quinta-feira, 29 de junho de 2023

O Cânon e a Autoridade das Escrituras

 

O Cânon e a Autoridade das Escrituras

Rev. João França

Introdução:

            Neste estudo estaremos estudando um tema de capital importância para o resgate de nossa identidade confessional se faz necessário conhecermos a formação da Revelação Especial de Deus; esta formação nós chamamos de Cânon, que por sua vez, indica o nosso padrão de crença; em outras palavras a Escritura Sagrada é Cânon de nossa fé e dentro desse processo lidamos também com o tema da autoridade das Escrituras Sagradas.

I – A DOUTRINA DO CÂNON CONSIDERADA (CFW.I, 3)

1.     A Definição do Cânon:

A palavra “cânon” é uma mera transliteração do termo grego “kanw,nkanôn – que significa vara reta, régua, regra. É uma palavra usada com referência para indicar a autoridade suprema da Bíblia sobre a vida dos cristãos. Ou seja, refere-se aos livros que compõem a Bíblia conforme conhecemos.[1] Uma definição mais lexical nos informa que a origem da palavra “cânon” é derivada

de uma raiz semítica [assírio Qanû; ugarítico:Qn; hebraico: hn<q;)( (Qâneh) ocorre 61 vezes no Antigo Testamento e é sempre empregada no sentido literal (veja-se 1 Rs 14.15; Jó 40.21; Is 36.6; 42.3; Ez 40.3,5,7), significando ‘cana’ (planta que era usada para medir e pautar) “balança” (Is.46.6) e também ‘a cana para trançar os cestos, ou bastão reto[2]

Esta palavra “Cânon” indica a nossa regra, o nosso limite e ainda mais, o nosso padrão; sendo todos estes sentidos aplicados à Palavra de Deus. Os que formam a Bíblia, exceto os livros apócrifos são a regra de nossa fé, o padrão que devemos sempre seguir.

 

2.     Critérios para a Canonicidade Bíblica:

Como saber se os livros que temos em nossa Bíblia são de fato os livros que comunicam a revelação de Deus. Quais critérios a Igreja usou para reconhecer os livros que traziam a revelação divina?

2.1  Critério da Apostolicidade: Se um livro fosse escrito por um apóstolo, ou alguém ligado ao apóstolo deveria ser tido e incluído na lista dos livros canônicos. P.e – O Evangelho de Marcos estava ligado a pregação de Pedro.

2.2   - Critério da Leitura Eclesiástica: Se um livro ou carta fosse lida pela maioria das igrejas deveria ser incluído como um livro canônico, a prática da leitura eclesiástica remonta-se ao período apostólico (Colossenses 4.16 e em 1 Timóteo 4.13).

2.3   - Critério da Harmonia Doutrinária: Nem livro ou epístola poderia contradizer os ensinos apostólicos já estabelecidos na igreja, se ocorresse tal contradição o livro deveria ser considerado como um livro sem assinatura ou apócrifo; pois, um livro apócrifo não tem autoridade na igreja de Deus porque contradiz doutrinas bíblicas importantes.

II – A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS (CFW. I.4,5)

            Uma vez que o Cânon é formado, logicamente seu conteúdo se torna autoridade na vida da Igreja de Cristo Jesus. Vale lembrar que a autoridade das Escrituras “repousa na inspiração”[3] o registro da revelação de Deus confere a autoridade à Palavra de Deus. O que Esta doutrina significa? Significa que toda a Palavra de Deus conforme está registrada é inerrante, e, não possui erros em nada do que se propõe dizer e ensinar, por isso, deve ser aceita como autoridade suprema na vida e no culto do povo de Deus.

1.     É uma Doutrina Atestada por Cristo: Em qualquer controvérsia ele usava a expressão “está escrito” indicando que a palavra final deve ser dada a Palavra inspirada por Deus. (Mateus 4. 4,6,710) Cristo ao usar a expressão “está escrito” usa um verbo grego “ge,graptai” – gégraptai –é um verbo no perfeito que indica uma ação contínua, significando “permanece escrito”, então, o Senhor Jesus está apelando para a autoridade da Bíblia como fonte autorizada da verdade. ”; todavia, o texto que podemos ver claramente a defesa da autoridade bíblica provinda dos lábios de Cristo é aquele de João 10.35: “E a Escritura não pode falhar”.

