TEXTO BÍBLICO: ECLESIASTES 5.1-7
TEMA: TEMOR REVERENTE DIANTE DE DEUS
Rev. João França.
INTRODUÇÃO:
Este
texto que temos diante de nós é significativo pois lida diretamente com o tema
da adoração ao senhor. Isto por si só é surpreendente porque o texto de
Eclesiastes tem sido encarado como um livro que trata da perspectiva negativa
da vida neste mundo. O texto é uma nova pericope pela mudança tônica de assunto
“Guarda o teu pé quando entrares na casa de Deus” [vs.1] esta unidade é
definida pelo inclusio através do uso dos imperativos presentes “guarda”
(vs.1) e “teme a Deus”(7) deve-se considerar que no versículo 8 o tópico muda
do cenário da adoração e volta-se para questão social no tema sobre “a opressão
do pobre!”[1]
Esta passagem
pode ser tomada como um texto de instrução sobre a Adoração a Deus. Um dos
temas significativos em todo a o Antigo Testamento. Por isso, “Eclesiastes 5
abre com uma exortação: é preciso ter verdade e reverência na adoração a Deus.”[2] Os imperativos usados aqui
apontam que a intenção autoral é oferecer uma instrução sobre a adoração
pública. Aqui Salomão utiliza quatro exortações significativas ou imperativos
que estão diretamente relacionados ao serviço litúrgico no Antigo Testamento.
Esse texto
revela-nos que existem muitas pessoas que veem a igreja sem algum senso de
santidade do culto. Sem o mínimo de reverência diante de Deus. Salomão ao
proclamar estas verdades aqui enunciadas tem por finalidade tratar desta
irreverência diante da Assembleia solene que é o culto a Deus. As vezes a
Adoração tem sido apenas proforma! Mero ritualismo, mera convenção social, um
mero programa para se fazer no domingo, os corações de muitos adoradores estão
longe de seu objeto de Culto, que neste caso é Deus!
A mera
formalidade havia tomado conta do povo de Israel no Antigo Testamento.
Malaquias retrata a degeneração litúrgica do povo da aliança. Neemias trabalhou incansavelmente para que o
dia de adoração no Antigo Testamento fosse honrado e o culto fosse valorizado
(Neemias 13.15-21), vemos este servo do Senhor lutando contra aqueles que
negociavam nesse dia. Essa conduta é terrível para uma pessoa que se diz
adoradora do Senhor.
I – OUVINDO A DEUS COM REVERÊNCIA. (VS.1-3)
A
Pergunta é como devemos guardar o pé? Salomão oferece uma explicação, por assim
dizer, desta pergunta: “”Chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer
sacrifícios tolos” aqui certamente aponta para a profunda reverência que os
adoradores demonstravam, ou pelo menos deveriam demonstrar, quando ocorria os
sacrifícios dos animais no ato da imolação, havia um silêncio, pois, aquilo
indicava a recepção da oferta quanto do ofertante diante de Deus. Pois, havia o
sentimento de que Deus estava ali presente naquele ato singelo.
O processo
do culto verterotestamentário estava em o Sacerdote ler a Lei de Deus e
oferecer explicações da lei. E, ai temos a segunda linha do verso 1 quando diz “chegar-se
para ouvir” – ouvir a Palavra de Deus é mais importante, na verdade é
fundamental na vida do cristão. Ouvir a Deus na sua palavra é importante para o
povo do pacto. A pregação da Palavra é a Palavra de Deus anunciada.
Então,
compete-nos indagar a Pregação é a Palavra de Deus? Quando se prega se está
anunciando a Palavra de Deus? Em seu primeiro capítulo na Segunda
Confissão Helvética, Bullinger, fala-nos sobre isso nos seguintes termos: A Pregação
da Palavra de Deus é palavra de Deus. Por isso, quando a Palavra de
Deus é presentemente pregada na igreja por pregadores legitimamente chamados, cremos
que a própria palavra de Deus é proclamada e recebida pelos féis; e que
nenhuma outra palavra de Deus deve ser inventada nem esperada do céu... T.H.L
Packer nos lembra que “Isto não significa identificação absoluta da
palavra pregada com a palavra escrita. As Escrituras são definitivas e
supremas, inerentemente normativas, enquanto que a autoridade da pregação é
sempre delas derivada e a elas subordinada.”[3] Não significa também que a pregação seja inspirada ou
inerrante. Os pregadores, por mais fiéis que sejam na exposição das Escrituras,
não são preservados do erro como o foram os autores bíblicos. Muito menos
significa que os ministros da Palavra sejam instrumentos de novas
revelações do Espírito. O próprio documento reformado acima citado repudia essa
ideia, ao afirmar que “nenhuma outra palavra de Deus deve ser inventada nem
esperada do céu.”[4]
É na condição de embaixador que o pregador fala, ele transmite a Palavra de
Deus. O próprio João Calvino ensina que a pregação é a Voz de Deus, pois, em
seu comentário de Isaías ele afirma que na pregação “a palavra sai da boca de
Deus de tal maneira que ela de igual modo sai da boca de homens; pois Deus não
fala abertamente do céu, mas emprega homens como seus instrumentos, a fim de
que, pela agência deles, ele possa fazer conhecida a sua vontade.”[5]
Então,
quando lemos Salomão declarar que devemos nos achegar na sua casa devemos está
ali para “ouvir!” Agora consideremos a expressão “tolos” que aparece aqui neste
texto. Será que prestar os outros elementos litúrgicos (como os sacrifícios) é
algo sem sentido? Na verdade, o uso desta palavra aqui descreve a intenção tola
destes adoradores, pois, eles acreditavam que eles poderiam ser aceitos diante
de Deus quando ofereciam aquilo que não lhes era útil.
