sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

ROMANOS 1.2

SÉRIE DE EXPOSIÇÃO BÍBLICA:
Livro Estudado: Romanos
Rev. João Ricardo Ferreira de França.
Texto Bíblico: Romanos 1.2
 [...]separado para o evangelho de Deus, o qual foi por Deus, outrora, prometido por intermédio dos seus profetas nas Sagradas Escrituras, (Rom 1:1b-2 ARA)
εἰς εὐαγγέλιον θεοῦ, ὃ προεπηγγείλατο διὰ τῶν προφητῶν αὐτοῦ ἐν γραφαῖς ἁγίαις, (Rom 1:2 BYZ)
INTRODUÇÃO:
            Não há algo mais glorioso na vida cristã do que a mensagem que ela esboça. A mensagem do Evangelho de Deus. Algumas pessoas têm pensado no Evangelho ou Novo Testamento em termos de novidade, é algo novo, novíssimo e assim, esquecem tudo que fora declarado no Antigo Testamento, ignoram a revelação anterior que Deus fez de si mesmo.
            Pois, bem a passagem que temos diante de nós fala-nos que este pensamento é totalmente errado, isto porque, como sabemos o Evangelho de Deus é algo que Deus planejara e anunciara desde os tempos do Antigo Testamento. Olhando para esta passagem poderemos destacar e explorar as seguintes verdades:
1. O Evangelho Prometido.
2. O Evangelho por meio dos profetas.
3. O Evangelho nas Santas Escrituras.
I – O EVANGELHO PROMETIDO.
            O Evangelho de Deus, a sua mensagem, não é uma novidade conforme temos dito. Aqui o apóstolo Paulo lembra-nos exatamente isto. O Evangelho não é um discurso bem elaborado conforme muitos aqui podem pensar – não é mais um sermão, mas de acordo com Paulo este evangelho é a concretização da promessa; na verdade é o evangelho prometido por Deus desde os tempos antigos. O termo grego usado pelo apóstolo para indicar esta verdade é “ὃ προεπηγγείλατο” [ho proepengeilato] – prometido antes!
            O Evangelho da promessa isto tem implicações grandes para nós, pois, é como se Paulo estivesse informando que o evangelho era novidade no sentido de que os eventos outrora prometidos acabaram de acontecer.  Por isso, há uma necessidade de se entender estes eventos à luz da promessa antecipadamente pronunciada. Paulo sempre faz menção a esta promessa, consideremos, por exemplo, o texto de Atos 13.23: “Da descendência deste, conforme a promessa, trouxe Deus a Israel o Salvador, que é Jesus,”.
            Aqui temos o apóstolo Paulo ensinando na sinagoga  de que o filho esperado de Davi já havia estado entre os homens, o descendente de Davi esteve entre nós, diz Paulo – Deus o havia trazido ao mundo para ser o Salvador, mas isto conforme a promessa! Este redentor era o Senhor Jesus Cristo. O santo apóstolo tinha boas-novas para contar, mas estas boas-novas já haviam sido prometidas, a respeito das quais Deus havia falado de muitas maneiras.
            Mas, a onde começa esse anuncio? Onde vemos este Evangelho da Promessa? Bem, considere Gênesis 3.15: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” – aqui está o Evangelho Prometido! O Evangelho de Deus é anunciado a Adão e Eva no Jardim do Éden, e todo o Antigo Testamento consiste na apresentação desta promessa, pois, vemos esta promessa sendo anunciada a Abrão em Gênesis 17;  em 2º Samuel 7 temos a promessa de Deus feita a Davi sobre o seu descendente que ocuparia seu trono. Por todas as Escrituras temos esta promessa, temos este evangelho prometido aos homens.
II. O EVANGELHO POR MEIO DOS PROFETAS.
            Isto nos leva para o segundo ponto a ser considerado – o apóstolo Paulo não fica apenas em nos dizer que Deus tinha prometido o evangelho anteriormente, mas ele deseja mostrar  como  Deus o havia prometido.
            O termo profeta tem sido abusado em nossos dias de forma terrível. A maioria dos crentes de nosso tempo pensa no profeta como alguém que advinha o futuro, embora este elemento seja verdadeiro no que se refere ao profeta bíblico, este não é o uso comum do vocábulo nas Escrituras. Ele significa aquele que anuncia a verdade revelada de Deus para o ensino e a instrução do povo da aliança. A expressão grega que nós temos aqui nesta passagem diante de nós é a seguinte: “διὰ τῶν προφητῶν αὐτοῦ”[dia tôn profêtôn autou].
            Alguns poderão pensar que aqui o apóstolo esteja se referindo a categoria de livros conhecido como “livros proféticos” nós ressaltamos aqui que, na passagem em foco, não é a este tipo de livro que o termo “profeta” está sendo empregado, mas aqui se refere à totalidade do Antigo Testamento.
            Note o nosso texto “por intermédio dos seus profetas”. Os que fizeram essas profecias e predições eram homens que tinham sido especialmente escolhidos para realizar esta obra. Eram profetas de Deus! Prediziam e proclamavam a verdade revelada.
            Ao ressaltar que este evangelho foi transmitido por seus profetas. Paulo insta para que os seus leitores não pensem ser o evangelho fruto da mente humana. É exatamente isso que o apóstolo procura assegurar ao usar o vocábulo profeta. Considere isso em 2ª Pedro 1.15-11:
15 Mas, de minha parte, esforçar-me-ei, diligentemente, por fazer que, a todo tempo, mesmo depois da minha partida, conserveis lembrança de tudo.
 16 Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade,
 17 pois ele recebeu, da parte de Deus Pai, honra e glória, quando pela Glória Excelsa lhe foi enviada a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.
 18 Ora, esta voz, vinda do céu, nós a ouvimos quando estávamos com ele no monte santo.
 19 Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração,
 20 sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação;
 21 porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.
            A profecia não é algo produzido pela vontade dos homens, mas Deus, logo o evangelho prometido por Deus, por meio dos profetas é fruto da vontade de Deus. Pedro também em sua primeira carta nos ajuda a compreender o uso do termo profeta feito por Paulo, quando diz em 1ª Pedro 1.10-12:
10 Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada,
 11 investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam.
 12 A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que anjos anelam perscrutar.

