ESTUDO NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER
Capítulo 7 – Do Pacto
de Deus com o Homem
Rev. João Ricardo
Ferreira de França.
INTRODUÇÃO:
A doutrina
do pacto é importante para a igreja cristã. Ela ensina que Deus antes de todos
os tempos planejou uma forma de salvar o homem que havia caído no pecado,
conforme estudamos no capítulo 6 da Confissão de Fé de Westmisnter; e o meio
pelo qual Deus provê a redenção e o resgate da comunhão com ele é através da
relação pactual.
I – O QUE É PACTO?
O vocábulo “Pacto”. Sproul nos
lembra que o “conceito de pacto é de vital importância para nosso entendimento
do Cristianismo bíblico”.[1]
Um definição que podemos oferecer, a partir do vocábulo hebraico berith, é que pacto “é uma relação que
envolve ‘juramentos e obrigações’ e compromissos mútuos, embora não
necessariamente iguais”.[2] Robertson diz: “Em seu aspecto
mais essencial, aliança é aquilo que une pessoas. Nada está mais perto do
coração do conceito bíblico de aliança do que a imagem de um laço inviolável.[3]Louis
Berkhof oferece a seguinte definição para aliança ou pacto:
A palavra berith pode indicar um acordo mútuo
voluntário (diplêurico), mas também uma disposição ou um arranjo imposto por
uma parte a outra (monoplêurico). Seu sentido exato não depende da etimologia
da palavra, nem do desenvolvimento histórico do conceito, mas, simplesmente das
partes interessadas.[4]
Robertson reforça esta definição “Aliança
é um pacto de sangue soberanamente administrado.”[5]
Entre os puritanos era comum entender a aliança como uma referência a
“promessa, estipulações e obrigações mútuas entre duas partes”[6]
E Van Deursen nos lembra que o “Pacto de Deus é
a base no qual se fundamenta nossa vida, e a atmosfera em que respiramos”.[7]
II – A NECESSIDADE DE
PACTO (Seção I):
I.
Tão grande é a distância entre Deus e a criatura, que, embora as criaturas
racionais lhe devam obediência a Ele
como seu Criador, nunca poderiam fruir nada Dele como bem-aventurança e recompensa,
senão por alguma voluntária condescendência da parte de Deus, a qual Ele se agradou
expressar por meio de um pacto
Os teólogos de
Westminster compreenderam que existe uma distância moral e relacional. A
distância moral se dá devido ao homem tem caído em pecado, mas também há uma
distância na relação de Deus com o homem, esta distância se expressa no
relacionamento entre Criador e criatura.
1.
A
distância entre o Criador e a Criatura:
Nesta seção nós
aprendemos que existe essa distância substanciosa a confissão nos oferece o
texto de Isaías 40.13-17 como prova para esta distância:
13
Quem guiou o Espírito do SENHOR? Ou, como seu conselheiro, o ensinou? 14
Com quem tomou ele conselho, para que lhe desse compreensão? Quem o instruiu na
vereda do juízo, e lhe ensinou sabedoria, e lhe mostrou o caminho de
entendimento? 15 Eis que as nações são consideradas por ele como um
pingo que cai de um balde e como um grão de pó na balança; as ilhas são como pó
fino que se levanta.16 Nem todo o Líbano basta para queimar, nem os
seus animais, para um holocausto.17 Todas as nações são perante ele
como coisa que não é nada; ele as considera menos do que nada, como um vácuo.
2. A condescendência do
Criador:
A CFW na nos
ensina que a despeito desta distância aprove ao Criador (Deus)
misericordiosamente condescender até o homem. Deus veio ao homem. Deve-se
ressaltar que tal condescendência divina é pré-lapsariana conforme encontra-se
em Gênesis 2.16-17: “E o SENHOR Deus lhe
deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do
conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres,
certamente morrerás.”
Deus se pactua
com homem com o objetivo de diminuir a distância existência entre o Criador e a
criatura. O fato de Deus outorgar a lei moral a Adão equivale a estabelecer,
ainda que implicitamente, “uma aliança”, pois, esta lei foi dada no coração do
home (Romanos 2.14-15), e no capítulo 2 de Gênesis temos de fato “a forma da
aliança”[8]
No livro dos
Salmos 113.5-8 nos mostra essa condescendência de Deus em favor do homem
pecador:
Quem
há semelhante ao SENHOR, nosso Deus, cujo trono está nas alturas, que se
inclina para ver o que se passa no céu e sobre a terra? Ele ergue do pó o
desvalido e do monturo, o necessitado, para o assentar ao lado dos príncipes,
sim, com os príncipes do seu povo.
Deus é o único
que vem em direção dos homens, o ato de se inclinar indica que Deus se preocupa
com as coisas dos homens.