Os animais
apresentados para serem imolados muitas vezes eram defeituosos: cegos, coxos e
doentes. Estes “tolos” também acreditavam que seus sacrifícios perdoavam
instantaneamente os seus pecados! E que não necessitavam de arrependimentos. O
ponto que o pregador aqui quer enfatizar é que devemos, antes de tudo ir ao
culto ouvir o que Deus tem a nos ensinar, ouvir o que ele tem a dizer.
Assim, como o povo de Israel no passado nós precisamos ouvir o que Deus tem a
nos ensinar.
Cristo
também enfatiza a necessidade de ouvir a Deus constantemente e o seu ensino
conforme lemos: Mateus 11.15; 13.9,43; João 8.47; Apocalipse 2.7,11,17,29;
3.6,13,22. Neste sentido a igreja deve ser reverente. Deve saber ouvir a Deus
sempre!
O segundo aspecto de uma adoração reverente envolve, também, a questão da oração. Observe o que Salomão nos ensina no versículo 2: “Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras.” Observe o termo “palavras alguma diante de Deus” [דָבָ֖ר לִפְנֵ֣י הָאֱלֹהִ֑ים] (davar lipenei há elohim)geralmente significa “no templo, na presença de Deus” – devemos moderar as nossas palavras diante de Deus. Isto porque o pregador apresenta a distância entre nós e Deus “está nos céus, e tu na terra” – notemos que a ênfase de Salomão é que devemos sempre guardar um silêncio sábio diante de Deus, ele repete isso no final deste verso 2: “portanto, sejam poucas as tuas palavras”. Notemos que a primeira orientação que Salomão faz para aquele que vem se apresentar diante de Deus é que ele deve “ouvir” e seja “tardio para falar” – moderação na fala! Jesus no Novo Testamento ensinou isso em Mateus 6.7-9: “E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos. 8 Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais. 9 Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome;” Jesus aqui assegura-nos que as nossas palavras devem poucas. Isto porque Deus conhece cada uma das nossas necessidades.
O pregador
reforça a ideia da brevidade de nossas palavras “sejam poucas as tuas palavras”
quando recorre um provérbio bastante conhecido no oriente próximo, conforme ele
demonstra no versículo 3: “Porque dos muitos trabalhos vêm os sonhos, e do
muito falar, palavras néscias.”.
A ideia
aqui no texto é que muitas preocupações levam os homens aos sonhos. Do mesmo
modo a voz do tolo leva-o para palavras “nécias”. Vemos aqui uma ênfase nas
atitudes dos tolos (1) em oferecer sacrifícios de tolo (vs.1); (2) “palavras
tolas” (vs.3); o pregador opta pela moderação no uso das palavras quando se
está diante de Deus.
II - CUMPRINDO COM NOSSAS PROMESSAS A DEUS (v. 4-6)
Agora o
pregador se volta para mostrar a importância do voto com ato de culto e
adoração a Deus; entretanto, ele começa mostrando a atitude do “tolo” observe o
versículo 4: “Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo;
porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes.” – Deus não tem prazer
no tolo, daí uma necessidade de sermos pessoas sábias que adoram a Deus. Aqui o
pregador faz alusão direta ao texto de Deuteronômio 23.21-22: “21
Quando fizeres algum voto ao SENHOR, teu Deus, não tardarás em cumpri-lo;
porque o SENHOR, teu Deus, certamente, o requererá de ti, e em ti haverá
pecado.22 Porém, abstendo-te de fazer o voto, não haverá pecado em
ti.”
A Escritura
apresenta de forma abundante exemplos de votos que foram de pessoas sábias e de
pessoas tolas. Uma destas pessoas é Ana conforme lemos fez um voto ao senhor
por um filho que ao nascer seria devolvido ao senhor como servo no tabernáculo;
Deus abençoou Ana e ela cumpriu seu voto; outra pessoa que nos vem a mente é o
caso de Jefté que voto de tolo foi aquele daquele homem! Mas, infelizmente nem
todos que assistem na casa cumprem adequadamente seus votos, Deus atendeu o
voto, mas aquele que o fez não o cumpriu; então o pregador oferece mais uma
orientação. O versículo 5 declara isso: “5 Melhor é que não votes do
que votes e não cumpras.”
