sábado, 12 de fevereiro de 2022

OS CINCO PONTOS - DEPRAVAÇÃO TOTAL

 

Estudo: Os Cinco Pontos do Calvinismo.

Depravação Total do Gênero Humano.

Prof. Rev. João França.[1]

INTRODUÇÃO:

Este é um assunto bastante discutido nas mídias sociais, nos grupos de estudos, nas salas de aulas de escola bíblica. Vivemos um novo momento na teologia cristã; tem havido um interesse significativo pelas doutrinas da graça entre os jovens de diversas denominações históricas ou não. Por outro lado, há uma tendência de muitos acharem que os cinco pontos do calvinismo ou Tulip esgota toda doutrina reformada. Na verdade vivemos aquilo que chamo de tulipação da teologia reformada. Na verdade a Tulip é apenas um resumo da soteriologia (doutrina da salvação) do calvinismo ou fé reformada.

Antes de entrarmos na explicação dos cinco pontos é necessário definirmos alguns termos, pois, podem oferecer uma má compreensão do assunto. O primeiro vocáculo é o termo calvinismo. O nome reporta-se à figura de João Calvino (1509-1564) que fixou residência em Genebra e alí atuou como reformador. O nome dele posteriormente foi dado em homenagem a um sistema teológico desenvolvido a partir do estudo das Escrituras, pois, o mesmo ensinava estas verdades em seus escritos, palestras e sermões.[2]

O segundo termo é “os cinco pontos” que se tornou um termo usado para descrever a controvérsia teológica na Holanda nos anos de 1618-1619. Onde um grupo de alunos de um homem chamado Jacob Arminius (1560-1609), publicaram, após sua morte, um protesto conhecido como a Remonstrace que exigia a mudança da concepção soteriológica das igrejas reformadas da Holanda de uma concepção calvinista onde Deus é soberano inclusive na salvação, para uma concepção humanista. Então, para se resolver essa questão se convocou um sínodo nacional na cidade de Dort para tratar deste assunto. E, as resoluções do sínodo foram organizadas em cinco proposições que posteriormente receberam o nome de Tulip, um rosa típica e muito comum na Holanda,  – termo acróstico para o resumo desta posição de Dort. E, mais adiante o termo ficou conhecido como os cinco pontos do calvinismo como uma homenagem, conforme já foi dito, a João Calvino.

EXPOSIÇÃO.

I – TOTAL DEPRAVAÇÃO

            Este é o primeiro ponto a ser considerado. Em resumo aqui se ensina que o homem é “incapaz e avesso à prática de todo bem”[3] espiritual. Isto reporta-se à queda de Adão e Eva pela desobediência ao mandamento especifico de Deus (Gênesis 2.16-17) onde lemos:

16 E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, 17 mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.

            O resultado desta desobediência do casal edênico foi a queda no pecado conforme nos ensina a Palavra de Deus em Gênesis 3.8-19:

8 Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do SENHOR Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim. 9 E chamou o SENHOR Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás? 10 Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi. 11 Perguntou-lhe Deus: Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses? 12 Então, disse o homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi. 13 Disse o SENHOR Deus à mulher: Que é isso que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente me enganou, e eu comi. 14 Então, o SENHOR Deus disse à serpente: Visto que isso fizeste, maldita és entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos; rastejarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida. 15 Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. 16 E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará. 17 E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. 18 Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo.

Notemos que no processo da queda vemos Deus vindo ao homem, o indaga para que o mesmo tenha coragem de confessar seu pecado, mas o que ele faz é transferir sua responsabilidade para a sua esposa; o resultado desta atitude do homem foi o receber uma sentença divina onde todo o caos na criação (cardos e abrolho), bem como toda a crise familiar (o desejo da mulher em dominar o marido) é resultado da desobediência do homem, e sua queda no pecado.

A hereditariedade do pecado é transmitida para a posterioridade de Adão conforme nos ensina o Apóstolo São Paulo:

12 Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.13 Porque até ao regime da lei havia pecado no mundo, mas o pecado não é levado em conta quando não há lei.14 Entretanto, reinou a morte desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual prefigurava aquele que havia de vir

 (Romanos 5.12-14 ARA)

 Diante disso pode-se afirmar o que expressa a posição confessional de Westminster quando declara que este homem é indisposto à prática do bem; verdade bem retratada pelo Apóstolo São Paulo em Romanos 3.9-18:

9 Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; 10 como está escrito: Não há justo, nem um sequer, 11 não há quem entenda, não há quem busque a Deus; 12 todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. 13 A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, 14 a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; 15 são os seus pés velozes para derramar sangue, 16 nos seus caminhos, há destruição e miséria; 17 desconheceram o caminho da paz. 18 Não há temor de Deus diante de seus olhos

O ensino bíblico sobre a Total Depravação é claro em toda a Palavra de Deus que pode ser sumarizado em conceitos básicos:

1)      O homem nasce em pecado – Salmos 51.5: o contexto desta passagem é quando Davi pecou com Bet-seba (vs.1) ele se vê como um homem vil; e, revela que comete tais pecados porque sua natureza é essencialmente pecaminosa.

2)      O homem nasce proferindo mentiras desde o seu nascimento – Salmos 58.3;

3)      E, ele é um cadáver ambulante Efésios 2.1-3.

Este bloco de textos revela a definição do pecado. Plantinga nos lembra que o pecado “não é apenas a quebra da lei, mas também a quebra da aliança com o Salvador. O pecado é uma nódoa na relação pessoal, uma ofensa ao pai divino e benfeitor, uma traição do companheiro ao qual se esta unido por laços santos” e ainda ele diz, ao explicar a passagem de Salmos 51.1-14, que todo “pecado é direcionado, primeiro e finalmente, contra Deus. Digamos então que o pecado é qualquer ato – qualquer pensamento, desejo, emoção, palavra ou feito – ou sua omissão, que desagrada a Deus e merece ser denunciado.”[4]Esta declaração reproduz com amplitude aquilo que se ensina no Breve Catecismo de Westminster na questão de número 14 quando define pecado como “transgressão à lei de Deus”.[5] 


[1] Ministro da Palavra e dos Sacramentos pela Igreja Presbiteriana do Brasil. Atualmente é pastor na Igreja Presbiteriana de Riachão do Jacuípe – BA.

[2] Recomenda-se a leitura: BEEKE, Joel R. Vivendo para a Glória de Deus – Uma Introdução à Fé Reformada. São José dos Campos: Fiel,2010; FERREIRA, Wilson Castro. Calvino: Vida, Influência e Teologia. São Paulo: Luz para o Caminho, 1985; REID, William Stanford. (ed). Calvino e sua Influência no Mundo Ocidental. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana,1990; GEORGE, Thimothy. Teologia dos Reformadores. São Paulo: Vida Nova, 1994.

[3] Confissão de Fé de Westminster – capítulo 6 seção 3

[4] PLANTINGA JR, Cornelius. Não era para ser assim – um resumo da dinâmica e natureza do pecado. São Paulo: Cultura Cristã, 1998, p.26.

[5] Breve Catecismo de Westminster questão 14.

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