Estudo: Os Cinco Pontos do Calvinismo.
Depravação Total do Gênero Humano.
Prof.
Rev. João França.[1]
INTRODUÇÃO:
Este é um
assunto bastante discutido nas mídias sociais, nos grupos de estudos, nas salas
de aulas de escola bíblica. Vivemos um novo momento na teologia cristã; tem
havido um interesse significativo pelas doutrinas da graça entre os jovens de
diversas denominações históricas ou não. Por outro lado, há uma tendência de
muitos acharem que os cinco pontos do calvinismo ou Tulip esgota toda doutrina
reformada. Na verdade vivemos aquilo que chamo de tulipação da teologia
reformada. Na verdade a Tulip é apenas um resumo da soteriologia (doutrina da
salvação) do calvinismo ou fé reformada.
Antes de
entrarmos na explicação dos cinco pontos é necessário definirmos alguns termos,
pois, podem oferecer uma má compreensão do assunto. O primeiro vocáculo é o
termo calvinismo. O nome reporta-se à
figura de João Calvino (1509-1564) que fixou residência em Genebra e alí atuou
como reformador. O nome dele posteriormente foi dado em homenagem a um sistema
teológico desenvolvido a partir do estudo das Escrituras, pois, o mesmo ensinava
estas verdades em seus escritos, palestras e sermões.[2]
O segundo termo
é “os cinco pontos” que se tornou um
termo usado para descrever a controvérsia teológica na Holanda nos anos de
1618-1619. Onde um grupo de alunos de um homem chamado Jacob Arminius
(1560-1609), publicaram, após sua morte, um protesto conhecido como a Remonstrace que exigia a mudança da
concepção soteriológica das igrejas reformadas da Holanda de uma concepção
calvinista onde Deus é soberano inclusive na salvação, para uma concepção
humanista. Então, para se resolver essa questão se convocou um sínodo nacional
na cidade de Dort para tratar deste assunto. E, as resoluções do sínodo foram
organizadas em cinco proposições que posteriormente receberam o nome de Tulip,
um rosa típica e muito comum na Holanda,
– termo acróstico para o resumo desta posição de Dort. E, mais adiante o
termo ficou conhecido como os cinco pontos do calvinismo como uma homenagem,
conforme já foi dito, a João Calvino.
EXPOSIÇÃO.
I – TOTAL DEPRAVAÇÃO
Este é o primeiro ponto a ser
considerado. Em resumo aqui se ensina que o homem é “incapaz e avesso à prática
de todo bem”[3]
espiritual. Isto reporta-se à queda de Adão e Eva pela desobediência ao
mandamento especifico de Deus (Gênesis 2.16-17) onde lemos:
16 E o SENHOR Deus lhe deu
esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, 17 mas da
árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela
comeres, certamente morrerás.
O
resultado desta desobediência do casal edênico foi a queda no pecado conforme
nos ensina a Palavra de Deus em Gênesis 3.8-19:
8 Quando ouviram a voz do
SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da
presença do SENHOR Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim. 9
E chamou o SENHOR Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás? 10 Ele
respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me
escondi. 11 Perguntou-lhe Deus: Quem te fez saber que estavas nu?
Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses? 12 Então,
disse o homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu
comi. 13 Disse o SENHOR Deus à mulher: Que é isso que fizeste?
Respondeu a mulher: A serpente me enganou, e eu comi. 14 Então, o
SENHOR Deus disse à serpente: Visto que isso fizeste, maldita és entre todos os
animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos; rastejarás sobre o
teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida. 15 Porei
inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente.
Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. 16 E à mulher
disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores
darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará. 17
E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que
eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas
obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. 18 Ela
produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo.
Notemos que no processo da queda vemos Deus vindo ao homem, o indaga para
que o mesmo tenha coragem de confessar seu pecado, mas o que ele faz é
transferir sua responsabilidade para a sua esposa; o resultado desta atitude do
homem foi o receber uma sentença divina onde todo o caos na criação (cardos e
abrolho), bem como toda a crise familiar (o desejo da mulher em dominar o
marido) é resultado da desobediência do homem, e sua queda no pecado.
A hereditariedade do pecado é transmitida para a posterioridade de Adão
conforme nos ensina o Apóstolo São Paulo:
12 Portanto, assim como por um
só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte
passou a todos os homens, porque todos pecaram.13 Porque até ao
regime da lei havia pecado no mundo, mas o pecado não é levado em conta quando
não há lei.14 Entretanto, reinou a morte desde Adão até Moisés,
mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o
qual prefigurava aquele que havia de vir
(Romanos 5.12-14 ARA)
Diante disso pode-se afirmar o que expressa a
posição confessional de Westminster quando declara que este homem é indisposto
à prática do bem; verdade bem retratada pelo Apóstolo São Paulo em Romanos
3.9-18:
9 Que se conclui? Temos nós
qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos,
tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; 10 como está
escrito: Não há justo, nem um sequer, 11 não há quem entenda, não há
quem busque a Deus; 12 todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis;
não há quem faça o bem, não há nem um sequer. 13 A garganta deles é
sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus
lábios, 14 a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; 15
são os seus pés velozes para derramar sangue, 16 nos seus caminhos,
há destruição e miséria; 17 desconheceram o caminho da paz. 18
Não há temor de Deus diante de seus olhos
O ensino bíblico
sobre a Total Depravação é claro em toda a Palavra de Deus que pode ser
sumarizado em conceitos básicos:
1) O
homem nasce em pecado – Salmos 51.5: o contexto desta passagem é quando Davi
pecou com Bet-seba (vs.1) ele se vê como um homem vil; e, revela que comete
tais pecados porque sua natureza é essencialmente pecaminosa.
2) O
homem nasce proferindo mentiras desde o seu nascimento – Salmos 58.3;
3) E,
ele é um cadáver ambulante Efésios 2.1-3.
[1]
Ministro da Palavra e dos Sacramentos pela Igreja Presbiteriana do Brasil.
Atualmente é pastor na Igreja Presbiteriana de Riachão do Jacuípe – BA.
[2]
Recomenda-se a leitura: BEEKE, Joel R. Vivendo
para a Glória de Deus – Uma Introdução à Fé Reformada. São José dos Campos:
Fiel,2010; FERREIRA, Wilson Castro. Calvino:
Vida, Influência e Teologia. São Paulo: Luz para o Caminho, 1985; REID,
William Stanford. (ed). Calvino e sua
Influência no Mundo Ocidental. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana,1990;
GEORGE, Thimothy. Teologia dos
Reformadores. São Paulo: Vida Nova, 1994.
[3]
Confissão de Fé de Westminster – capítulo 6 seção 3
[4]
PLANTINGA JR, Cornelius. Não era para
ser assim – um resumo da dinâmica e natureza do pecado. São Paulo: Cultura
Cristã, 1998, p.26.
[5]
Breve Catecismo de Westminster questão 14.
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