No texto de João 10. 35 nos chama a atenção o verbo “falhar” no grego temos “luqh/nai”- lythênai – é um verbo usado para descrever a quebra do sábado (Lucas 13.16), a ideia é de quebrar, ser quebrada, ou mesmo de ser diminuída a sua importância e valor. Cristo diz que toda a Escritura é a autoridade na vida da Igreja.[4]

 

2.     É uma Doutrina Atestada pelos Apóstolos: O Apóstolo Paulo atesta sobre a autoridade da Palavra de Deus ao declarar que os crentes de Tessalonicenses acataram a verdade por ele pregada, “não como palavras de homens, mas como palavra de Deus”( 1 Tessalonicenses 2.13). E, ainda o Apóstolo Pedro reconhece os escritos de Paulo como escritos cheios da autoridade do próprio Deus, ao colocar as cartas de Paulo no mesmo patamar das “demais Escrituras” (2 Pedro 3.15-16)

3.     É uma doutrina incitada pelo testemunho da Igreja: O testemunho que a igreja tem oferecido  sobre a Palavra de Deus pode nos conduzir satisfatoriamente para a doutrina da autoridade bíblica. Como se dá esse testemunho?

3.1 – Na experiência Apostólica: O apóstolo Pedro fala-nos disso em seu 2ª epístola no capítulo 1.19-21. Ele no começo do texto nos informa que teve uma experiência com o Cristo ressurreto no monte da transfiguração. E termina incitado à igreja que se apegue à palavra profética. E assim, ratifica o conceito autoritativo das Escrituras na vida da Igreja.

3.2 – Na própria suficiência da Palavra de Deus: 2 Timóteo 3.16. A Escritura é útil para:

Ensinar = “διδασκαλίαν ”[didaskalian] – a escritura é a nossa escola.

Repreender = “ἐλεγμόν”{elegmon} – indica que a escritura nos capacita para refutar o erro.

Corrigir = “ἐπανόρθωσιν”[epanorthosin] – aponta para a ideia de colocar na linha, deixar reto.

Educar = “παιδείαν” [paideian] – Treinamento, instrução e disciplina

 

4.     O Testemunho Interno do Espírito Santo aponta para a autoridade das Escrituras: Não importa a quantidade de evidências que se apresente ao cético ou incrédulo para que creiam na autoridade das Escrituras, a Confissão de Fé de Westminster nos lembra que apenas o Espírito Santo pode oferecer plena certeza da autoridade das Escrituras. Um dos grandes defensores desta verdade foi John Owen, teólogo puritano, que “pressupunha uma afinidade e correspondência diretas entre a mente divina e a mente humana, de forma tal que Deus é capaz de falar conosco por meio de palavras, e nós, dentro dos limites de sua própria auto-revelação, podemos compreendê-lo em nossos pensamentos.”[5] Como isso ocorre?

4.1  – O Espirito Santo Guia a Igreja: O Espírito Santo é quem guia a Igreja na verdade e pela verdade isso nós aprendemos na Palavra de Deus em João 16.13-14. O papel do Espírito Santo não deixar a Igreja na ignorância mas guiá-la pra a luz da verdade do evangelho de Deus. Ele nos capacita a crermos nas Escrituras. Como nos diz Packer citando John Owen: “O Espírito Santo iluminou nossas mentes, produziu em nós a fé, capacitando-nos a crer nas Escrituras”[6]

4.2  O Espírito Santo é Mestre da Igreja: Paulo em 1 Coríntios 2.10-12, um dos objetivos do Espírito Santo que nos foi outorgado [dado] é que venhamos conhecer mais e mais a revelação de Deus nas Escrituras. Este é o ensino cristalino da Palavra de Deus sobre a Autoridade da Sagrada Escritura e relação com o Espírito Santo.

Questionário:

1)     O que significa a palavra Cânon?

2)     Quais critérios foram usados pela igreja para estabelecer o cânon que possuímos?

3)     Segundo a Confissão de Fé de Westminster como devem ser empregados os livros apócrifos? Explique.

4)     Onde repousa a autoridade das Escrituras Sagradas?

5)     A doutrina da autoridade das Escrituras é fruto do fundamentalismo cristão? Justifique sua resposta:

6)     Como a igreja nos incita à crença na autoridade das Escrituras?

7)     Como o Espírito Santo testifica em favor da Autoridade das Escrituras?

