quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

O PACTO DE DEUS COM O HOMEM

ESTUDO NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER
Capítulo 7 – Do Pacto de Deus com o Homem
Rev. João Ricardo Ferreira de França.
INTRODUÇÃO:
            A doutrina do pacto é importante para a igreja cristã. Ela ensina que Deus antes de todos os tempos planejou uma forma de salvar o homem que havia caído no pecado, conforme estudamos no capítulo 6 da Confissão de Fé de Westmisnter; e o meio pelo qual Deus provê a redenção e o resgate da comunhão com ele é através da relação pactual.
I –  O QUE É PACTO?
O vocábulo “Pacto”. Sproul nos lembra que o “conceito de pacto é de vital importância para nosso entendimento do Cristianismo bíblico”.[1] Um definição que podemos oferecer, a partir do vocábulo hebraico berith, é que pacto “é uma relação que envolve ‘juramentos e obrigações’ e  compromissos mútuos, embora não necessariamente iguais”.[2] Robertson diz: “Em seu aspecto mais essencial, aliança é aquilo que une pessoas. Nada está mais perto do coração do conceito bíblico de aliança do que a imagem de um laço inviolável.[3]Louis Berkhof oferece a seguinte definição para aliança ou pacto:
A palavra berith pode indicar um acordo mútuo voluntário (diplêurico), mas também uma disposição ou um arranjo imposto por uma parte a outra (monoplêurico). Seu sentido exato não depende da etimologia da palavra, nem do desenvolvimento histórico do conceito, mas, simplesmente das partes interessadas.[4]
Robertson reforça esta definição “Aliança é um pacto de sangue soberanamente administrado.”[5] Entre os puritanos era comum entender a aliança como uma referência a “promessa, estipulações e obrigações mútuas entre duas partes”[6] E Van Deursen nos lembra que o “Pacto de Deus é  a base no qual se fundamenta nossa vida, e a atmosfera em que respiramos”.[7]
II – A NECESSIDADE DE PACTO (Seção I):
I. Tão grande é a distância entre Deus e a criatura, que, embora as criaturas racionais lhe devam  obediência a Ele como seu Criador, nunca poderiam fruir nada Dele como bem-aventurança e recompensa, senão por alguma voluntária condescendência da parte de Deus, a qual Ele se agradou expressar por meio de um pacto

Os teólogos de Westminster compreenderam que existe uma distância moral e relacional. A distância moral se dá devido ao homem tem caído em pecado, mas também há uma distância na relação de Deus com o homem, esta distância se expressa no relacionamento entre Criador e criatura.
1.      A distância entre o Criador e a Criatura:
Nesta seção nós aprendemos que existe essa distância substanciosa a confissão nos oferece o texto de Isaías 40.13-17 como prova para esta distância:
13 Quem guiou o Espírito do SENHOR? Ou, como seu conselheiro, o ensinou? 14 Com quem tomou ele conselho, para que lhe desse compreensão? Quem o instruiu na vereda do juízo, e lhe ensinou sabedoria, e lhe mostrou o caminho de entendimento? 15 Eis que as nações são consideradas por ele como um pingo que cai de um balde e como um grão de pó na balança; as ilhas são como pó fino que se levanta.16 Nem todo o Líbano basta para queimar, nem os seus animais, para um holocausto.17 Todas as nações são perante ele como coisa que não é nada; ele as considera menos do que nada, como um vácuo.

