulo exalta tanto o trabalho dos ministros da palavra? Por que o apóstolo nessa passagem dá aos pregadores tanta importância no seio da igreja.
I – OS MINISTROS SÃO MODELOS E EXEMPLOS DO REBANHO. (VS.6ª)
            Aqui o apóstolo Paulo assegura-nos que os pastores são exemplos ou modelos para o rebanho de Deus. Ele nos diz: “Estas coisas, irmãos, apliquei-as figuradamente a mim mesmo e a Apolo, por vossa causa, para que por nosso exemplo aprendais isto: não ultrapasseis o que está escrito; a fim de que ninguém se ensoberbeça a favor de um em detrimento de outro. (1Co 4:6 ARA)”
            Paulo aqui nos assegura que ele e Apolo eram figuras, emblemas ou modelos de serviço a Deus para o bem comum da igreja e não para a divisão. O pronome demonstrativo “Estas” na língua grega “Ταῦτα ” [tauta] que significa “estas coisas” se refere as figuras de “agricultores, edificadores e mordomos” – ou seja, aqui Paulo combate de maneira peremptória a ideia da divisão. Estas figuras Paulo aplica aos apóstolos / pastores da igreja que trabalharam para edificação da igreja, mostrando que eles eram exemplos de vida piedosa que os corintos estavam necessitando.
            Tinha também como finalidade o ensinar algo aqueles crentes. Era que ao formentar divisões dentro da igreja aqueles irmãos estavam ultrapassando a “doutrina de Cristo” ou indo “além do que está escrito”.
            Paulo aplica isso de forma figurativa a ele e a Apolo com o objetivo de ensinar (μάθητε) aos crentes que eles não podem fugir ou ir além da palavra revelada, ou seja, A palavra de Deus não ensina e nem apóia divisões no seio da igreja de Deus. Aqui ao dizer que eles não deveriam ultrapassar o que está escrito (γέγραπται) ele está ressaltando a autoridade absoluta das Escrituras para a vida da Igreja, ou seja, a Bíblia é a nossa única regra de fé que pode nos instruir como nos comportarmos na vida da igreja. Então, quando eu tento semear a contenda e a divisão na igreja de Deus, eu simplesmente estou ultrapassando aquilo que está escrito.
            A implicação disso é que os pastores devem ser modelos a ponto de preservarem a unidade da Igreja por meio da Palavra de Cristo Jesus. Eles são agricultores, dispenseiros e mordomos na casa de Deus para que a mesma viva unidade diante de Deus.
II – O ORGULHO NÃO DEVE FAZER PARTE DO CARÁTER CRISTÃO (VS 6b-7):
            Ainda no verso 6 e 7 deste capítulo Paulo apresenta um segunda finalidade para o seu tom exortativo na presente carta. Paulo diz que o seu exemplo juntamente com Apolo tem também como o objetivo combater o orgulho dos coríntios: “a fim de que ninguém se ensoberbeça a favor de um em detrimento de outro.  7 Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido? (1Co 4:6-7 ARA)”
            Paulo revela-nos que o  fato de alguns criarem partidos dentro da igreja não compreenderam a simplicidade dos ministros da palavra que cooperavam para o crescimento saudável e harmonioso na igreja. E assim, uma vez que havia preferência de pastores havia muito rancor no seio da igreja. Pois, no verso seis a expressão “a favor de um em detrimento de outro” no grego “εἷς ὑπὲρ τοῦ ἑνὸς φυσιοῦσθε κατὰ τοῦ ἑτέρου. (1Co 4:6 BYZ)” [eis hyper tou henos fysiousthe kata tou heterou] pode ser traduzido da seguinte forma: “a cada favor de um e contra o outro”.
            Ou seja, os crentes preferiam um pastor e se colocavam contra o outro, e assim, estava a igreja dividida. A soberba é algo tão desdenhoso que o apóstolo no verso 7 declara: “Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido? (1Co 4:7 ARA)”
            Paulo assegura que aqueles que são orgulhosos não tem motivo para serem assim, porque em nada são diferentes dos demais, pois, todos tem recebido de Deus a sua porção cabível, e quando se ostentam comportam-se como se nunca tivessem recebido alguma coisa da parte de Deus, a instrução e o ensino dos ministros da palavra chegaram até eles, e estes crentes não deveriam criar preferências – pois, tanto Paulo, como Apolo e Cefas foram servos por meio dos quais a graça de Deus havia chegado até eles.
III - A AUTO-SUFICIÊNCIA ESPIRITUAL GERA O DECLÍNIO DA IGREJA (VS.8-13).
            A terceira verdade que precisamos considerar é que a Igreja de Corinto estava em um declínio espiritual por causa de sua auto-suficiência.
