sábado, 26 de dezembro de 2015

FILEMON: VIRTUDES QUE ADORNAM A VIDA CRISTÃ

Exposição Bíblica
Carta de Paulo a Filemon
Tema: VIRTUDES QUE ADORNAM A VIDA CRISTÃ
Pr. João Ricardo Ferreira de França.
Introdução:
            A carta que temos diante de nós é de suma importância à vida cristã; pois, lida com questões relacionadas ao dever do cristão frente a problemática da escravidão, da compaixão cristã, do amor altruísta e libertador que o crente proclama e deve viver na sociedade como um todo.
Elucidação:
Ocasião e o propósito da carta.  Esta carta é reconhecidamente a mais curta do corpus paulino, alguns estudiosos tem classificado como um bilhete pessoal de Paulo a um cristão chamado Filemon. Entretanto, ao associar Timóteo (Filemon 1.1) nas linhas inicias deixa-nos claro que trata-se de uma carta para ser lida no culto público. A ocasião da escrita se dá quando um personagem chamado Onésimo comete um ato injusto ao seu senhor que   é Filemon e foge, ao fugir provavelmente é preso e encontra-se com Paulo na prisão, este por sua vez o evangeliza, e o traz a fé cristã. A natureza do delito não é descrita em detalhes, Onésimo provavelmente tenha furtado ao seu Senhor (vs.18), mas a lei romana estabelecia que quem desse abrigo a um escravo que cometeu tal ato ilícito deveria reparar os danos causados ao senhor é o que parece indicar o verso  19: “Eu, Paulo, de próprio punho, o escrevo: Eu pagarei -- para não te alegar que também tu me deves até a ti mesmo.”
            A lei na época estabelecia que o escravo fugitivo deveria ser açoitado e em alguns casos crucificado por traição. Paulo intercede por Onésimo para que Filemon o perdoe, o pedido de Paulo era revolucionário para a época porque a Lei romana determinava outra coisa. Essa ação de Filemon deveria ser algo voluntário (vs.14)
Local e data:
            Há uma discussão sobre o local e a data da escrita desta carta. De onde Paulo escreveu esta epístola? Alguns sugerem que fora em Roma, entretanto, nos parece que a carta foi escrita de Éfeso  quando Paulo estivera preso provavelmente no ano 55 A.D.
As Virtudes da Vida Crista:
Quais são as virtudes que adornam a vida cristã?
I – O DESEJO DE PROMOVER A UNIDADE NA IGREJA DE DEUS (vs.1-3)
Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus, e o irmão Timóteo, ao amado Filemom, também nosso colaborador, e à irmã Áfia, e a Arquipo, nosso companheiro de lutas, e à igreja que está em tua casa, graça e paz a vós outros, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
            Paulo inicia esta carta colocando-se como “prisioneiro de Cristo Jesus” a palavra prisioneiro na língua grega “δέσμιος (Phm 1:1 BGT)” é usada para referir-se a uma prisão factual. Ao identificar-se como prisioneiro de Cristo Jesus no grego indica que ele está escrevendo como um comissionado (um escravo) de Cristo para comunicar as verdades de Deus e que sua mensagem deve ser aceita como autoritativa.
            Na carta se menciona Timóteo e o endereçado que é Filemom. Filemom é chamado de amado “ἀγαπητῷ (Phm 1:1 BGT)” alguém por quem Paulo nutria um amor sacrificial, Filemon era “colaborador” do evangelho juntamente com sua esposa Áfia; e Arquipo era também companheiro de lutas, uma vez que assumira as funções pastorais de Epafras naquela comunidade.
            Como Filemom era cooperador na obra do evangelho? Somos informados que ele acolhia a igreja de Deus em sua casa. A igreja aqui certamente era a de Colossenses. E, o apóstolo desejara “a graça e a paz” na vida da Igreja que ali se reunia para promover a unidade e o amor cristão, pois, Judeus e gentios principalmente adoravam ao Deus vivo e eram escravos de Cristo Jesus.