8)     Você subscreve as declarações estudadas nestas seções da CFW?

 



[1] ANGLADA, Paulo R. B. Sola Scriptura – A doutrina Reformada das Escrituras. São Paulo: Os Puritanos, 1998, p.33-34.

[2] COSTA, Herminstem Maia Pereira da. Inspiração e Inerrância das Escrituras. São Paulo: Cultura Cristã, 1998, p.18-19

[3]PACKER, James I. Vocábulos de Deus. São Paulo: FIEL, 2002, p.33.

[4] SCHWERTLEY, Braian. O Modernismo e a Inerrância Bíblica.  Tradutora: Denise Meister. Recife: Os Puritanos, 2000, p.30-31

[5] PACKER, J.I. Entre os Gicantes de Deus – Uma Visão Puritana da Vida Cristã. São Paulo: Editora fiel,1996, p.88.

[6] Ibid, p.100.

A SUBSCRIÇÃO AOS PADRÕES DE WESTMISNTER

 A SUBSCRIÇÃO AOS PADRÕES DE WESTMISNTER

Rev. João França.

Introdução:

Nos dias atuais vivemos uma crise sem precedentes nas igrejas ditas herdeiras da Reforma Protestante. No limiar que se anuncia os quinhentos e cinco anos da chamada Reforma Protestante vemos a erosão da fé acontecer; igrejas que tem negado a importância de credos e confissões.

Alguns anos atrás houve o movimento do “nenhum Credo senão Cristo!”[1] Esta declaração argumentava que não havia necessidade de nenhum credo formal para representar, apontar ou explicar o Cristianismo. Tal movimento proponha uma ruptura radical com o passado. Onde cada individuo, comunidade religiosa ou mesmo igreja estava debaixo de um único lema (credo?)  que sempre a principio parece piedoso, mas no fundo é danoso.

Por que sustentar um credo que não precisa ser formalizado é perigoso? A resposta mais óbvia para isto está no fato de que forma-se credos particulares individualistas e sujeitos a tirania do tempo mutável ou da nova onda teológica. Igrejas que não possuem um credo, uma confissão uma declaração formal de fé são berços e ninhos para a heresia que, por muitas vezes, afrontam a própria Palavra de Deus; e, este veneno vem embalado com o rótulo de uma visão nova, uma nova perspectiva de encarar o ensino cristão, mas quando se examina de perto, por vezes, se trata de uma velha heresia. Esta pergunta advém de uma concepção totalmente pluralista e anti-confessional conforme percebemos em nossa época. Por que estamos vivendo tal crise dentro de nossa Igreja?

Porque vivemos num tempo de alta indefinição teológica um tempo onde vale a privatização das convicções. Isto quer dizer que muitas pessoas não tem compromisso com alguma coisa escrita à qual elas prestam lealdade. As pessoas querem ter as suas próprias convicções pessoais, sem darem qualquer atenção ao que foi escrito no passado pelos nossos Pais na Fé[2].

 Este é um perigo enfrentado pelas igrejas que possuem uma confissão de Fé. Pois, esta ‘indefinição’ ,conforme nos alerta o professor Heber Carlos de Campos, tem entrado dentro de nossa Igreja e minado a autoridade do sistema confessional da Igreja. Ano após ano candidatos ao Sagrado Ministério da Palavra se enfileiram nas reuniões conciliares do nossos presbitérios (denominação Presbiteriana) e juram fidelidade aos Símbolos de Fé de nossa Igreja Presbiteriana do Brasil; todavia, eles quebram o juramento adotando práticas e doutrinas contrárias aos Símbolos de Fé que juraram ensinar e praticar.

O professor Ulisses S. Horta nos lembra que um “significativo número de oficiais, especialmente pastores, assume o compromisso subscricional da ordenação portando escrúpulos quanto ao conteúdo de sua confissão”. Ele continua nos informando que:

Tais escrúpulos podem ocorrer por várias razões: desconhecimento, superficialidade, mas também por nutrição deliberada de uma convicção divergente do padrão de fé denominacional. Outro caso que incorre em dificuldade semelhante é a mudança de opinião posterior à ordenação. Nestas circunstâncias, a reserva pessoal quanto ao símbolo de fé pode vir a ser cultivada silenciosa ou abertamente. Os resultados de tal reserva serão, em ambos os casos, danosos ao desempenho do ofício, ao ministério, e à própria igreja.[3]

Nesta nossa palestra de hoje pretendo abordar com alguns tópicos sobre a subscrição confessional aos Símbolos de fé de Westminster..