 8 Já estais fartos, já estais ricos; chegastes a reinar sem nós; sim, tomara reinásseis para que também nós viéssemos a reinar convosco. 9 Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens. 10 Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós, sábios em Cristo; nós, fracos, e vós, fortes; vós, nobres, e nós, desprezíveis. 11 Até à presente hora, sofremos fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos morada certa, 12 e nos afadigamos, trabalhando com as nossas próprias mãos. Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos, suportamos; 13 quando caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos.
            Paulo agora usa de um recurso chamado de ironia, em seu tom irônico Paulo começa a condenar a auto-suficiência daquela igreja. Quando diz no verso 8: “ Já estais fartos, já estais ricos; chegastes a reinar sem nós; sim, tomara reinásseis para que também nós viéssemos a reinar convosco.”
            A expressão “já estais fartos” no grego é uma única palavra “κεκορεσμένοι ” [kekoresmenoi] é uma palavra usada para ser satisfeito de alimento, ter o suficiente. Ou seja, é como se Paulo dissesse: “vocês pensam que tem toda a comida espiritual de que necessitam”. Ou seja, vocês acham que não precisam de pastores para cuidar da vida espiritual de vocês! Acham que  podem cuidar da alma sozinhos, que não precisam da instrução bíblica, de aconselhamento, de doutrina. Vocês já estão fartos espiritualmente.
            Paulo mostra sua indignação que sente por estes crentes desprezarem seu pastorado e seu apostolado na igreja. E, então ele fala que este grupo chegou a reinar sem ele e os demais ministros da palavra. Expressa um desejo que isso fosse uma realidade, entretanto, a interjeição “tomara” no grego “ὄφελόν ” [ofelon] gramaticalmente aponta para a impossibilidade do cumprimento desse reinar sem os ministros da palavra.
            Nos versos seguintes o apóstolo revela-nos os riscos que passara para o bem estar do rebanho de Deus que se julga auto-suficiente espiritualmente. Ele passa a pintar em cores dramáticas os perigos que enfrentara para pastorear aquela igreja e as demais que estavam sob sua tutela.
“Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens. (1Co 4:9 ARA)”
            Ainda de forma irônica Paulo revela que a igreja o tem tratado com desprezo, pois, sabemos que na hierarquia da dons dado a igreja e primeiro lugar está o apostolado, entretanto, parece que o sofrimento deles os tem relegados ao ultimo lugar na igreja. Alguns termos aqui são dramáticos, quando diz que ele os demais apóstolos foram colocados como que condenados a morte “ἀπέδειξεν ὡς ἐπιθανατίους (1Co 4:9 WHO)” o termo grego “ἀπέδειξεν”{apedeixen} era usado na cultura da época para apresentar diante das arenas aqueles que seriam condenados a morte naquele momento; como se daria aquela morte? Ela seria “um espetáculo” conforme vemos no grego “θέατρον (1Co 4:9 WHO)” [theatron] era um teatro para o mundo, era um show matar os pastores! Para o mundo era natural matar os ministros da Palavra, era simplesmente engraçado desprezá-los.
            E a igreja estava fazendo o mesmo com os seus ministros, e a igreja tem feito o mesmo com seus pastores na atualidade! Paulo mais uma vez usa cores fortes agora para mostrar a intensidade do  desprezo:
10 Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós, sábios em Cristo; nós, fracos, e vós, fortes; vós, nobres, e nós, desprezíveis. 11 Até à presente hora, sofremos fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos morada certa,  12 e nos afadigamos, trabalhando com as nossas próprias mãos. Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos, suportamos; 13 quando caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos.
 (1Co 4:10-13 ARA)
            A igreja era sábia, tinha o padrão de ser uma igreja esclarecida, mas o seu pastor era tido como louco, por pregar a sabedoria de Cristo. Ele era fraco, mas os crentes da igreja fortalecidos na verdade do evangelho. Tudo o que Paulo é menor grau a igreja era superior, ou seja, Paulo ironiza a atitude da igreja em desprezá-lo por causa da auto-suficiência que nutriam.
            Nos versos seguintes o apóstolo apresenta as suas circunstâncias pessoais, revelando as privações que um ministro da palavra está sujeito por amor a obra do Senhor. Ou seja, muitas vezes o ministro não tem o alimento cotidiano, é perseguido e maltratado.
            No verso 12 Paulo revela que houve até necessidade de trabalhar para suprir suas necessidades porque aquela igreja, toda suficiente em si mesma, desprezavam o seu pastor não sustentando-o financeiramente, antes ele fora motivo de injúria e calúnia; e, como ministro do evangelho se via obrigado a bendizer aqueles que queriam devotar-lhe só calúnia e injúria.
            E concluí no verso 13 – dizendo que todos os ministros são alvos de calunias, mas que devem sempre buscar a conciliação, e mesmo assim, tudo que ocorre de errado recai sobre eles, pois, este é o sentido aqui da expressão “temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos.”