2.      A condescendência do Criador:
A CFW na nos ensina que a despeito desta distância aprove ao Criador (Deus) misericordiosamente condescender até o homem. Deus veio ao homem. Deve-se ressaltar que tal condescendência divina é pré-lapsariana conforme encontra-se em Gênesis 2.16-17: “E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.
Deus se pactua com homem com o objetivo de diminuir a distância existência entre o Criador e a criatura. O fato de Deus outorgar a lei moral a Adão equivale a estabelecer, ainda que implicitamente, “uma aliança”, pois, esta lei foi dada no coração do home (Romanos 2.14-15), e no capítulo 2 de Gênesis temos de fato “a forma da aliança”[8]
No livro dos Salmos 113.5-8 nos mostra essa condescendência de Deus em favor do homem pecador:
Quem há semelhante ao SENHOR, nosso Deus, cujo trono está nas alturas, que se inclina para ver o que se passa no céu e sobre a terra? Ele ergue do pó o desvalido e do monturo, o necessitado, para o assentar ao lado dos príncipes, sim, com os príncipes do seu povo.
Deus é o único que vem em direção dos homens, o ato de se inclinar indica que Deus se preocupa com as coisas dos homens.
3.      O Relacionamento entre Deus e o Homem se expressa por meio de um Pacto:
A terceira verdade que esta seção da CFW nos ensina é que essa condescendência divina se dá a conhecer por meio “de um pacto”. Na realidade há aqueles que sustentam que em Adão não encontramos pacto algum! A Escritura é muito clara ao tratar desta questão, ainda que o termo pacto não apareça, aprendemos pela Escritura em Oséias 6.7 que havia um pacto no Éden. Pois, o profeta “proclamou que Israel, como Adão, tinha quebrado o pacto porque tinha sido infiel a Yahweh”.[9]
III – ADÃO E O PACTO (Seção II)
II. O primeiro pacto feito com o homem era um pacto de obras (Gl 3:12) no qual a vida foi prometida a Adão e nele à sua posteridade (Rm 10:5; Rm 5:12-20) sob a condição de perfeita obediência pessoal (Gn 2:17; Gl 3:10).
Na segunda seção deste capítulo da CFW somos introduzidos ao pacto das obras. Algumas pessoas ao ler essa declaração da Confissão “o primeiro pacto feito com o home era um pacto de obras...” entende que aqui se faz referência a uma salvação por meio do esforço de Adão. Isto suscita outro debate ainda gigantesco no que tange a recompensa prometida no pacto: o céu ou a terra?  Seria o céu o vida continuada no jardim?[10]Há aqueles que temem usar o vocábulo “Pacto de obras” e usam a nomenclatura de “pacto de vida”. Turrentini sustenta que Adão recebeu “a promessa da vida eterna e celestial de modo que (uma vez terminado seu curso de obediência) ele seria conduzido ao céu”.[11]Nesta seção nós aprendemos:
1.      Que este pacto envolvia uma promessa de vida.
Este tem sido o ensino da teologia bíblica da Reforma. É o que nos ensina Gálatas 3.12. O pacto que Deus fez com Adão no Jardim do Éden envolvia a vida, como também envolvia a morte, são elementos fundamentais no estabelecimento de um pacto.
2.      Que esta vida foi prometida a Adão e a toda sua Descendência:
Todos os descendentes de Adão receberam juntamente com ele a promessa da vida, esta vida poderia ser a vida eterna ou mesmo a confirmação eterna no estado de graça. Em Romanos 10.5 e Romanos 5.12-20 vemos isso de forma clara , estávamos e estamos tão intimamente ligados a Adão que a Promessa de vida que ele recebeu era também promessa para nós que descendemos dele.
3.      Que este pacto exigia uma perfeita obediência à lei pactual.
Este é o último aspecto a ser analisado na segunda seção de nossa Confissão, este pacto que Deus fez com Adão exigia que ele tivesse uma perfeita obediência à lei de Deus. Isto é bem claro nos textos como tais: Gênesis 2.17; Gálatas 3.10.