            Os profetas falaram de Cristo, anunciaram receberam a revelação de Deus e a inspiração para proclamar tais verdades. Então, nós aprendermos que o profeta era o aparelho transmissor de Deus. A revelação lhe era dada; ele era guiado em sua pressão de modo que não cometesse erro algum. Ele comunicava o evangelho de Deus. E para que tal verdade ficasse preservada ele registrava esta revelação de Deus, esta promessa de Deus fora escrita.
III  O EVANGELHO NAS SANTAS ESCRITURAS.
            O apóstolo Paulo prossegue e nos informa que este evangelho se faz presente “nas Sagradas Escrituras” em todo o Antigo Testamento o Evangelho se encontra. Ele deseja mostrar aos seus leitores que o Evangelho não uma ruptura com o Antigo Pacto, mas é uma continuação deste. Claro que ele está seguindo o seu Mestre o Senhor Jesus Cristo em Lucas 24.44-46:
44 A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.
 45 Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras;
 46 e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia
            Notaram o que Jesus disse? Ele informou que toda a mensagem do evangelho estava contida nas páginas do Antigo Testamento! Estava tudo lá! Como é triste observar que muitos de nós não valorizamos o Antigo Testamento. Que não consideramos que o Evangelho de Deus está lá tão patente que ignoramos suas verdades. Paulo argumentara sobre este aspecto em 2ª Coríntios 3 onde mostra que os Judeus ainda leem a Lei com o véu e não conseguem ver o evangelho de Deus. Não conseguem olhar o Senhor Jesus em cada sentença da Lei. Paulo assegura aqui em Romanos 1.2 que o Evangelho está nas “Sagradas Escrituras”! Está no livro de Deus.
            Isto nos leva para algo mais forte. Observe que Paulo tem a ciência de que a mensagem concernente ao Filho de Deus está “nas Escrituras Sagradas” do Antigo Testamento, ressalto isso porque o Novo Testamento ainda não estava formado quando Paulo fizera esta declaração, então, ele ao evangelizar os judeus ele tinha que provar com o Antigo Testamento que Cristo era o evangelho prometido de Deus – era o Messias tão esperado que o Senhor Jesus era o salvador de seu povo! Ele tinha que mostrar os sofrimentos do Messias, ele tinha mostrar que Jesus era o Servo sofredor de Isaías 53.
            Então, conhecer o Antigo Testamento era de vital importância para igreja neotestamentária. Pois, “nas Sagradas Escrituras” o evangelho de Deus está presente. Paulo ao dizer que Evangelho de Deus, o Evangelho que ele anunciara está contido na totalidade das Sagradas Escrituras, então ele está ensinando que a Bíblia é a autoridade última e final na vida e na pregação da Igreja.
            A doutrina da redenção, da conversão, da regeneração vivenciada e experimentada só é possível se formos até as “sagradas Escrituras”.  O Senhor Jesus corrobora com esta verdade quando diz: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim” (João  5.39 ARA).
Aplicação: Que verdades nós podemos aprender deste texto?
1. Não duvidar das promessas de Deus: Deus havia prometido, desde os tempos antigos, que haveria uma redenção para o homem caído no pecado, ele o fez, enviou Cristo Jesus ao mundo, para salvar pecadores rebeldes dos quais somos cada um de nós.
2.  Compreender que Deus tem usado os seus ministros para comunicar o evangelho: Sabemos que não profetas hoje na concepção bíblica, mas sabemos que Deus tem levantado homens, pastores ministros do evangelho para nos comunicar a sua verdade já revelada e inspirada.

3 Precisamos valorizar as Sagradas Escrituras, nelas, encontramos o evangelho de Deus.

domingo, 30 de outubro de 2016

Pregação: Romanos 1.1.

