A IMPORTÂNCIA DO ANTIGO TESTAMENTO HOJE.
Rev. João Ricardo Ferreira de França.
Nos dias hodiernos temos presenciado
uma espécie de rejeição ao Antigo Testamento. Especialmente quando procuramos
em nossas listagens de sermões (se por acaso tenhamos alguma) quantos nós
pregamos no Antigo Testamento, iremos observar o quanto o negligenciamos!
Por que há tanta negligência neste
particular? Uma das respostas a ser oferecidas trata-se da distância cultural
entre o texto do Antigo Testamento e a nossa cultura atual. Richard Pratt jr,
declara:
[...]nosso tempo é diferente do mundo do Antigo Testamento. Os avanços
tecnológicos criam um distanciamento. Não usamos carruagens e espadas; usamos
misseis nucleares e sistemas de defesa
por satélite. Sociologicamente, não somos doze tribos vivendo na Palestina;
somos inúmeros congregações por todo o mundo. Até mesmo o caráter sobrenatural
de muitos acontecimentos fazem com que pareçam distantes de nós. Os evangélicos
creem que os milagres relatados na Bíblia ocorreram de fato. O machado de ferro
de Eliseu literalmente boiou na água (2º Reis 6.1-7); fogo do céu realmente
caiu sobre o sacrifício de Salomão no
Templo (2º Crônicas 7.1)[1]
A importância deste texto Antigo se
revela na necessidade que temos de compreender as verdades do Novo Testamento a
luz do Antigo; essa pressuposição é básica pra a compreensão da mensagem e
relevância do texto veterotestamentário. Walter C. Kaiser Jr nos lembra que é
chegado “o momento de uma nova avaliação das nossas razões para evitar esta
seção da Bíblia. Juntamente com um argumento favorável a procurar no Antigo
Testamento as respostas para as questões contemporâneas...”[2] É precisamente esta avaliação supramenciona
por Kaiser que precisamos encarar, se acreditamos na unidade entre os
testamentos, se cremos que a primeira parte das Escrituras se reveste de plena
autoridade de igual modo a segunda parte.
A importância de
se estudar o Antigo Testamento está no fato de que o mesmo é a fonte de
revelação pactual para o povo de Deus. Aquilo que é dito sobre a totalidade das
Escrituras se aplica de modo peculiar ao Velho Testamento, nas palavras de van
Groaningen:
O registro
escrito contém uma variedade de gêneros literários. experiências são
registradas de um modo jornalístico. A maior parte do registro consiste de
eventos históricos descritos, avaliados, interpretados, vários tipos de
material legal, pronunciamentos proféticos, admoestações em forma de sermão,
diálogos hinos e orações. Mas incluídas em tudo isto, explícita ou
implicitamente, estão as comunicações verbais de Deus. Tais comunicações
são fonte de unidade, harmonia,
significado, propósito e valor do registro escrito.[3]
.Então, essa singela consideração já por si mesma suficiente para nos
apresentar a suficiência e a importância do Antigo Testamento para os nossos
dias. Reconhecer o caráter revelacional do Velho Testamento é fundamental para
a prática da exegese saudável. Juan F. Martínez apresenta uma avaliação com
perspicácia singular:
Para muitos
cristãos o Antigo Testamento (AT) é algo assim como o apêndice do corpo humano.
Se suspeita que em algum tempo passado teve certa importância, porém, no dia de
hoje a sua utilidade é marginal. A parte de alguns salmos e uma série de
histórias e biografias, o AT tende a ser um livro fechado para a margem da vida
da igreja.[...] Porém se temos de “desmarginalizar” o AT, é vital entender a
importância de sua mensagem para a vida e ensino da igreja. [4]
Walter C. kaiser Jr, nos apresenta algumas razões importantes pelas quais
devemos considerar a importância do texto veterotestamentário. Alegando que o
próprio texto sagrado sai em sua própria defesa[5],
e apresenta de forma bem lacônica tal defesa:
1.
O Antigo Testamento é a Poderosa Palavra de Deus: Kaiser argumenta
que a primeira seção da Bíblia está além de ser uma mera palavra de mortais
escrita para a humanidade, o livro sagrado possui uma variedade de estilos,
revelando a individualidade, dons e talentos dos escritores, mas ressalta que a
“preparação dos autores foi uma obra de Deus” e que a mensagem registrada
resulta da revelação de Deus. Argumentando que a vocação profética pode-se dá
desde o ventre (Jr. 1.4-5) ou pode ser tardia (Is.1-5), a insistência dos
autores em afirmar que recebiam uma revelação de Deus e que deveriam ser
distinguidas de suas própria palavras, norteiam a maneira como estudar a
revelação divina no Antigo testamento (Jr. 23.28,29), Kaiser argumenta que
nenhum cristão do Novo Testamento, incluindo o apóstolo Paulo aceitaria uma
diminuição do Antigo testamento, e ressalta a importância do mesmo ao escrever
sobre sua suficiência em termos tão majestosos (2ª Tim 3.16-17)[6]
2.