[1] SPROUL, R.C. Everyone’s A Theologian – An Introduction to Systematic Theology. Orlando: Reformation Trust. 2014, p.105
[2] HORTON, Michael. Introducing Covenant Theology . Grand Rapids: Baker Books, 2009, p.10
[3] ROBERTSON, O. PALMER. O Cristo dos Pactos. Tradução: Amério J. Ribeiro. Campinas - SP: Luz para o Caminho, 1997, p.8
[4] BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Tradução: Odayr Olivetti., Campinas: Cultura Cristã, 2980 p.256
[5] ROBERTSON, O. PALMER. O Cristo dos Pactos. Tradução: Amério J. Ribeiro. Campinas - SP: Luz para o Caminho, 1997, p.8
[6] BEEKE, Joel R.; JONES, Mark. Teologia Puritana – Doutrina para a Vida. São Paulo: Vida Nova 2016, p. 330.
[7] VAN DEURSEN, Frans. El Pacto de Dios. Barcelona: Felire, 1994, p.3.
[8] Veja-se BEEKE, Joel R.; JONES, Mark. Teologia Puritana – Doutrina para a Vida. São Paulo: Vida Nova , 2016, p. 335.
[9] GRONINGEN, Gerard Van. Criação e Consumação – O Reino, a Aliança e o Mediador – Volume I. Tradução: Denise Meister. São Paulo: 2002, p.89.
[10] BEEKE, Joel R.; JONES, Mark. Teologia Puritana – Doutrina para a Vida. São Paulo: Vida Nova, 2016, p. 342.
[11] TURRETIN, Francis. Compêndio de Teologia  Apologética - 8.6.1. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, , p.727.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER - DA JUSTIFICAÇÃO

Estudos na Confissão de Fé de Westminster.
Rev. João Ricardo Ferreira de França.
DA JUSTIFICAÇÃO. – CAPÍTULO 11.1
Introdução:  Em nossos dias a doutrina da tornou-se algo irrelevante. Parece que ouvimos os mesmos lemas do passado. “Nenhum credo, somente Cristo”. Alguns crentes chegam a dizer: “Não precisamos viver, por nenhum dogma! Abaixo os dogmas, e chega das doutrinas! Uma rejeição total das Doutrinas, dos dogmas da Igreja.  Esta é uma das explicações porque a igreja cristã é tão superficial em levar o evangelho aos perdidos. A igreja tem abandonado  a própria fé.
         Isso nos faz lembrar as palavras de Gordon H. Clarck ao dizer que “alguns [dos jovens] dormem durante o sermão. Entre eles há os que repudiam a teologia [...] outro seguimento diz: ‘Nenhum credo, mas Cristo’”.[1] Precisamos entender que o Cristianismo é marcado por doutrinas.
         Hoje nós iniciaremos os nossos estudos nesta grandiosa doutrina que é a justificação pela fé somente. Doutrina que estando presente na vida da Igreja a torna de Pé, mas que quando ausente a igreja cai. Vejamos o que a Confissão de Fé diz sobre a Justificação:
I. Os que Deus chama eficazmente, também livremente justifica. Esta justificação não consiste em Deus infundir neles a justiça, mas em perdoar os seus pecados e em considerar e aceitar as suas pessoas como justas. Deus não os justifica em razão de qualquer coisa neles operada ou por eles feita, mas somente em consideração da obra de Cristo; não lhes imputando como justiça a própria fé, o ato de crer ou qualquer outro ato de obediência evangélica, mas imputando-lhes a obediência e a satisfação de Cristo, quando eles o recebem e se firmam nele pela fé, que não têm de si mesmos, mas que é dom de Deus.[2]
I – A JUSTIFICAÇÃO COMO ATO DA LIVRE GRAÇA DE DEUS.
         O Catecismo Maior de Westminster define-nos a doutrina da Justificação como “um ato da livre graça de Deus” – a observar esta definição que vemos em nossa Confissão de Fé percebemos que esta doutrina fala de algo que ocorreu fora de nós. isso é ressaltado na Palavra de Deus em Romanos 3.22-25. Este ato da graça de Deus envolve todas as pessoas da Santíssima Trindade. Vejamos:
1.1 – É idealizada pelo Pai: Como um ato da livre graça de Deus o pai planeja como a justificação será realizada.  Ela se mostra ser um ato livre desta graça divina pelo fato de Deus o Pai ter aceito “a satisfação  de um fiador”[3] sendo Cristo “ o único Filho de Deus, Pai” nos foi dado gratuitamente como nosso redentor conforme vemos em João 3.16 – o Filho é doado pelo Pai aos pecadores. Exatamente isso aprendemos em Efésios 2.6-9.
1.2 É Possibilitada pela obra de Cristo: a Justificação somente é possível por causa da obra de Cristo no calvário; o sacrifício de Cristo naquela cruz torna esta verdade uma possibilidade singular (Romanos 3.24; 4.24,25)
1.3  - A justificação é efetivada na vida cristã pela ação do Espírito Santo: A palavra de Deus nos ensina que apenas o Espírito Santo pode de forma clara e evidente aplicar a obra da redenção no coração do eleito de Deus. (Romanos 5.5; Tt. 3.4-7).