I – O QUE É SUBSCRIÇÃOCONFESSIONAL?

            O termo subscrição significa assinar e concordar! Isto parece ser simples. Concordar com o quê? Com as doutrinas e ensinos abraçados pela igreja, mas ensinos estes que estão fundamentados nas Escrituras Sagradas. Isto é importante ser ressaltado porque, como disse David W. Hall, “nenhuma confissão merece qualquer respeito se não for totalmente bíblica”.[4] Devemos ressaltar que o objetivo de uma “confissão é servir à unidade e à clareza”. Mas será é bíblico ter uma e subscrever uma confissão? Hall nos diz que “manter uma confissão declarada é bastante bíblico e prescritivo.”[5]

1.     Subscrição Confessional no Antigo Testamento:

No Antigo Testamento é encontro o chamado “Shemá” conforme lemos em Dt. 6.4-9. O verbo ouvir que está no imperativo no hebraico é “[m;Þv.”- shemá –e tem o sentido de prestar atenção, significa ouvir, mas não é um mero escutar “envolve a ideia de ouvir com atenção”.[6]

O texto citado acima era o primeiro a ser lido de um conjunto de leituras confessionais que carregavam a mesma tônica.

O texto de Deuteronômio tinha por objetivo apresentar as seguintes verdades:

a) Que existe apenas um Deus

b) Que este Deus merece ser amado com todo o ser

c) Que estas verdades deveriam perpetuar nas gerações posteriores.

Há também outros dois textos que nos mostram que havia um credo na Igreja veterotestamentária no ato de culto. São eles: Dt.11.13-21 e Nm 15.37-41.

Em Dt.11.13-21 temos o desenvolvimento mais elaborado do shemá em sua aplicação ao povo da aliança indicando que a confissão de fé deve produzir resultados práticos; estes resultados são evidentes, pois, nasce tudo de uma obediência aos mandamentos de Yhaweh, o Deus pactual.

 Nesta confissão estão inseridas as crenças necessárias à existência do povo da aliança; e não apenas isso, mas incluem-se uma metodologia de pedagogia na qual tal ensino confessional pode ser transmitido, tendo a família como alvo desta transmissão.

Em Números 15.37-41 temos o mesmo conceito presente: Diante destes textos nós podemos confirmar que a confissão de fé fazia parte da vida litúrgica do povo pactual. Este “Shemá” era o credo do povo, somos informados que o “shemá era repetido três vezes ao dia”[7] pelo povo do pacto; também somos cientes de que este credo judeu era usado liturgicamente na sinagoga.[8]

2 - A Subscrição Confessional no Novo Testamento.

No Novo Testamento o conceito de confessionalidade é mais presente e bem definido. Isto significa que a Igreja sempre elaborou o seu conjunto de doutrinas a partir da revelação de Deus. No texto neotestamentário lidamos com um grande material que trata da existência de um grupo de verdades a serem cridas e obedecidas.

Estas verdades são conhecidas como “Tradições” que no grego é “paradosis”, este vocábulo significa “transmitir”, “entregar”, “tradição”. A palavra é formada de uma proposição grega “Para” que indica “junto a”, “ao lado de” mais o verbo “didomi” que de acordo com o contexto tem uma gama de significados “dar”, “trazer”, “conceder”, “causar”, “colocar”. Este conceito é percebido pelo texto bíblico de 2 Ts. 2.15: “Assim, pois, irmãos, permanecei firmes e guardai as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa.”.

Este aspecto confessional consistia, no Novo Testamento, na transmissão dos ensinos de Cristo e dos apóstolos por meio dos sermões e escritos (cartas), sendo orientações quanto ao comportamento. Todavia, toda tradição que entrava em choque com a Palavra de Deus deveria ser rejeitada.[9]

Diante disso, devemos ter em mente que a tradição “é uma boa palavra em si mesma [...]. Graças à tradição, as pessoas se salvam da tirania do momento e transcendem o tempo”[10] E, ainda devemos lembra que não “se pode fazer progresso real  na busca do entendimento à parte de uma tradição”[11]Isto significa que na preservação da tradição recebida não somos feitos meninos levados por todo e qualquer vento de doutrina (Ef.4.14).

