sexta-feira, 3 de agosto de 2018

A IMPORTÂNCIA DO ANTIGO TESTAMENTO


A IMPORTÂNCIA DO ANTIGO TESTAMENTO HOJE.
Rev. João França.*

Introdução:
            Nos dias hodiernos temos presenciado uma espécie de rejeição ao Antigo Testamento. Especialmente quando procuramos em nossas listagens de sermões (se por acaso tenhamos alguma) quantos nós pregamos no Antigo Testamento, iremos observar o quanto o negligenciamos!
            Por que há tanta negligência neste particular? Uma das respostas a ser oferecidas trata-se da distância cultural entre o texto do Antigo Testamento e a nossa cultura atual. Richard Pratt jr, declara:
[...]nosso tempo é diferente do mundo do Antigo Testamento. Os avanços tecnológicos criam um distanciamento. Não usamos carruagens e espadas; usamos misseis nucleares  e sistemas de defesa por satélite. Sociologicamente, não somos doze tribos vivendo na Palestina; somos inúmeros congregações por todo o mundo. Até mesmo o caráter sobrenatural de muitos acontecimentos fazem com que pareçam distantes de nós. Os evangélicos creem que os milagres relatados na Bíblia ocorreram de fato. O machado de ferro de Eliseu literalmente boiou na água (2º Reis 6.1-7); fogo do céu realmente caiu  sobre o sacrifício de Salomão no Templo (2º Crônicas 7.1)[1]  
            A importância deste texto Antigo se revela na necessidade que temos de compreender as verdades do Novo Testamento a luz do Antigo; esse pressuposição é básica pra a compreensão da mensagem e relevância do texto veterotestamentário. Walter C. Kaiser Jr nos lembra que é chegado “o momento de uma nova avaliação das nossas razões para evitar esta seção da Bíblia. Juntamente com um argumento favorável a procurar no Antigo Testamento as respostas para as questões contemporâneas...”[2]  É precisamente esta avaliação supramenciona por Kaiser que precisamos encarar, se acreditamos na unidade entre os testamentos, se cremos que a primeira parte das Escrituras se reveste de plena autoridade de igual modo a segunda parte.
A importância de se estudar o Antigo Testamento está no fato de que o mesmo é a fonte de revelação pactual para o povo de Deus. Aquilo que é dito sobre a totalidade das Escrituras se aplica de modo peculiar ao Velho Testamento, nas palavras de van Groaningen:
O registro escrito contém uma variedade de gêneros literários. experiências são registradas de um modo jornalístico. A maior parte do registro consiste de eventos históricos descritos, avaliados, interpretados, vários tipos de material legal, pronunciamentos proféticos, admoestações em forma de sermão, diálogos hinos e orações. Mas incluídas em tudo isto, explícita ou implicitamente, estão as comunicações verbais de Deus. Tais comunicações são  fonte de unidade, harmonia, significado, propósito e valor do registro escrito.[3]
.Então, essa singela consideração já por si mesma suficiente para nos apresentar a suficiência e a importância do Antigo Testamento para os nossos dias. Reconhecer o caráter revelacional do Velho Testamento é fundamental para a prática da exegese saudável. Juan F. Martínez apresenta uma avaliação com perspicácia singular:
Para muitos cristãos o Antigo Testamento (AT) é algo assim como o apêndice do corpo humano. Se suspeita que em algum tempo passado teve certa importância, porém, no dia de hoje a sua utilidade é marginal. A parte de alguns salmos e uma série de histórias e biografias, o AT tende a ser um livro fechado para a margem da vida da igreja.[...] Porém se temos de “desmarginalizar” o AT, é vital entender a importância de sua mensagem para a vida e ensino da igreja. [4]
Walter C. kaiser Jr, nos apresenta algumas razões importantes pelas quais devemos considerar a importância do texto veterotestamentário. Alegando que o próprio texto sagrado sai em sua própria defesa[5], e apresenta de forma bem lacônica tal defesa:
1.      O Antigo Testamento é a Poderosa Palavra de Deus: Kaiser argumenta que a primeira seção da Bíblia está além de ser uma mera palavra de mortais escrita para a humanidade, o livro sagrado possui uma variedade de estilos, revelando a individualidade, dons e talentos dos escritores, mas ressalta que a “preparação dos autores foi uma obra de Deus” e que a mensagem registrada resulta da revelação de Deus. Argumentando que a vocação profética pode-se dá desde o ventre (Jr. 1.4-5) ou pode ser tardia (Is.1-5), a insistência dos autores em afirmar que recebiam uma revelação de Deus e que deveriam ser distinguidas de suas própria palavras, norteiam a maneira como estudar a revelação divina no Antigo testamento (Jr. 23.28,29), Kaiser argumenta que nenhum cristão do Novo Testamento, incluindo o apóstolo Paulo aceitaria uma diminuição do Antigo testamento, e ressalta a importância do mesmo ao escrever sobre sua suficiência em termos tão majestosos (2ª Tim 3.16-17)[6]
2.      O Antigo Testamento nos leva a Jesus, o Messias: Combatendo a ideia dispensacionalista (a ruptura entre o Antigo e Novo Testamento) Kaiser nos diz que tal ruptura traz em seu bojo um dos resultados mais trágicos na história do povo pactual. Pois, sugere que no Antigo Testamento não há nada de messiânico a ser buscado, a ser estudado, na verdade o Novo Testamento fica sem sentido completamente. Walter Kaiser argumenta  que o conceito messiânico está no âmago da mensagem do Antigo Testamento onde há aproximadamente 456 textos veterotestamentários que fazem alusão direta ao Messias. E segue argumento em prol da defesa de que o Velho Testamento aponta para Cristo desde o pentecostes (Atos 2.16-36) e textos relacionados como Joel 2.28-31; e o salmo 16, 110, eles são claramente apresentados no Novo Testamento como messiânicos e aplicados a Cristo, e a conclusão inescapável é que o Antigo Testamento conduz os homens a Cristo, pois, o Antigo Testamento fala de Jesus (Jo. 5.39)[7]
3.      O Antigo Testamento trata das questões da vida: Acredito que boa parte da negação da importância do Antigo Testamento está naquilo que chamamos da “Ditadura da relevância”! O Velho Testamento parece ser um texto muito distante e não tem nada a dizer à nossa cultura atual. Kaiser mais uma vez fala dessa relevância. Revelando que o escopo do Antigo Testamento “sobre grandes questões da vida é extremamente amplo e assombroso no seu aspecto prático”, então, ele ilustra isso de forma interessante; como, as questões ecológicas e da dignidade humana expressa nos primeiros capítulos de Gênesis (1-11); sobre as relações intimas e conjugais expressas em Cantares de Salomão, e “uma teologia da cultura, no livro de Eclesiastes”. As leis morais e o valor da vida humana conforme ensinada no Antigo Testamento mostram a sua relevância para hoje é singular.[8]
4.      O Antigo Testamento foi usado como a Autoridade Exclusiva na Igreja Primitiva: Esta argumentação é magnânima. A ênfase ao termo “Está escrito” e a palavra “Escritura” foi amplamente usado nos dias da Igreja Primitiva. o termo grego “gra,fh” [grafê] e o seu correlato “gra,fai”[grafai] na maioria de suas ocorrências no Novo Testamento se faz alusão ou referência ao Antigo Testamento. O Cristo ressurreto fundamenta todo seus sofrimento e glorificação nas Escrituras do Antigo Testamento ( Lucas 24.25-26).[9]
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
      O Antigo Testamento é importante para a igreja Cristã porque sua mensagem é como um alicerce no qual toda a teologia das Escrituras é construída; sem ele a mensagem redentiva não encontra sentido é justificativa.
      O Antigo Testamento é relevante para nós hoje porque o Apóstolo Paulo assegura esta verdade em Romanos 15.4: “pois, tudo quanto, outrora foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança
      O argumento de Paulo é claro, que o Antigo Testamento é suficiente em matéria de doutrina e vida! Todo ensino (conhecimento, compreensão) que a igreja cristã possui é derivado e oriundo do Antigo Testamento. Todo conforto e consolo que a igreja neotestamentária precisa encontra-se no Velho Testamento, nele somos consolados e instruídos, no livro dos Salmos, por exemplo, somos confortados; e, em Provérbios somos instruídos na sabedoria; só para termos alguns exemplos do Antigo Testamento.