II – A JUSTIFICAÇÃO É DESTINADA AQUELES QUE FORAM CHAMADOS EFICAZMENTE.
         A Confissão de Fé declara que somente o que são chamados somente estes Deus “livremente os justifica”. É exatamente isso que aprendemos na Palavra de Deus em Romanos 8.30. Deus ele chama e justiça os pecadores eleitos por Ele. Ora, como é lógico. Vimos na vocação eficaz que somente os eleitos podem ser regenerados isso implica que estes eleitos hão de ser declarados não culpados diante de Deus ( o que chamamos de justificação ).
         Somente aqueles que foram alvos do chamado interno, produzido pelo Espírito Santo, podem ser declarados justos. Isso porque somente os regenerados estão em paz com Deus e nenhuma condenação pesa contra eles (Romanos 5.1; 8.1)
III – OS DOIS ASPECTOS DA JUSTIFICAÇÃO.
         Ao estudarmos este assunto precisamos esclarecer o duplo aspecto desta doutrina. O aspecto negativo e o positivo.
3.1 – O Aspecto Negativo da Justificação: Necessitamos compreender o que a justificação não é. A Confissão de Fé nos diz que a esta doutrina não consiste “em Deus infundir neles a justiça”. Isso significa que na justificação que Deus não nos torna perfeitos ou sem pecados, ou seja, não é uma justificação infusa ( 1Co.5.19-21).
3.2 – O Aspecto Positivo da Justificação: Este ponto implica no fato do que realmente consiste a justificação:
a) “em perdoar os pecados dos eleitos”: é na declaração divina de não culpado que o homem vive o pleno perdão dos pecados. (Efésios 1.7)
b) “em aceitá-los como justas diante dele”: todos os eleitos são pecadores e culpados, mas diante do ato da justificação o homem eleito pode ser aceito diante de Deus como justo, na verdade, Deus os aceitas como se nunca tivessem feito crime algum contra a sua santidade. Deus passa a ser a justiça do eleito (Jeremias 23.6; 1 Co.10.30).
IV– A JUSTIFICAÇÃO NÃO DEPENDE DO ESFORÇO HUMANO.
         Os teólogos de Westminster declaram que “Deus não os justifica em razão de qualquer coisa neles operada ou por eles feita” – em nosso tempo as pessoas sustentam o fato de que a justificação dependente do esforço individual para serem aceitos diante de Deus. Todavia, a Palavra de Deus nos ensina que este ato de Deus não é fruto das boas obras que praticamos (Tt.3.5-7).
V – A JUSTIFICAÇÃO É A IMPUTAÇÃO DA SATISFAÇÃO DA OBRA DE CRISTO NA VIDA DO ELEITO.
         Justificação implica na imputação da obra de Cristo na vida dos eleitos. Os pecadores somente são aceitos diante de Deus tendo em consideração a obra vicária de Cristo.
         E somente a imputação da justiça de Cristo na vida dos eleitos; a imputação significar “lançar na conta do outro”, ou seja, a nossa conta estava lotada de dívida, não tínhamos como pagar, como sanar  a nossa divida com Deus; Mas Cristo mediante a morte de Crist no calvário, aquela justiça conquistada por Cristo por meio de sua obediência à Lei, é a nós conferida.
         Isso tudo é fruto da graça livre de Deus. E por causa disso Cristo nos é apresentado como a nossa vida (Fp.1.20-21)






[1] CLARCK, Gordon H. Em Defesa da Teologia. Tradução: Marcos Vasconcelos. Brasília: Editora Monergismo, 2010,  p. 18.
[2] Ref. Rom. 8:30 e 3:24, 27-28; II Cor. 5:19, 21; Tito 3:5-7; Ef. 1:7; Jer. 23:6; João 1:12 e 6:44-45; At. 10:43-44; Fil. 1:20; Ef. 2:8.
[3] Catecismo Maior de Westminster  resposta à pergunta 71.