SÉRIE DE EXPOSIÇÃO BÍBLICA:
Livro Estudado: Romanos
Rev. João Ricardo Ferreira de França.
Texto Bíblico: Romanos 1.1.
Παῦλος δοῦλος Χριστοῦ Ἰησοῦ, κλητὸς ἀπόστολος ἀφωρισμένος εἰς εὐαγγέλιον θεοῦ,
 (Rom 1:1 BGT)
Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus, (Rom 1:1 ARA).
Introdução:
Estamos iniciando a nossa série de exposição bíblica sobre esta grande epístola. É uma carta onde à essência do evangelho é vislumbrada; uma carta que tem uma ampla significância histórica para fé cristã. Pois, foi lendo tal carta que um homem ímpio e pecador encontrou a Cristo – seu nome? Santo Agostinho, em sua busca pela verdade, e pela paz no coração estava no jardim de sua casa quando ouviu uma criança cantar – tole lege, tole lege! Toma e ler! Toma e ler! Ele prontamente tomou o livro sagrado de Deus e abriu a esmo na passagem de Romanos 13.13! E houve uma grande transformação daquele homem – conhecido na história da igreja como o doutor da graça!
Outro personagem da história da igreja que nos fala da grandeza desta epístola chama-se Martinho Lutero, pois, e seus estudos exegéticos, da carta em apreço, ele se deparou com o capítulo 1 versos 16-17, e então, eclode a Reforma protestante; e por fim, um cristão que sentia grande agonia sobre o estado de sua alma, encontrou conforto nas palavras de Paulo em Romanos 3.20-26, este cristão era o grande músico Willam Cowper. Pois, bem diante deste vislumbre da história podemos dizer que é um grande desafio expor a presente epístola. Tendo esse senso de incapacidade nos aproximamos das declarações iniciais desta carta considerando os seguintes aspectos:
I – O autor:
Notemos como a carta começa “Paulo” – quem era este “Paulo”? Se nós estudarmos o Novo Testamento certamente encontraremos muitas coisas sobre este personagem. Vamos saber que ele era natural de uma cidade chamada Tarso ( Atos 21.39; 22.3) e que nascera livre. Pois, era um cidadão romano. Conforme vemos em Atos 22.3 ele fora instruído pelo maior mestre da Lei de seu tempo – o nobre Gamaliel. Em Filipenses 3.5 somos informados que este Paulo se destacara: como “hebreu de hebreus”. E fora educado na exatidão da lei (Atos 22.3); por causa deste zelo passou a perseguir os cristãos (Atos 22.4), ele recebera autorização para fazê-lo de maneira desmedida conforme vemos em Atos 26.9-11:
“Na verdade, a mim me parecia que muitas coisas devia eu praticar contra o nome de Jesus, o Nazareno; e assim procedi em Jerusalém. Havendo eu recebido autorização dos principais sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e contra estes dava o meu voto, quando os matavam. Muitas vezes, os castiguei por todas as sinagogas, obrigando-os até a blasfemar. E, demasiadamente enfurecido contra eles, mesmo por cidades estranhas os perseguia.”
            Eis aqui o retrato deste homem terrível! Um perseguidor da Igreja de Deus conforme o texto de  Gálatas 1.13 nos informa – “Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora no judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a igreja de Deus e a devastava.”
            Mas, este homem era um eleito de Deus! E no caminho para Damasco encontra-se como o Senhor Jesus isto pode ser lido em Atos 22.6-8:
Ora, aconteceu que, indo de caminho e já perto de Damasco, quase ao meio-dia, repentinamente, grande luz do céu brilhou ao redor de mim. Então, caí por terra, ouvindo uma voz que me dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Perguntei: quem és tu, Senhor? Ao que me respondeu: Eu sou Jesus, o Nazareno, a quem tu persegues.
            Aqui está o homem perseguidor da Igreja tendo uma experiência gigantesca de redenção! O próprio Cristo apareceu a ele – ressurreto! Então, o perseguidor da Igreja tornara-se o seu maior pregador depois do Senhor Jesus.
II – No que Paulo se Tornara:                                     
            Depois da conversão compete-nos pensar no que este homem chamado “Paulo se transformara”? O nosso texto continua a nos informar “servo de Jesus Cristo” no grego temos “δοῦλος Χριστοῦ Ἰησοῦ”[doulos Xristou Iesou]. Aqui é algo de capital importância para nós, pois, aquele perseguidor da igreja fora transformado em “servo” apalavra usada aqui na língua grega é mais forte do que “servo” é a palavra “escravo”. As implicações desta declaração paulina são gritantes! Devemos nos lembrar que Paulo não fundara a Igreja de Roma – e agora coloca-se a escrever para esta igreja, mas antes de tudo ele deseja demonstrar a igreja que acima de tudo ele é “escravo”. O que faz um escravo? Um escravo não faz a sua própria vontade, antes ele faz a vontade de seu senhor que o governa que o dirige; então, Paulo aqui mostra-nos a sua total submissão ao seu senhor.
            Quem é o senhor de Paulo? Ora, na frase seguinte ele nos diz: “[...] servo de Jesus Cristo...”. A pessoa bendita de Cristo Jesus é o senhor de Paulo. O apóstolo procura mostrar que a essência de sua vida, a identidade de sua pessoa, só pode ser avaliada, considerada sob o senhorio de Cristo sobre a sua vida! Consideremos mais de perto o que Paulo está dizendo:
            Ao dizer que é servo de Jesus Cristo. Ele tem em mente o significado destes termos. O nome Jesus como todos vocês sabem significa “Salvador” – Paulo mostra nesta declaração que o seu Salvador é a quem ele deve servir como um escravo; o segundo aspecto desta informação é o nome Cristo – que significa o “Messias”. O ungido de Deus para ser o redentor do mundo.
            Vemos aqui Paulo concentrando-se na Pessoa bendita de Jesus Cristo. Cristo ocupara o primeiro lugar na identidade e vida de Paulo. Ele sempre usa o Nome de Cristo para mostrar a relevância que há na Pessoa do redentor. Ele mensura isso se mostrando como “escravo de Jesus Cristo”.
            Mas que implicações isso tem para nós. A implicação disto é que todos nós que somos cristãos devemos ser escravos de Jesus Cristo. Paulo reiterada vezes apresenta esta verdade acerca dos cristãos, por exemplo, em 1ª Coríntios 6.19,20 nos diz: “19 Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? 20 Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo”.
            Ele aqui lembra-nos que não “somos de nós mesmos”, isto porque “fomos comprados por preço” – então, não devemos nos tornar culpados de pecados como a fornicação. Por que temos um dono que exige de nós santidade, alguém que pagou o preço por nós, pois, éramos escravos do pecado, estávamos no mercado de escravos, então, Jesus Cristo foi lá e nos comprou! Então, uma vez que vocês são templo do Espírito Santo, vocês não tem o direito de fazer o que quiserem com o corpo de vocês-antes “glorifiquem a Deus por meio de vosso corpo”.