* O autor é Ministro da Palavra e dos Sacramentos pela Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB). Fundador do Centro de Estudos Presbiteriano. Atualmente é professor de Línguas Bíblicas (Hebraico e Grego) e de exegese (Antigo e Novo Testamento) no Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil – Patos – PB.; Mestrando em Teologia pelo Instituto Bereano de Teologia  (IBETEO) – Brumado –BA. É professor de Filosofia e Ética na Faculdade Regional de Riachão do Jacuípe – BA (FARJ). É casado em tem uma casal de filhos.
[1] PRATT JR, Richard. Ele nos deu História – Um Guia  Completo para Interpretação das Histórias do Antigo Testamento,  São Paulo: 2004, p. 358.
[2] KAISER JR, Walter C. Pregando e Ensinando a Partir do Antigo Testamento – Um Guia para a Igreja. Tradução: Degmar Ribas. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p.21.
[3] GRONINGEN, Gerard van. Revelação Messiânica no Antigo Testamento. Tradutor: Cláudio Wagner. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 54-55.
[4] MARTÍNEZ, Juan F. A Mensagem do Antigo Testamento para a Igreja de Hoje. Tradutor: João Ricardo Ferreira de França. São Raimundo Nonato – PI: Centro de  Estudos Presbiteriano, 2010, p. 5.
[5] KAISER JR, Walter C. Pregando e Ensinando a Partir do Antigo Testamento – Um Guia para a Igreja. Tradução: Degmar Ribas. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p.22
[6] ibid,p.22-27.
[7] Ibid, p.27-30.
[8] Ibid, p. 30-31
[9] Ibid, 31-33.