3.
O
Relacionamento entre Deus e o Homem se expressa por meio de um Pacto:
A terceira
verdade que esta seção da CFW nos ensina é que essa condescendência divina se
dá a conhecer por meio “de um pacto”. Na realidade há aqueles que sustentam que
em Adão não encontramos pacto algum! A Escritura é muito clara ao tratar desta
questão, ainda que o termo pacto não apareça, aprendemos pela Escritura em
Oséias 6.7 que havia um pacto no Éden. Pois, o profeta “proclamou que Israel, como Adão, tinha quebrado o pacto porque
tinha sido infiel a Yahweh”.[9]
III
– ADÃO E O PACTO (Seção II)
II. O primeiro pacto feito com o
homem era um pacto de obras (Gl 3:12) no qual a vida foi prometida a Adão e
nele à sua posteridade (Rm 10:5; Rm 5:12-20) sob a condição de perfeita obediência
pessoal (Gn 2:17; Gl 3:10).
Na segunda
seção deste capítulo da CFW somos introduzidos ao pacto das obras. Algumas
pessoas ao ler essa declaração da Confissão “o primeiro pacto feito com o home
era um pacto de obras...” entende que aqui se faz referência a uma salvação por
meio do esforço de Adão. Isto suscita outro debate ainda gigantesco no que
tange a recompensa prometida no pacto: o céu ou a terra? Seria o céu o vida continuada no jardim?[10]Há
aqueles que temem usar o vocábulo “Pacto de obras” e usam a nomenclatura de “pacto
de vida”. Turrentini sustenta que Adão recebeu “a promessa da vida eterna e
celestial de modo que (uma vez terminado seu curso de obediência) ele seria
conduzido ao céu”.[11]Nesta
seção nós aprendemos:
1.
Que
este pacto envolvia uma promessa de vida.
Este tem sido o ensino da teologia bíblica da Reforma. É o que nos ensina
Gálatas 3.12. O pacto que Deus fez com Adão no Jardim do Éden envolvia a vida,
como também envolvia a morte, são elementos fundamentais no estabelecimento de
um pacto.
2. Que esta vida foi prometida a Adão e a toda sua Descendência:
Todos os descendentes de Adão receberam juntamente com ele a promessa da
vida, esta vida poderia ser a vida eterna ou mesmo a confirmação eterna no
estado de graça. Em Romanos 10.5 e Romanos 5.12-20 vemos isso de forma clara ,
estávamos e estamos tão intimamente ligados a Adão que a Promessa de vida que
ele recebeu era também promessa para nós que descendemos dele.
3. Que este pacto exigia uma perfeita obediência à lei pactual.
Este é o último aspecto a ser analisado na segunda seção de nossa
Confissão, este pacto que Deus fez com Adão exigia que ele tivesse uma perfeita
obediência à lei de Deus. Isto é bem claro nos textos como tais: Gênesis 2.17;
Gálatas 3.10.
[1] SPROUL, R.C. Everyone’s A Theologian – An Introduction to Systematic Theology.
Orlando: Reformation Trust. 2014, p.105
[2] HORTON, Michael. Introducing Covenant Theology . Grand
Rapids: Baker Books, 2009, p.10
[3] ROBERTSON, O. PALMER. O Cristo dos Pactos. Tradução: Amério
J. Ribeiro. Campinas - SP: Luz para
o Caminho, 1997, p.8
[4] BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Tradução: Odayr Olivetti.,
Campinas: Cultura Cristã, 2980 p.256
[5] ROBERTSON, O. PALMER. O Cristo dos Pactos. Tradução: Amério
J. Ribeiro. Campinas - SP: Luz para
o Caminho, 1997, p.8
[6] BEEKE, Joel R.; JONES, Mark. Teologia Puritana – Doutrina para a Vida.
São Paulo: Vida Nova 2016, p. 330.
[7] VAN DEURSEN, Frans. El Pacto de Dios. Barcelona: Felire,
1994, p.3.
[8] Veja-se BEEKE, Joel R.;
JONES, Mark. Teologia Puritana –
Doutrina para a Vida. São Paulo: Vida Nova , 2016, p. 335.
[9] GRONINGEN, Gerard Van. Criação e Consumação – O Reino, a Aliança e
o Mediador – Volume I. Tradução: Denise Meister. São Paulo: 2002, p.89.
[10] BEEKE, Joel R.; JONES, Mark. Teologia Puritana – Doutrina para a Vida.
São Paulo: Vida Nova, 2016, p. 342.
[11] TURRETIN, Francis. Compêndio de Teologia Apologética - 8.6.1. São Paulo: Cultura
Cristã, 2011, , p.727.
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