            O Filho de Deus comprou cada um de vocês por um preço de seu sangue precioso, ele comprou vocês. Aqui está a redenção descrita, pois, deixamos de ser escravos do diabo para sermos escravos de Cristo. Todos nós pertencemos a Cristo, porque todos nós devemos ser escravos de Cristo como é o autor destas palavras! Então, Paulo deve fazer a sua vontade, deve fazer a vontade do Senhor Jesus Cristo, bem como cada um de nós que professamos ser cristãos.
III – O Chamado de Paulo
            Paulo identificara-se como “servo de Jesus Cristo”, mas como bem sabemos o servo é designado para algo muito específico, e a próxima frase nos leva a identificar que algo é esse: “chamado para ser apóstolo”. Aqui temos uma gradação certamente, pois, Paulo nos dissera o que lhe acontecera e como se tornou Cristo, bem como o que significa ser cristão – ser servo de Cristo Jesus; e agora ele mostra-nos qual é a incumbência especial que receber de seu senhor – ele é alguém “Chamado para ser apóstolo”. No grego temos “κλητὸς ἀπόστολος”[kletos apostolos] – que literalmente quer dizer: “um chamado apóstolo”.
            Quero chamar sua atenção para estas duas palavras: “chamado” e “apóstolo”. Pois, estes dois termos são abusados em nossos dias, e ficamos apáticos quando isso ocorre, nem sequer pensamos sobre isso, porque ignoramos o que o apóstolo nos diz aqui.
            Consideremos o termo apóstolo. O que é um apóstolo? Bem, lembremos que Paulo ao identificar-se inicialmente como escravo ele não o faz em termos gerais, mas de modo específico, ele é um escravo que é apóstolo. Conforme vimos em 1ª Coríntios muitas pessoas duvidavam e não aceitavam o apostolado de Paulo, e ele teve que reiteradas vezes defender seu apostolado contra os falsos apóstolos que estavam naquela igreja; então, aprendemos que o termo apóstolo, quando usado pelo apóstolo Paulo me referência a si mesmo, designa um ofício específico.
            Mateus 10.1-2 parece-nos mostrar isso: “Tendo chamado os seus doze discípulos, deu-lhes Jesus autoridade sobre espíritos imundos para os expelir e para curar toda sorte de doenças e enfermidades. Ora, os nomes dos doze apóstolos são estes:”. Aqui vemos uma mudança significativa, pois, no verso 1 eles são chamados de discípulos e no verso 2 de apóstolos. Por quê? Porque nem todo discípulo é um apóstolo – Cristo de maneira deliberada mostra isso aqui. Apenas estes discípulos aqui tornaram-se apóstolos. Isso é confirmado em Lucas 6.12,13: “Naqueles dias, retirou-se para o monte, a fim de orar, e passou a noite orando a Deus. E, quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos:”.
            Porque tive que me deter neste ponto? A resposta é simples é o fato de que o termo apóstolo significa enviado como mensageiro, com uma missão e no Novo Testamento descreve uma pessoa que é enviada com a autoridade para representar alguém e falar em nome desse alguém que a envia. Então, isso nos conduz para a pergunta quais são as características de um apóstolo?
1. A primeira delas é ser testemunha ocular da ressurreição do Senhor: Isto é confirmado nas escrituras na escolha da igreja primitiva por Matias para ocupar o lugar de Judas (Atos 1.21 – “É necessário, pois, que, dos homens que nos acompanharam todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós,”). Outro texto que confirma isso é 1ª Coríntios 9.1 – “Não sou eu, porventura, livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Ou seja, sou testemunha da ressurreição.
2. A segunda verdade sobre este ponto é que homem para ser apóstolo tinha que ser especialmente chamado.  Conforme já vimos! Paulo fora chamado no caminho para Damasco.
3. Um apóstolo é alguém que receber uma autoridade para realizar milagres: O apóstolo Paulo menciona este aspecto em 2ª Coríntios 12.12: “Pois as credenciais do apostolado foram apresentadas no meio de vós, com toda a persistência, por sinais, prodígios e poderes miraculosos. ”.
            Isso tudo nos leva para uma pergunta. Há apóstolos hoje? Muitos se designam apóstolos, mas são blasfemos, pois, não possuem nenhuma das características que as Escrituras apresentam para o apostolado. Paulo aqui nos mostra que “um chamado apóstolo” porque possuía tais características. Hoje em dia há muitas igrejas que possuem falsos apóstolos que arrogam um ofício que não há mais na igreja, tudo para enganar o povo.
            Agora, consideremos a palavra “chamado” no grego temos a palavra “κλητὸς” [kletos] – o termo descreve o chamado específico, a chama de Deus para aqueles que ele vocaciona para o sagrado ministério! Aqui o termo é aplicado ao apostolado de Paulo ele fora chamado pelo próprio Cristo para realizar a tarefa da pregação do evangelho de Deus. Ou seja, ninguém deve se intrometer no ministério se não foi chamado para isso!
IV – A Tarefa do Apóstolo Paulo:
            Isto nos leva para o próximo passo. Este apóstolo ele é chamado para uma tarefa específica que segue imediatamente à declaração anterior: “separado para o evangelho de Deus” - ἀφωρισμένος εἰς εὐαγγέλιον θεοῦ, - Paulo é colocado à parte é isto que significa o verbo grego “ἀφωρισμένος”- para o objetivo de proclamar o evangelho de Deus.
            A palavra evangelho significa “boa-nova”. Paulo diz que é um apóstolo separado para pregar o evangelho que é de Deus. É a noticia da redenção que Deus quer anunciar ao homem perdido, ao pecador, e para isso, ele usa vasos de barros para comunicar o evangelho. Ele separa homens para ser pregadores destas boas-novas de salvação é isso que Paulo quer mostrar-nos.
            O que isso tem haver conosco? Bem, somos chamados para anunciar o evangelho de Deus aos homens, é nosso dever fazê-lo, é nossa obrigação viver deste modo. Que verdades nós aprendemos aqui neste texto da palavra de Deus:
1. Podemos ter esperança sobre a conversão de pecadores: Aprendemos aqui que um homem como Paulo que fora perseguidor da igreja de Deus, se tornara uma cristão, um homem temente a Deus, então, há esperança para os nossos entes queridos que não conhecem a Cristo.
2. Submissão total a Cristo: A segunda verdade que podemos aprender e aplicar apartir deste texto é que uma vez cristãos devemos ser “escravos” de Cristo, se submeter a sua vontade soberana, ele é nosso Senhor, nós lhe pertencemos e devemos ser submissos a ele.