A tradição ou conjunto de verdades recebidas pela Igreja de Cristo tem sido descrita de diversas formas nas Escrituras:

a.     Doutrina dos apóstolos: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.” (Atos.2.42).

b.     Palavra da vida: reservando a palavra da vida, para que, no Dia de Cristo, eu me glorie de que não corri em vão, nem me esforcei inutilmente.”(Fp. 2.16).

c.      Forma de doutrina: “Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues;”(Gl.6.6)

d.     Sã Palavras: “conserva o modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido, na fé e no amor que há em Cristo Jesus.” 2 Timóteo 1.13-14.

II – A IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL E A SUBSCRIÇÃO CONFESSIONAL.

                Chegamos a um ponto crucial nesta hora. A subscrição dos padrões de Westminster pela Igreja Presbiteriana do Brasil.

2. 1 – Do Ponto de vista Histórico:

                A Igreja Presbiteriana do Brasil teve os seus primeiros passos para uma orgnaização eclesiástica quando o jovem pastor Ashbel Green Simonton “desembarcou no Brasil no dia 12 de agosto de 1859”[12], embora, sabemos que o presbiterianismo iniciou de fato de verdade no dia 22/04/1960 com uma escola dominical[13]. Todavia, a data e o ano de agosto tem prevalecido no presbiterianismo brasileiro.

                Historicamente a Igreja presbiteriana do Brasil parece ter uma afinidade de defesa para com os símbolos de fé. Embora, o calvinismo trazido por Simonton seja de certa forma modificado pelo ponto de vista do avivalismo, é o calvinismo confessional de Westminster com relação a sua subcrição que está em foco aqui.

                Na ordenação do primeiro pastor nacional José Manuel da Conceição  “declarou aceitar a Confissão de Fé de Westminster e a forma de Governo da Igreja Presbiteriana”[14]. O jovem Simonton passou a ensinar o Catecismo na Escola Dominical. “E o texto que ele costumava a usar eram: a Bíblia, O Catecismo de História Sagrada e o Progresso do Peregrino”[15]

                Simonton também tinha a prática de uma vez por mês de pregar fazendo exposição de uma pergunta do breve catecismo Westminster. E o seu objetivo era de “preparar os crentes para defender-se dos ataques incrédulos”. Por isso, ele mesmo declarou: “estou fazendo o que está em mim para gravar este catecismo na memória de todos”[16].

                A Igreja Presbiteriana do Brasil tem uma história de solidificação e adesão aos símbolos de fé de Westminster. É uma igreja que no seu nascedouro desejou tem uma identidade doutrinária definida.

2.2 – Do Ponto de Vista Doutrinário

                Como Igreja estabelecida adotamos os símbolos de fé: Confissão, Breve Catecismo e Catecismo Maior de Westminster. Isto significa que doutrinariamente temos uma identidade. Isto é tão certo que algumas doutrinas são peculiares a nós presbiterianos. Do ponto de vista da doutrina nós cremos:

1.      Na Suficiência, autoridade e infalibilidade das Escrituras:

                 No capítulo 1 de nossa Confissão somos ensinados que:

foi servido ao Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar àquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna a Sagrada Escritura indispensável, tendo cessado aqueles antigos modos de Deus revelar a sua vontade ao seu povo. (WESTMINSTER, Cp. 1 Seção 1 – ênfase nossa)

No presbiterianismo não há lugar para revelações, pois, entende-se que aqueles antigos modos de Deus se revelar ao seu povo há muito tempo cessaram. Então, é inadmissível uma Igreja Presbiteriana com práticas de novas revelações, línguas profecias. Isto é negar a plenitude da revelação trazida por Cristo por meio de sua palavra, conforme nos ensina Hebreus 1.1-2: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo.”