II – A DEMONSTRAÇÃO DE AMOR E ZELO PARA COM TODOS OS SANTOS (VS.4-7)
4 Dou graças ao meu Deus, lembrando-me, sempre, de ti nas minhas orações, 5estando ciente do teu amor e da fé que tens para com o Senhor Jesus e todos os santos,  6 para que a comunhão da tua fé se torne eficiente no pleno conhecimento de todo bem que há em nós, para com Cristo. 7 Pois, irmão, tive grande alegria e conforto no teu amor, porquanto o coração dos santos tem sido reanimado por teu intermédio.
            Agora neste momento Paulo quer cientificar a Filemom que sempre agradece a Deus pela existência daquele irmão; ele o faz sempre em orações em favor de Filemon. Mas, a grande questão é por que Paulo sempre lembra-se desse crente? Por que ele está sempre lembrando de Filemom em suas orações? E a resposta está no fato de que este irmão tem adornado a sua vida cristã com atitudes singulares de um crente. Paulo agradece pela vida de Filemom porque “ouviu” a respeito a respeito do amor e da fé que eram demonstrados a Cristo e aos santos por aquele crente. (vs.5)
            Estas duas virtudes cristãs “amor e fé” para com Jesus Cristo e todos os santos, motivaram a Paulo a agradecer pela vida de Filemom como um cristão dedicado a Deus e a sua igreja. Este amor era direcionado a Cristo “no sentido de aspirar a seguir a Cristo” bem como para com toda a “família de Deus” reunida na igreja.
            Nos versos 6 e 7: “6 para que a comunhão da tua fé se torne eficiente no pleno conhecimento de todo bem que há em nós, para com Cristo. 7 Pois, irmão, tive grande alegria e conforto no teu amor, porquanto o coração dos santos tem sido reanimado por teu intermédio.”
            Paulo ressalta a finalidade de sua gratidão que consiste no fato de que a “comunhão” (ἡ κοινωνία (Phm 1:6 WHO)) da fé fosse eficiente na prática de todo bem; é como se Paulo desejasse que essa fé de Filemom viesse a ser demonstrada em “generosidade por meio do serviço amoroso” no pleno conhecimento do bem que deve haver nos crentes, uma vez isso demonstrado não para com os homens, mas para com Cristo.
            Paulo no verso 7 dirige-se a Filemom transbordante de alegria obtidos em conforto promovidos pelo amor que este irmão demonstrara, isto porque o coração da comunidade era reanimado constantemente por intermédio dele.
            A palavra grega para “conforto” é [παράκλησιν (Phm 1:7 WHO)] que significa encorajado. E o termo “reanimado” no grego é “ἀναπέπαυται (Phm 1:7 WHO)” (anpepautai) que significa trazer “refrigério” com o sentido de renovação depois do sofrimento – aquela igreja estava sem seu pastor durante muito tempo (Epafras) e por vezes poderia até esmorecer, mas um irmão da comunidade reanimava o coração dos santos constantemente. E o velho apóstolo encontrava-se encorajado a continuar o trabalho e a jornada frente às igrejas de Deus.
III – NA PRÁTICA DA PIEDADE CRISTÃ (VS.8-25)
8 Pois bem, ainda que eu sinta plena liberdade em Cristo para te ordenar o que convém, 9 prefiro, todavia, solicitar em nome do amor, sendo o que sou, Paulo, o velho e, agora, até prisioneiro de Cristo Jesus; 10 sim, solicito-te em favor de meu filho Onésimo, que gerei entre algemas.  11 Ele, antes, te foi inútil; atualmente, porém, é útil, a ti e a mim.  12 Eu to envio de volta em pessoa, quero dizer, o meu próprio coração. 13 Eu queria conservá-lo comigo mesmo para, em teu lugar, me servir nas algemas que carrego por causa do evangelho;  14 nada, porém, quis fazer sem o teu consentimento, para que a tua bondade não venha a ser como que por obrigação, mas de livre vontade. 15 Pois acredito que ele veio a ser afastado de ti temporariamente, a fim de que o recebas para sempre, 16 não como escravo; antes, muito acima de escravo, como irmão caríssimo, especialmente de mim e, com maior razão, de ti, quer na carne, quer no Senhor.  17 Se, portanto, me consideras companheiro, recebe-o, como se fosse a mim mesmo. 18 E, se algum dano te fez ou se te deve alguma coisa, lança tudo em minha conta.  19 Eu, Paulo, de próprio punho, o escrevo: Eu pagarei -- para não te alegar que também tu me deves até a ti mesmo.  20 Sim, irmão, que eu receba de ti, no Senhor, este benefício. Reanima-me o coração em Cristo.