3. A certeza e a finalidade de nosso chamado: Ainda que não sejamos apóstolos como designa a Palavra de Deus, todos nós somos discípulos, fomos chamados para glorificar a Deus e com a finalidade de proclamarmos o evangelho da graça de Deus aos homens, é nosso papel, é nosso dever fazê-lo, como escravos obedientes ao nosso Senhor Jesus Cristo.

domingo, 18 de setembro de 2016

GÊNESIS 2.1-3: A INTENÇÃO DIVINA AO TRAZER A EXISTÊNCIA O SHABATH



A INTENÇÃO DIVINA AO TRAZER A EXISTÊNCIA O SHABATH
Texto: Gênesis 2.1-3.
Rev. João Ricardo Ferreira de França
Introdução:
  • A questão que devemos considerar agora, diz respeito a ideia de qual dia deve ser guardado, ou ainda, o que Deus tencionava fazer ao criar do dia de descanso?
  • É Sábado ou domingo? Qual o dia a igreja deve observar e guardar?
  • A Bíblia ensina que devemos guardar um dia em sete? Ou será que todos os dias são dias do Senhor para fins de adoração?
  • Quando a igreja Cristã afirma ser o domingo o Dia do Senhor, o faz como uma questão de mera necessidade para renuir-se?
  • Há muitos que seguem a posição de que o domingo não é shabbath cristão. Esta posição é correta?
I – O SHABATH E A LEI DE DEUS.
            Uma das grandes dificuldades que hoje encontramos sobre a verdadeira observância do Shabbath Cristão está na falta de compreensão da relação entre o dia de descanso e a Lei de Deus. Dentro desta perspectiva devemos lembrar que há três aspectos da Lei: Moral, cerimonial e civil.
            A lei Moral serve para deixar claro ao homem seus deveres, mostrando suas necessidades e revelando-lhe o certo e o errado, o bem e o mal; a lei cerimonial envolve as cerimônias religiosas, apontando para a santidade de Deus, considerada como uma lei positiva; e a lei civil era a reguladora da sociedade no estado Teocrático de Israel[1]
            Uma vez considerada essa tríplice divisão da lei surge-nos uma questão: Onde o Shabbath Cristão se encaixa? O sábado se insere em qual aspecto da Lei de Deus. A Nossa Confissão de Fé nos ajuda neste particular.
  1. A Confissão de Fé de Westminster e Shabbath Cristão:

VII - Como é lei da natureza que, em geral, uma devida proporção do tempo seja destinada ao culto  de Deus, assim também em sua palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo, preceito que obriga a todos os homens em todos os séculos, Deus designou particularmente um dia em sete para ser um sábado (descanso) santificado por Ele; desde o princípio do mundo, até a ressurreição de Cristo, esse dia foi o último da semana; e desde a ressurreição de Cristo foi mudado para o   primeiro dia da semana, dia que na Escritura é chamado Domingo, ou dia do Senhor, e que há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão.[2]

  1. Compreendendo a posição confessional:

Nesta proposição confessional percebemos que o Shabbath pertence a um preceito ‘positivo, moral e perpétuo’. O que isso significa? Uma lei positiva é um mandamento divino que não é moralmente necessário (isto quer dizer que aquilo que é ordenado não é moralmente certo ou errado). Por exemplo, Adão e Eva receberam o mandamento de não comer da árvore da ciência do bem e do mal. Não implicava em ser algo moralmente errado comer do fruto – o mandamento estava vinculado a obediência e disposição deles em obedecer.
Assim quando consideramos essa questão quanto ao sábado, no que diz respeito o dia, não era algo necessariamente moral guardar o dia da semana, o sábado poderia ser celebrado em outro dia, um exemplo estava na festa de pentecostes (Lev. 23.16,21).
Mas, também temos aqui um preceito “moral e perpétuo” isto quer dizer que este mandamento aporta para a natureza moral de Deus e o nosso relacionamento com ele, e isto não pode ser alterado. O princípio de um dia especial para a adoral é uma obrigação moral e perpétua!

II – O SHABATH COMO DESCANSO DE DEUS.

            Aqui em Gênesis 2.1-3 temos algumas verdades que precisam ser pontuadas sobre a intenção original de Deus em trazer à existência o sábado. Devemos levar em consideração dos aspetos ao considerarmos este texto:
  1. Deus declara que a sua obra estava completa:
Este é o princípio claro e estabelecido no texto sagrado. Isto é notado aqui em Gênesis 2.2: “E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito.” Norte que o vocábulo “sábado” é derivado do verbo “descansou” que aparece aqui [שָׁבַת] – quando se diz que ele descansou está associado ao cessar a sua obra criadora. Ele completara toda a obra de sua criação (Gênesis 2.1). Aqui o descanso de Deus não significa que ele deixara de trabalhar.  Aprendemos no evangelho que Deus continua a trabalhar (João 5.17), e isto ele, o faz por meio de sua providência.

  1. Deus descansou com a finalidade de expressar deleitoso prazer em sua obra criada:
Este é outro princípio importante sobre a questão do sábado ou descanso de Deus no pós-criação. Moisés o expressa de forma bastante interessante em Êxodo 31.17 – a palavra alento que aparece aqui em nossa tradução; tem o sentido de contentar-se; de alegria. Ou seja, Deus descansou em profunda alegria em ver a perfeição de sua obra.
  1. O Descanso de Deus é um emblema escatológico para o homem:
Ao descansar Deus oferece ao homem (Adão) e seus descentes a vida! Esta vida em descanso eterno, se Adão não tivesse pecado, ele gozaria plenamente da comunhão com Deus e teria imenso deleite no dia de Descanso.

III – A SANTIFICAÇÃO DO DIA DE DESCANSO.
            O nosso texto também carreta um elemento importante. A Santificação do dia. É importante ao homem. Pois, aqui Deus separa o dia como um memorial da criação; como um dia em que ele descansou.
            Deus também abençoou este dia. Neste dia Deus se encontra com o seu povo para abençoar fazendo lembrar que há uma jornada de trabalho a ser cumprida, mas há um repouso garantido; e por isso, ao se encontrar com Yahwer o Deus pacto o povo recebe as bênçãos de Deus. Este é o mandato espiritual que Deus outorga ao homem.

Conclusão:

            Como Igreja de Cristo precisamos olhar para Gênesis 2.1-3 e entender que observância do descanso reporta-se de forma singular para três ideias importantes:
  1. Deus é soberano sobre a obra da criação.
  2. Ele nos deu um jornada de trabalho
  3. Que Ele nos concede um descanso para termos intima relação com ele