2.     Na Soberania de Deus:

Como presbiterianos confessionais devemos acreditar na soberania de Deus no que respeita os seus decretos absolutos sobre este mundo. A nossa Igreja crê e confessa a doutrina da Predestinação, eleição e reprovação; isto significa que o verdadeiro presbiteriano não acredita no livre-arbítrio do homem, mas crê que o homem está escravizado pelo pecado, e limitado pelo decreto absoluto de Deus em tudo o que faz em sua vida; ou seja, ele é morto espiritual, escravo do pecado, e age de conformidade com o projeto de Deus desde toda a eternidade. A nossa Confissão no terceiro capítulo 3 nos ensina:

Pelo decreto de Deus e para manifestação de sua glória, alguns homens e alguns anjos são assim predestinados para a vida eterna e outros preordenados para a morte eterna. Esses homens e esses anjos, assim predestinados e preordenados, são particular e imutavelmente designados; o seu número é tão certo e definido, que não pode ser aumentado ou diminuído. (WESTMINSTER, Cp.3, seções 3-4)

Isto significa que não há necessidade de teatros, de shows no culto para atrair pecadores para o reino, pois, apenas os eleitos hão de ser salvos, e o método bíblico de evangelismo é a proclamação do evangelho de Deus. Alguns textos nos ajudam a compreender este assunto: “conjuro-te, perante Deus, e Cristo Jesus, e os anjos eleitos, que guardes estes conselhos, sem prevenção, nada fazendo com parcialidade.” ( 1 Timóteo 5.21; Rm. 9.22-23; 2 Tm. 2.19).

3.     No Batismo Infantil:

É peculiar ao presbiterianismo confessar e defender o Batismo Infantil. Membros de Igrejas anti-pedobatistas ( contrárias ao Batismo Infantil ) quando nos conhecem como Presbiterianos logo tecem comentários negativos à prática bíblica do Batismo infantil; se somos presbiterianos somos defensores do Batismo Infantil conforme temos em nossa Confissão de Fé no capítulo 28 seção 4. “não somente os que professam a fé em Cristo, mas também os seus filhos devem ser batizados”.

Esta é a nossa posição confessional sobre as crianças. Elas devem ser batizadas; é com tristeza que dizemos isso, mas muitos membros de nossas igrejas não trazem seus bebês ao batismo sugerindo que esta doutrina é católica romana, mas não é, esta verdade é Bíblica fundamenta na teologia do pacto de Deus com Abraão (Gn.17.9-14) e confirmada por Paulo em Col.2.11-13.

2.3 – Do Ponto de Vista Constitucional.

A Igreja Presbiteriana tem identidade com os símbolos de fé de Westminster também do ponto de vista da sua constituição. No capítulo 1 da Constituição da IPB e no artigo 1: somos informados que a nossa Igreja é “uma federação de igrejas locais” , isto significa que não deve haver divergências entre as igrejas que estão nesta federação. A federatividade deve promover a unidade.  Mas ainda neste artigo 1 somos informados que a Igreja adota:

a. A sagrada Escritura como única regra de fé e prática (Antigo e o Velho Testamento): isto implica que na constituição assume-se o conceito de suficiência das Escrituras e Autoridade das mesmas.

b. E como sistema expositivo de doutrina e prática a sua Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve.

Então, é inaceitável que muitos membros da nossa Igreja não queriam se submeter à autoridade e suficiência das Escrituras; e, que estes também não aceitem ou subscrevam os nossos símbolos de fé.

Os membros da Igreja deveriam pensar duas vezes antes de jogar fora os símbolos de fé. Para quê eles servem? Servem como muros que limitam, orientam e nos dão liberdade. Limitam quanto a abraçar toda e qualquer heresia; orientam qual o caminho correto tomar e oferecem a liberdade de pensar alicerçados em suas bases.

Na última reunião do Supremo Concilio da IPB (27-31 de julho de 2022) aprovou-se que nenhum candidato à membresia da igreja seja recebido sem aceitar os padrões de Westminster na sua integralidade.

Qual tipo de subscrição a IPB adota?

A constituição de nossa Igreja é mais severa para com os oficiais da Igreja. Especialmente os presbíteros docentes e regentes. Vocês tem a responsabilidade de zelar pela boa doutrina. E como podem fazer isso? Sustentando e defendendo a Confissão de Fé de Westmisnter. Pois, os símbolos de fé são a exposição das doutrinas de nossa Igreja.

No artigo 114 de nossa constituição há um alerta significativo para a ordenação de oficiais: “só poderá ser ordenado e instalado quem, depois de instruído, aceitar a doutrina, o governo e a disciplina da Igreja Presbiteriana do Brasil[...]”

Ao seminarista é outorgado a ele que, no final do curso, perante ao presbitério apresente uma tese – monografia – baseada em um capítulo ou seção da Confissão de Fé de Westminster conforme lemos no artigo 120 alínea b de nossa Constituição. Então, senhores e senhoras aqui presente, estamos diante de um desafio.