            Esta seção trata do pedido de Paulo direcionado a Filemom em favor de Onésimo (vs.8-10). O apóstolo Paulo poderia ordenar a Filemom a agir de forma cristã em relação a Onésimo, visto ser Paulo uma autoridade apostólica singular neste contexto; entretanto, ele tenta persuadi-lo a agir com amor (vs.9), pois, a igreja é a comunidade do amor, não do ódio, da ira e de rancores. Pois, quem está solicitando essa ação piedosa em amor é Paulo o embaixador (o velho - πρεσβύτης (Phm 1:9 BYZ)) que se encontra em algemas pelo evangelho.
 A palavra solicitar (vs.10) aqui tem o sentido de encorajar; ou seja, Paulo está encorajando a Filemom a agir de acordo com a prática da lei do amor e não de Roma. Revelando assim o seu propósito em escrever esta carta. Paulo chama Onésimo de seu filho “gerado entre algemas” usando  a metáfora da paternidade, revelando que tinha agora autoridade espiritual sobre Onésimo.
No verso 11 – Paulo usa um jogo de palavras com o nome do escravo. Este nome era muito comum na época, muitos escravos recebiam o designativo de “Onésimo” que significa “útil”. Paulo diz que antes da conversão o Escravo de Filemom era inútil, mas agora é útil tanto a Filemom como a Paulo na causa do evangelho. Então, Paulo toma a decisão de enviá-lo novamente a Filemom. Mas, de forma dramática Paulo diz que está enviando o seu próprio coração (vs.12), o desejo de Paulo é que Onésimo seja seu ajudante na obra missionária (vs.13) e o pedido de Paulo é claro sobre isso, caso o escravo ficasse livre o mesmo deveria voltar para servir a Paulo no trabalho laborioso da proclamação do evangelho.
Entretanto, o apóstolo não quis fazer nada sem a autorização de Filemom (vs.14) revela-nos o caráter Paulo em cumprir a demanda legal neste assunto, pois, um escravo fugitivo deveria ser devolvido ao seu dono legal. Paulo apela para a consciência de Filemom no que respeita a tratar de modo digno Onésimo. Paulo relembra no verso 15 que o escravo havia sido tirado dele temporariamente para que pudesse reavê-lo, o apóstolo vê nisso a mão da providência, pois, agora Onésimo não mais um escravo que ao morrer não teria o caminho dos santos, pelo contrário agora ele tem morada eterna – por isso Filemom o tem para sempre!
Nos versos 16-20: somos introduzidos ao apelo de Paulo pela prática da piedade de Filemom em relação ao escravo.
            O apóstolo assegura que Filemom recebesse a Onésimo não como um escravo,  mas muito acima disso, como um irmão caríssimo,  mas de forma dramática Paulo se coloca no lugar do escravo e pede que Filemom o trate como se tivesse tratando a Paulo.
            O apóstolo ainda assegura cobrir todos os prejuízos ocasionados pela fuga de Onésimo, mas ressalta que o próprio Filemom devia sua vida cristã a Paulo, pois, fora o apóstolo quem o havia conduzido à fé cristã. (vs.18-19); e o desejo de Paulo é que Filemom aja com piedade cristã para que seu coração seja novamente reanimado em Cristo. (vs.20)
            Paulo está certo da obediência de Filemom (vs.21) e deseja em breve visitar a igreja, pois, está ciente de que está continua orando por ele. E termina enviando as saudações de todos os que labutam com ele no ministério cristão: Epafras que estava preso por causa do testemunho de Cristo; Marcos, aristarcos e Demas (quando ainda servia a verdade) e Lucas  cooperadores. O desejo de Paulo é que a graça de Cristo estivesse presente na vida de Filemom a despeito de toda a situação que estava vivendo.