[1] PORTELA, Solano. A Lei de Deus – Compreendendo os Limites Traçados para As Pessoas e para a Sociedade – A Lei Moral de Deus., p. 19-20.
[2] Confissão de Fé de Westminster, Capítulo 21, seção VII

sábado, 27 de agosto de 2016

A SUFICIÊNCIA E A CLAREZA DAS ESCRITURAS

IGREJA PRESBITERIANA DE RIACHÃO DO JACUÍPE – BA.
CURSO DE IDENTIDADE PRESBITERIANA
CONHECENDO A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER.
Rev. João Ricardo Ferreira de França.
ESTUDO 03:
A Suficiência e Clareza das Escrituras
Introdução:
            No estudo hoje vamos considerar o tema da Suficiência e da Clareza das Escrituras Sagradas. No primeiro aspecto veremos o tema da suficiência e a extensão dessa suficiência das Escrituras; e no segundo momento nos concentraremos na doutrina da perspicuidade (clareza) da revelação de Deus encerrada nas páginas da Bíblia.
A fé “Reformada afirma que as Escrituras Sagradas constituem-se numa regra completa de fé e prática. Num manual completo de doutrina, práticas eclesiásticas e vida cristã”.[1] A Escritura regula toda a vida e molda a piedade do crente e nestes aspectos é simplesmente clara.
I – O QUE É O SOLA SCRIPTURA?
A resposta mais simples e clara que podemos oferecer a esta pergunta é que o “Sola Scriptura ensina que a Bíblia regula a vida em sua totalidade”[2] O Dr. Paulo Anglada nos diz que com a “redescoberta da doutrina da suficiência das Escrituras, os reformadores libertaram o povo de Deus das doutrinas e práticas impostas às consciências por autoridade meramente humana”[3]. Todavia, uma definição ampla e clara do que a doutrina significa é apresentada por Brain M. Schwertley quando diz:
Dito resumidamente, a doutrina protestante do sola scriptura ensina  que a Bíblia (os 66 livros do Velho e do Novo Testamento) é a divina  Palavra inspirada de Deus, e, portanto, infalível e absolutamente autoritativa para todos os assuntos referentes à fé e à vida. Como palavra escrita de Deus contém tudo o que existe da revelação sobrenatural de Deus, e porque cessaram todas as formas de revelação direta (com a morte dos apóstolos e o fechamento do cânon), apenas e somente a Bíblia é a autoridade da igreja. Porquanto a Escritura é clara (i.e., todo ensino necessário à salvação, fé e vida, são facilmente compreendidos pelas pessoas  comuns) não há necessidade de quaisquer fontes adicionais de autoridade para interpretar a Bíblia infalivelmente para a igreja. A igreja (sejam ou não papas, cardeais, bispos, pais da igreja, concílios eclesiásticos, sínodos ou congregações) não tem autoridade sobre a Bíblia, mas a Escritura autoautenticada tem autoridade absoluta sobre a igreja e sobre  todos os homens. Por ser o que a Bíblia é (como já visto), o mister da  igreja é puramente ministerial e proclamador. Todos os homens são  proibidos de acrescentar ou subtrair algo das Sagradas Escrituras, seja  pelas tradições humanas, ou pelas assim chamadas novas revelações do  Espírito, ou pelos decretos de concílios e sínodos. A Bíblia é suficiente e perfeita e não necessita de quaisquer acréscimos humanos. Além do que,  apenas aquilo que é ensinado na Escritura pode ser usado para tornar  cativas as consciências dos homens. [4]
II – O SOLA E O TOTA SCRIPTURA (CFW 1. VI)
  1. Definindo o Tota Scriptura:
A confissão de Fé de Westminster sustenta que tudo o que nós precisamos saber sobre como glorificar a Deus e tudo relacionado à nossa vida, fé e salvação está nas páginas das Escrituras. De acordo com Fred Klooster, “este ponto de vista a respeito da Escritura como ‘única e completa’ (sola e tota Scriptura) é exclusivamente reformado. ”[5] É bom lembrar que “as Escrituras não contêm todas as informações a respeito da criação, da natureza, do universo, ou mesmo da história”.[6] Mas, tudo o que ela  declara é suficiente e abrangente em matéria de fé e piedade religiosa. (2ª Timóteo 3.15-17)
  1. O Sola Scriptura e as Novas Revelações:
A nossa declaração de fé diz: “[...]À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; [....]”. Em nossos dias temos visto uma referência ao pentecostalismo e à tradição carismática. Se pessoas sustentam que recebem novas revelações elas estão se colocando contra a suficiência das Escrituras Sagradas. Paulo é bem enfático ao falar sobre isso em Gálatas 1.8-9. Também aqui rejeitamos as tradições dos homens O nosso Senhor Jesus ensinou isso em Marcos 7.4-9. Os homens tentam invalidar a palavra de Deus pela tradição que sustentam. Isso é atentar contra a doutrina da suficiência das Escrituras.

  1. O Sola Scriptura e a doutrina da iluminação do Espirito Santo.
A confissão também nos ensina que apenas o Espírito Santo capacita ao homem a ter uma “salvadora compreensão” da mensagem registrada na Escritura Sagrada. É o Espírito quem capacita ao homem a compreender e crer na verdade revelada (João 6.45; 1ª Coríntios 2.9-12)
  1. O Sola Scriptura e as questões Indiferentes
No final desta seção é que a CFW trata das questões indiferentes associadas à duas esferas: culto e sociedade. A primeira questão que a confissão se detém é a questão do culto, sustenta-se aqui que há:
  1. Circunstâncias de culto: ou seja, que há coisas que precisam ser observadas pela luz da natureza e prudência cristã que devem regular as circunstâncias: P.e. Pode-se fazer um culto debaixo de um pé de árvore, mas é prudente?
  2. Que o Governo da Igreja: deve ser orientado pela palavra - qual exemplo de governo a Bíblia apresenta para a Igreja?
Os puritanos, pais da Confissão, asseguram que nestes aspectos as regras gerais da Palavra de Deus devem ter sempre a primazia (1ª Coríntios 11.13-14; 1ª Coríntios 14.26,40).
III – A CLAREZA DAS ESCRITURAS (CFW. 1.VII)
A doutrina protestante da Perspicuidade das Santas Escrituras ensina que naquilo que Deus seja que o homem saiba é compreensível ao homem; entretanto, nem tudo é acessível ou claro a todos os homens, isso é muito claro na Palavra de Deus (2ª Pedro 3.16); entretanto, aquilo que o homem precisa conhecer para sua caminhada na fé e redenção é evidente nas Escrituras Sagradas. Duas verdades decorrem dessa declaração:
  1. Nem tudo é evidente a todos por causa da condição homem.
a)      Todos nascemos no pecado: Sl 51:5 – Gerado pelo pecado o homem nasce propenso a interpretar o mundo que lhe cerca pelas lentes de sua própria pecaminosidade que se insere e instala desde a sua concepção.
b)      Todos nascemos desviados: Sl 58:3 – Ao nascer o homem é uma mentira completa, pois, vive desviado e mergulhado em mentiras, logo, obscurece toda a verdade de Deus.
c)      Sabemos que tudo depende da soberania de Deus: Mateus 11.25 – o Senhor Jesus ora a Deus, o Pai porque nem tudo é revelado aos homens porque assim não foi do agrado dEle.
d)     Todos os homens são obscurecidos de entendimento. Ef 4:18 – E por fim, o homem no pecado tem os olhos de seu coração mergulhados em trevas profundas, por isso, as Escrituras não lhe são realmente claras.
3 . A Própria Palavra declara a sua clareza: As Escrituras usam imagens significativas que apontam para sua clareza.
a)      Uma Lâmpada: Salmos 119.105.
b)      Fonte de Revelação: Salmo 119.130.
c)      Um véu removido: 2ª Coríntios 3.14
d)      Um Lampião: 2ª Pedro 1.18-19
Questionário
1)      Defina com suas palavras o Sola Scriptura.
2)      O que quer dizer “Tota Scriptura?
3)      Explique este texto de Marcos 7.4-9.
4)      As novas revelações são outro evangelho? Fundamente sua resposta à luz de Gálatas 1.8-9.
5)      Quais as razões pelas quais as escrituras não são claras a todos os homens?
6)      O que ensina a doutrina da clareza das Escrituras?
7)      Quem capacita o homem a compreender a mensagem salvadora das Escrituras?
8)      Que razões podem justificar a ausência de clareza das Escrituras a todas as pessoas?
9)      Quais figuras a Bíblia apresenta para demonstrar sua clareza?
10)  Você concorda com tudo o que preceitua essas duas sessões da Confissão de Fé?