O Novo
Testamento oferece um exemplo surpreendente da ira de Deus quando a pessoa não
cumpre seus votos. Ananias e Safira aparentemente votaram que entregariam o
dinheiro da venda de uma propriedade à igreja para a distribuição aos
necessitados. Mas, secretamente, retiveram para si parte do dinheiro. Pedro
disse a Ananias: “Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não
estaria em teu poder?” Pela mentira, Ananias e Safira foram punidos com a
morte, “e sobreveio grande temor a toda a igreja e a todos quantos ouviram a
notícia desses acontecimentos” (At 5.4,11).[6]
Jesus ele ensinou a importância do juramento e do voto
(Mateus 5.34-37) quando declara:
34 Eu, porém, vos digo: de modo algum jureis;
nem pelo céu, por ser o trono de Deus; 35 nem pela terra, por ser
estrado de seus pés; nem por Jerusalém, por ser cidade do grande Rei; 36
nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. 37
Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do
maligno.
A nossa
Confissão de Fé de Westminster vai nos ensinar que o juramento e voto são da
mesma natureza uma coisa está atrelada a outra. Não podemos quebrar um voto sem
está quebrando a lei de Deus! “V. O voto é da mesma natureza que o juramento
promissório; deve ser feito com o mesmo cuidado religioso e cumprindo com igual
fidelidade.” (CFW, Cap.22, seção 5).
Hoje, na igreja, ainda fazemos
votos a Deus. Quando nos casamos, prometemos diante de Deus vivermos juntos
como marido e esposa “até que a morte nos separe”. Quando apresentamos nossos
filhos para o batismo, prometemos instruí-los na fé cristã e conduzi-los no
discipulado cristão. Quando somos ordenados como oficiais da igreja, prometemos
cumprir fielmente esse chamado. Também podemos fazer promessas particulares a
Deus na igreja: “Se Deus me curar, eu...” O ponto é: devemos cumprir essas
promessas se quisermos adorar a Deus com reverência.[7]
A situação é tão séria que o
pregador orienta: “Não consintas que a tua boca te faça culpado, nem digas
diante do mensageiro de Deus que foi inadvertência; por que razão se iraria
Deus por causa da tua palavra, a ponto de destruir as obras das tuas mãos?”
Aqui parece que o pregador esteja fazendo referência aqueles que faziam votos
em dá uma certa quantia ao templo! Então, quando eram abençoados não o faziam,
e diziam que fez o voto de forma inadvertidamente ao mensageiro que era enviado
para lembrar-lhe do voto que havia feito.
Muitos de nós temos esta atitude.
Prometemos a Deus em voto contribuir com a Igreja caso uma causa, uma situação
financeira seja resolvida, e quando vem a resolução. Então, quebramos a Lei de
Deus. Note que o pregador insiste que agindo assim pode-se se inflamar a ira de
Deus contra aquele que não cumpriu o seu voto!
O Pregador conclui com o verso 7:
“Como na multidão dos sonhos há vaidade, assim também, nas muitas palavras; tu,
porém, teme a Deus”. A primeira parte deste verso parece ser outro provérbio
que reforça a orientação de que não devemos deixar que a boca nos leve ao
pecado. Como muitos sonhos são vaidades, isto é, vazios e fúteis, assim também
uma multidão de palavras na adoração é vazia e fútil. Até mesmo nossa adoração
a Deus pode ser sem substância, fútil, por causa da “multidão de palavras”.
A última ordem que encontramos
aqui é o temor a Deus. O alvo da igreja em sua adoração é promover e vivenciar
o temor a Deus. Consequentemente, o Pregador conclui com uma última ordem:
“Teme a Deus”. Em vez de usar palavras vazias, tema a Deus. O livro de
Provérbios enfatiza que “o temor do Senhor é o princípio do saber” (1.7; cf.
9.10; 31.30). O Pregador diz que o temor do Senhor é o princípio da adoração. Temer
a Deus não significa que devemos ter medo de Deus ou ficar aterrorizados quando
estamos na sua presença. Temer a Deus significa que reverenciamos a Deus, que
temos reverência por ele, que comparecemos à sua presença com reverência.
[1]
Veja-se GREIDANUS, Sidney. Pregando Cristo a partir de Eclesiastes. São
Paulo: Cultura Cristã, 2017, p.141.
[2]
RAYKEN, Phillip. Estudos Bíblicos Expositivos em Eclesiastes. São Paulo:
Cultura Cristã,
[3]
T. H. L. Parker, Calvin’s Preaching (Edinburgh: T&T Clark, 1992), p.23
[4]
ANGLADA, Paulo. Introdução à Pregação Reformada – Uma Investigação Histórica
sobre o Modo Bíblico-Reformado de Pregação. Ananideua – PA: Knox
Publicações, 2005, p.61.
[5]
Apud, ANGLADA, Paulo. Introdução à Pregação Reformada – Uma
Investigação Histórica sobre o Modo Bíblico-Reformado de Pregação. Ananideua
– PA: Knox Publicações, 2005, p.64
[6]
Veja-se GREIDANUS, Sidney. Pregando Cristo a partir de Eclesiastes. São
Paulo: Cultura Cristã, 2017, p.151
[7]
Ibid, p.152
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