O Antigo Testamento nos leva a Jesus, o Messias: Combatendo a ideia
dispensacionalista (a ruptura entre o Antigo e Novo Testamento) Kaiser nos diz
que tal ruptura traz em seu bojo um dos resultados mais trágicos na história do
povo pactual. Pois, sugere que no Antigo Testamento não há nada de messiânico a
ser buscado, a ser estudado, na verdade o Novo Testamento fica sem sentido
completamente. Walter Kaiser argumenta
que o conceito messiânico está no âmago da mensagem do Antigo Testamento
onde há aproximadamente 456 textos veterotestamentários que fazem alusão direta
ao Messias. E segue argumento em prol da defesa de que o Velho Testamento
aponta para Cristo desde o pentecostes (Atos 2.16-36) e textos relacionados
como Joel 2.28-31; e o salmo 16, 110, eles são claramente apresentados no Novo
Testamento como messiânicos e aplicados a Cristo, e a conclusão inescapável é
que o Antigo Testamento conduz os homens a Cristo, pois, o Antigo Testamento
fala de Jesus (Jo. 5.39)[7]
3. O Antigo Testamento trata
das questões da vida: Acredito que boa parte da negação da importância do
Antigo Testamento está naquilo que chamamos da “Ditadura da relevância”! O
Velho Testamento parece ser um texto muito distante e não tem nada a dizer à
nossa cultura atual. Kaiser mais uma vez fala dessa relevância. Revelando que o
escopo do Antigo Testamento “sobre grandes questões da vida é extremamente
amplo e assombroso no seu aspecto prático”, então, ele ilustra isso de forma
interessante; como, as questões ecológicas e da dignidade humana expressa nos
primeiros capítulos de Gênesis (1-11); sobre as relações intimas e conjugais
expressas em Cantares de Salomão, e “uma teologia da cultura, no livro de
Eclesiastes”. As leis morais e o valor da vida humana conforme ensinada no
Antigo Testamento mostram a sua relevância para hoje é singular.[8]
4. O Antigo Testamento foi
usado como a Autoridade Exclusiva na Igreja Primitiva: Esta argumentação é
magnânima. A ênfase ao termo “Está escrito” e a palavra “Escritura” foi
amplamente usado nos dias da Igreja Primitiva. o termo grego “gra,fh” [grafê]
e o seu correlato “gra,fai”[grafai] na maioria de suas ocorrências
no Novo Testamento se faz alusão ou referência ao Antigo Testamento. O Cristo
ressurreto fundamenta todo seus sofrimento e glorificação nas Escrituras do
Antigo Testamento ( Lucas 24.25-26).[9]
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
O Antigo Testamento é importante para a
igreja Cristã porque sua mensagem é
como um alicerce no qual toda a teologia das Escrituras é construída; sem ele a
mensagem redentiva não encontra sentido é justificativa.
O Antigo Testamento é relevante para nós
hoje porque o Apóstolo Paulo assegura esta verdade em Romanos 15.4: “pois, tudo quanto, outrora foi escrito para
o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das
Escrituras, tenhamos esperança”
O argumento de
Paulo é claro, que o Antigo Testamento é suficiente em matéria de doutrina e
vida! Todo ensino (conhecimento, compreensão) que a igreja cristã possui é
derivado e oriundo do Antigo Testamento. Todo conforto e consolo que a igreja
neotestamentária precisa encontra-se no Velho Testamento, nele somos consolados
e instruídos, no livro dos Salmos, por exemplo, somos confortados; e, em
Provérbios somos instruídos na sabedoria; só para termos alguns exemplos do
Antigo Testamento.
[1]
PRATT JR, Richard. Ele nos deu História
– Um Guia Completo para Interpretação
das Histórias do Antigo Testamento, São Paulo: 2004, p. 358.
[2]
KAISER JR, Walter C. Pregando e
Ensinando a Partir do Antigo Testamento – Um Guia para a Igreja. Tradução:
Degmar Ribas. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p.21.
[3]
GRONINGEN, Gerard van. Revelação
Messiânica no Antigo Testamento. Tradutor: Cláudio Wagner. São Paulo:
Cultura Cristã, 2003, p. 54-55.
[4]
MARTÍNEZ, Juan F. A Mensagem do Antigo
Testamento para a Igreja de Hoje. Tradutor: João Ricardo Ferreira de
França. São Raimundo Nonato – PI: Centro de
Estudos Presbiteriano, 2010, p. 5.
[5]
KAISER JR, Walter C. Pregando e
Ensinando a Partir do Antigo Testamento – Um Guia para a Igreja. Tradução:
Degmar Ribas. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p.22
[6]
ibid,p.22-27.
[7] Ibid, p.27-30.
[8] Ibid, p. 30-31
[9] Ibid, 31-33.
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