È um desafio à fidelidade. Os pastores e presbíteros de nossas Igrejas devem fazer valer os seus votos de ordenação. Pois, todos eles juraram ou jurarão que irão ensinar e defender as doutrinas que se encontram nos símbolos de fé; todavia, o que temos visto é que muitos deles chegam a fazer o juramento sem conhecer o conteúdo dos símbolos de fé, nunca leram os símbolos de fé; outros já abandonaram os símbolos de fé de Westminster.

Poderão ser depostos de seus ofícios por quebrar os votos de ordenação. Então, se há alguém aqui nesta noite que não conhece, que não concorda com nenhum ponto de nossa Confissão de Fé lhe aconselho a pedir para ser exonerado do ofício, pois, não há algo tão terrível para a igreja de Cristo do que um líder que é infiel ao seu ofício. Que Deus nos ajude! Amém!.

 


REFERÊNCIAS:

1.     ALLEN, Michael; SWAIN, Scott R. Catolicidade Reformada. Brasília: Ed. Monergismo, 2021.

2.     AUSTEL, Hermann J. Shãma’ In: HARRIS, R.L. ed. Theological Wordbook of the Old Testament, 2a ed., Chicago: Moody Press, 1981, Vol. 2. 

3.     BÜCHSEL IN: KITTEL, 1983, vol.2..

4.     COSTA, Herminsten Maia Pereira da. Teologia do Culto. 

5.     HALL, David W. A Prática da Subscrição Confessional. Natal – RN: Ed. Nadere Reformatie Publicações,2021.

6.     HORN, Leonard T. Van. Estudos no Breve Catecismo de Westminster. Recife: Ed. Os Puritanos, 2000.

7.     LEITH, John. A Tradição Reformada – Uma maneira de ser a comunidade cristã, São Paulo: Pendão Real,1996. 

8.     SIMÕES, Ulisses Horta. A Subscrição Confessional – Necessidade, Relevância e Extensão. Belo Horizonte: Efrata Publicações e Distribuição, 2002.

9.     UNTERMAN, Alan. Dicionário Judaico de Lendas e Tradições. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992.

10.  COSTA, Herminsten Maia Pereira da. Eu crio – No Pai, no Filho e no Espírito Santo, São Paulo: Parakletos, 2002.  

  



[1] HORN, Leonard T. Van. Estudos no Breve Catecismo de Westminster. Recife: Ed. Os Puritanos, 2000, p.12.

[2]CAMPOS, Heber C. In: SIMÕES, Ulisses Horta. A Subscrição Confessional – Necessidade, Relevância e Extensão. Belo Horizonte: Efrata Publicações e Distribuição, 2002, p. 12-13  

[3] SIMÕES, Ulisses Horta. A Subscrição Confessional – Necessidade, Relevância e Extensão. Belo Horizonte: Efrata Publicações e Distribuição, 2002, p. 15-16

[4] HALL, David W. A Prática da Subscrição Confessional. Natal – RN: Ed. Nadere Reformatie Publicações,2021, p.26.

[5] Ibid, p.27.

[6] AUSTEL, Hermann J. Shãma’ In: HARRIS, R.L. ed. Theological Wordbook of the Old Testament, 2a ed., Chicago: Moody Press, 1981, Vol. 2, pp.938-939. 

[7] UNTERMAN, Alan. Dicionário Judaico de Lendas e Tradições. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992, p.242. 

[8] COSTA, Herminsten Maia Pereira da. Teologia do Culto, p.19 

[9] BÜCHSEL IN: KITTEL, 1983, vol.2, pp.172-173.

[10] LEITH, John. A Tradição Reformada – Uma maneira de ser a comunidade cristã, São Paulo: Pendão Real,1996, p.29 

[11] ALLEN, Michael; SWAIN, Scott R. Catolicidade Reformada. Brasília: Ed. Monergismo, 2021,p.39.

[12] LEITH, John. A Tradição Reformada – Uma maneira de ser a comunidade cristã, São Paulo: Pendão Real,1996. p. 84 

[13] COSTA, Herminsten Maia Pereira da. Eu crio – No Pai, no Filho e no Espírito Santo, São Paulo: Parakletos, 2002. p.58 

[14] Idem.

[15] Ibid, p. 65 

[16] Ibid, p.67