[1] ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura – A Doutrina Reformada das Escrituras. São Paulo: Os Puritanos, 1998, p.73.
[2]  SCHWERTLEY, Braian. M. Sola Scriptura e o Princípio Regulador do Culto. Tradutor: Marcos Vasconcelos. São Paulo: Editora os Puritanos, 2001, p.12
[3] ANGLADA, Paulo R. B. Sola Scriptura – A Doutrina Reformada das Escrituras. São Paulo: Editora Os Puritanos, 1998, p.73.
[4] SCHWERTLEY, Braian. M. Sola Scriptura e o Princípio Regulador do Culto. Tradutor: Marcos Vasconcelos. São Paulo: Editora os Puritanos, 2001, p.1.
[5] Apud¸ BEEKE, Joel. R. Vivendo para a Glória de Deus – Uma Introdução à Fé Reformada. Tradutor: Francisco Wellignton Ferreira. São Paulo: Editora Fiel, 2010, p. 150
[6] ANGLADA, Paulo. R.B. Sola Scriptura -  A Doutrina Reformada das Escrituras. São Paulo: Editora os Puritanos, 1998, p.74.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

O Cânon e a Autoridade das Escrituras




IGREJA PRESBITERIANA DE RIACHÃO DO JACUÍPE – BA.
CURSO DE IDENTIDADE PRESBITERIANA
CONHECENDO A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER.
Rev. João Ricardo Ferreira de França.
ESTUDO 02:
O Cânon e a Autoridade das Escrituras
Introdução:
            Neste estudo estaremos estudando um tema de capital importância para o resgate de nossa identidade confessional se faz necessário conhecermos a formação da Revelação Especial de Deus; esta formação nós chamamos de Cânon, que por sua vez, indica o nosso padrão de crença; em outras palavras a Escritura Sagrada é Cânon de nossa fé e dentro desse processo lidamos também com o tema da autoridade das Escrituras Sagradas.
I – A DOUTRINA DO CÂNON CONSIDERADA (CFW.I, 3)
1.      A Definição do Cânon:
A palavra “cânon” é uma mera transliteração do termo grego “kanw,nkanôn – que significa vara reta, régua, regra. É uma palavra usada com referência para indicar a autoridade suprema da Bíblia sobre a vida dos cristãos. Ou seja, refere-se aos livros que compõem a Bíblia conforme conhecemos.[1] Uma definição mais lexical nos informa que a origem da palavra “cânon” é derivada
de uma raiz semítica [assírio Qanû; ugarítico:Qn; hebraico: hn<q;)( (Qâneh) ocorre 61 vezes no Antigo Testamento e é sempre empregada no sentido literal (veja-se 1 Rs 14.15; Jó 40.21; Is 36.6; 42.3; Ez 40.3,5,7), significando ‘cana’ (planta que era usada para medir e pautar) “balança” (Is.46.6) e também ‘a cana para trançar os cestos, ou bastão reto[2]
Esta palavra “Cânon” indica a nossa regra, o nosso limite e ainda mais, o nosso padrão; sendo todos estes sentidos aplicados à Palavra de Deus. Os que formam a Bíblia, exceto os livros apócrifos são a regra de nossa fé, o padrão que devemos sempre seguir.

2.      Critérios para a Canonicidade Bíblica:
Como saber se os livros que temos em nossa Bíblia são de fato os livros que comunicam a revelação de Deus. Quais critérios a Igreja usou para reconhecer os livros que traziam a revelação divina?
2.1  Critério da Apostolicidade: Se um livro fosse escrito por um apóstolo, ou alguém ligado ao apóstolo deveria ser tido e incluído na lista dos livros canônicos. P.e – O Evangelho de Marcos estava ligado a pregação de Pedro.
2.2   - Critério da Leitura Eclesiástica: Se um livro ou carta fosse lida pela maioria das igrejas deveria ser incluído como um livro canônico, a prática da leitura eclesiástica remonta-se ao período apostólico (Colossenses 4.16 e em 1 Timóteo 4.13).
2.3   - Critério da Harmonia Doutrinária: Nem livro ou epístola poderia contradizer os ensinos apostólicos já estabelecidos na igreja, se ocorresse tal contradição o livro deveria ser considerado como um livro sem assinatura ou apócrifo; pois, um livro apócrifo não tem autoridade na igreja de Deus porque contradiz doutrinas bíblicas importantes.
II – A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS (CFW. I.4,5)
            Uma vez que o Cânon é formado, logicamente seu conteúdo se torna autoridade na vida da Igreja de Cristo Jesus. Vale lembrar que a autoridade das Escrituras “repousa na inspiração”[3] o registro da revelação de Deus confere a autoridade à Palavra de Deus. O que Esta doutrina significa? Significa que toda a Palavra de Deus conforme está registrada é inerrante, e, não possui erros em nada do que se propõe dizer e ensinar, por isso, deve ser aceita como autoridade suprema na vida e no culto do povo de Deus.
1.      É uma Doutrina Atestada por Cristo: Em qualquer controvérsia ele usava a expressão “está escrito” indicando que a palavra final deve ser dada a Palavra inspirada por Deus. (Mateus 4. 4,6,710) Cristo ao usar a expressão “está escrito” usa um verbo grego “ge,graptai” – gégraptai –é um verbo no perfeito que indica uma ação contínua, significando “permanece escrito”, então, o Senhor Jesus está apelando para a autoridade da Bíblia como fonte autorizada da verdade. ”; todavia, o texto que podemos ver claramente a defesa da autoridade bíblica provinda dos lábios de Cristo é aquele de João 10.35: “E a Escritura não pode falhar”.
No texto de João 10. 35 nos chama a atenção o verbo “falhar” no grego temos “luqh/nai”- lythênai – é um verbo usado para descrever a quebra do sábado (Lucas 13.16), a ideia é de quebrar, ser quebrada, ou mesmo de ser diminuída a sua importância e valor. Cristo diz que toda a Escritura é a autoridade na vida da Igreja.[4]

2.      É uma Doutrina Atestada pelos Apóstolos: O Apóstolo Paulo atesta sobre a autoridade da Palavra de Deus ao declarar que os crentes de Tessalonicenses acataram a verdade por ele pregada, “não como palavras de homens, mas como palavra de Deus”( 1 Tessalonicenses 2.13). E, ainda o Apóstolo Pedro reconhece os escritos de Paulo como escritos cheios da autoridade do próprio Deus, ao colocar as cartas de Paulo no mesmo patamar das “demais Escrituras” (2 Pedro 3.15-16)
3.      É uma doutrina incitada pelo testemunho da Igreja: O testemunho que a igreja tem oferecido  sobre a Palavra de Deus pode nos conduzir satisfatoriamente para a doutrina da autoridade bíblica. Como se dá esse testemunho?
3.1 – Na experiência Apostólica: O apóstolo Pedro fala-nos disso em seu 2ª epístola no capítulo 1.19-21. Ele no começo do texto nos informa que teve uma experiência com o Cristo ressurreto no monte da transfiguração. E termina incitado à igreja que se apegue à palavra profética. E assim, ratifica o conceito autoritativo das Escrituras na vida da Igreja.
3.2 – Na própria suficiência da Palavra de Deus: 2 Timóteo 3.16. A Escritura é útil para:
Ensinar = “διδασκαλίαν ”[didaskalian] – a escritura é a nossa escola.
Repreender = “ἐλεγμόν”{elegmon} – indica que a escritura nos capacita para refutar o erro.
Corrigir = “ἐπανόρθωσιν”[epanorthosin] – aponta para a ideia de colocar na linha, deixar reto.
Educar = “παιδείαν” [paideian] – Treinamento, instrução e disciplina

4.      O Testemunho Interno do Espírito Santo aponta para a autoridade das Escrituras: Não importa a quantidade de evidências que se apresente ao cético ou incrédulo para que creiam na autoridade das Escrituras, a Confissão de Fé de Westminster nos lembra que apenas o Espírito Santo pode oferecer plena certeza da autoridade das Escrituras. Um dos grandes defensores desta verdade foi John Owen, teólogo puritano, que “pressupunha uma afinidade e correspondência diretas entre a mente divina e a mente humana, de forma tal que Deus é capaz de falar conosco por meio de palavras, e nós, dentro dos limites de sua própria auto-revelação, podemos compreendê-lo em nossos pensamentos.”[5] Como isso ocorre?
4.1   – O Espirito Santo Guia a Igreja: O Espírito Santo é quem guia a Igreja na verdade e pela verdade isso nós aprendemos na Palavra de Deus em João 16.13-14. O papel do Espírito Santo não deixar a Igreja na ignorância mas guiá-la pra a luz da verdade do evangelho de Deus. Ele nos capacita a crermos nas Escrituras. Como nos diz Packer citando John Owen: “O Espírito Santo iluminou nossas mentes, produziu em nós a fé, capacitando-nos a crer nas Escrituras”[6]
4.2   O Espírito Santo é Mestre da Igreja: Paulo em 1 Coríntios 2.10-12, um dos objetivos do Espírito Santo que nos foi outorgado [dado] é que venhamos conhecer mais e mais a revelação de Deus nas Escrituras. Este é o ensino cristalino da Palavra de Deus sobre a Autoridade da Sagrada Escritura e relação com o Espírito Santo.
Questionário:
1)      O que significa a palavra Cânon?
2)      Quais critérios foram usados pela igreja para estabelecer o cânon que possuímos?
3)      Segundo a Confissão de Fé de Westminster como devem ser empregados os livros apócrifos? Explique.
4)      Onde repousa a autoridade das Escrituras Sagradas?
5)      A doutrina da autoridade das Escrituras é fruto do fundamentalismo cristão? Justifique sua resposta:
6)      Como a igreja nos incita à crença na autoridade das Escrituras?
7)      Como o Espírito Santo testifica em favor da Autoridade das Escrituras?
8)      Você subscreve as declarações estudadas nestas seções da CFW?




[1] ANGLADA, Paulo R. B. Sola Scriptura – A doutrina Reformada das Escrituras. São Paulo: Os Puritanos, 1998, p.33-34.
[2] COSTA, Herminstem Maia Pereira da. Inspiração e Inerrância das Escrituras. São Paulo: Cultura Cristã, 1998, p.18-19
[3]PACKER, James I. Vocábulos de Deus. São Paulo: FIEL, 2002, p.33.
[4] SCHWERTLEY, Braian. O Modernismo e a Inerrância Bíblica.  Tradutora: Denise Meister. Recife: Os Puritanos, 2000, p.30-31
[5] PACKER, J.I. Entre os Gicantes de Deus – Uma Visão Puritana da Vida Cristã. São Paulo: Editora fiel,1996, p.88.
[6] Ibid, p.100.