II – ESCATOLOGIA INDIVIDUAL
– UMA PERSPCTIVA CRISTÃ DA MORTE
Rev. João Ricardo Ferreira
de França*
Neste módulo vamos estudar o tema
relacionado a visão cristã sobre a morte e tudo que se aplica a ele de acordo
com o ensino das Escrituras Sagradas.
2. – A Morte Física:
O que é a morte? O que ocorre depois
dela? Estas são questões pertinentes ao futuro. A morte é um tema que quase
todos nós ignoramos ou não gostamos de tratar, mas devemos lembrar que há cada
vinte segundo morre uma pessoa. Ou seja, três mortes a cada minuto.[1]
Qual é o caráter básico da morte?
Devemos reconhecer que a morte não é algo natural em nossa vida, mas é
resultado da queda do homem no pecado conforme lemos em Gênesis 2.17; Hebreus
9.27. E sabemos que a morte é si é emblema de que Adão fracassou em
simplesmente obedecer a Deus (Gênesis 3.9).
2.1 – A Natureza da Morte:
Qual é a natureza da morte? Podemos oferecer várias respostas
bíblicas para esta questão. A morte é a dissolução da unidade entre o espírito
e o corpo (Eclesiastes 12.17). No original grego, a palavra traduzida por morte
é “qana,toj” (thanátos) que literalmente significa separação. A
morte resulta na cessação de qualquer atividade na terra. Também deve-se ter em
mente que a morte é a passagem para a eternidade (Lucas 16.19-31). O termo
também pode designar o estado espiritual do pecador: Ou seja, longe de Cristo o
homem está separado de Deus.
2.2 – O Conceito / Ensino de Cristo sobre a Morte:
Em
muitas ocasiões o Senhor Jesus fez referência à morte como se fosse um sono (Mateus
9.24; Marcos 5.39; Lucas 8.52; João 11.11). A questão que levanta-se é a
seguinte: Estaria Jesus afirmando haver um sono da alma? Na verdade é uma
metáfora para descrever o estado transitório de cessação das atividades
realizadas pelo corpo. Jesus também apresentou o conceito da incredulidade como
sendo um estado de morte (João 5.21-25).
2.3 – O Ensino Paulino da Morte.
No pensamento de Paulo encontramos conceitos similares ao de
Jesus sobre o sono da Alma ( 1ª Tessalonicenses 4.13) usado como sendo uma
metáfora, pois, faz referência à ressurreição dos mortos. Ele também, em seu
pensamento, apresenta a morte como sendo resultado do pecado (Romanos 5.12;
6.23); O apóstolo também ensina que, dentro do propósito de Yahweh, Jesus
destruiu a morte (2ª Timóteo 1.10), mas tal realidade será de fato consumada na
ressurreição do último dia (1ª Coríntios 15.26,54); no pensamento paulino a
morte não é uma derrota para o cristão, mas trata-se de uma vitória gloriosa
(2ª Timóteo 4.6-8), ainda que seja um momento difícil é o Espírito Santo que
nos oferece força para esta hora.
3
A Imortalidade da Alma.
Um dos temas que a Escatologia Individual se ocupa com grande
preeminência é a doutrina da imortalidade da alma, visto que este ensino tem
sido negado por muitas comunidades ditas cristãs se colocam contra este ensino
(p.e. Adventistas, Testemunhas de Jeová).
3.1 – A Doutrina da
Imortalidade da Alma no Antigo Testamento
Devemos ressaltar que “O conceito de imortalidade da alma
foim desenvolvido nas religiões de mistério da antiga Grécia, e recebeu expressão
filosófica nos escritos de Platão (427-347 a C.)”[2]
Entretanto, encontramos também este conceito na primeira parte das Escrituras.
A ideia de imortalidade da alma está presente no Antigo
Testamento. No Hebraico encontramos a palavra “queber” que significa sepultura,
e a palavra “sheol” que indica a existência ou estado da alma após a morte.
Tanto os justos e os ímpios vão para o seol depois que morrem; mas alguns
textos apontam para condições diferente tanto para os justos, incluindo a
esperança da ressurreição (Deuteronômio 32.22; Salmos 116.3; Provérbios 9.18;
Jó 19.26-17; Salmos 49.15; Daniel 12.2)
3.2 – A Imortalidade da Alma no Novo Testamento.
O Novo Testamento a doutrina é claramente desenvolvida a
ideia de imortalidade da alma.
a)
Jesus a firma a doutrina (Mateus 10.28;Lucas 16.19-31; Lucas
23.42-43)
b)
Moisés e Eles presentes na transfiguração revelam a
imortalidade da alma (Marcos 9.1-4)
c)
Paulo também ensinou a imortalidade da alma (2ª Timóteo 4.1;
Filipenses 1.21-23)
d) João apóstolo tem uma visão
dos fiéis no céu (Apocalipse 6.9-12)
IV – O ESTADO INTERMEDIÁRIO
Nosso
estudo neste momento se ocupa do estado intermediário que a disciplina
escatológica trata. Que se refere ao “o estado do morto entre a morte e a
ressurreição”[3] Chamamos de
estado intermediário da
alma o período
ou situação da
alma entre o momento da morte e a parousia, quando
haverá a ressurreição, o juízo final, a derrota final de Satanás e a nova
criação.
Como
se dá o estado intermediário? O que ocorre lá? Há uma existência continuada ou
não? Se há de que forma a alma existe no estado intermediário? Se não há como
tratar os textos que parecem indicar uma existência continuada pós-morte?
4.1 – É um estado consciente:
A
Palavra nos ensina que no mundo dos mortos o estado é de plena consciência.
Isso significa que a consciência de uma pessoa que morre não é apagada no seu
pós-morte; no mundo dos mortos (Estado intermediário) ela fica consciente,
tanto no céu como inferno.
a)
O caso do Rico e Lázaro (Lucas 16.19-31).
b)
Os Mártires na igreja primitiva (Apocalipse
6.9-12).
4.2 – É um estado fixo:
É
um estado que não pode ser mudado. Não há como mudar de estado no pós-morte.
Isso é claro pelas Escrituras sagradas:
a)
A condenação é certa no pós-morte quando não arrependeu
em tempo (João 3.18)
b)
Não há como mudar de endereço no estado
intermediário (Lucas 16.26).
4.3 – O Destino dos homens no
Estado Intermediário:
Onde
de fato ficam os homens (justos e ímpios) quando morrem? O que acontece com as
suas almas? Qual é a sua localização?
4.3.1 – Os Justos:
Para
onde vai o justo depois da morte? Onde eles estão no mundo dos mortos?
a)
Estão com Deus (Filipenses 1:23, Lucas 23:42,
Atos 7:59, II Coríntios 5:1-8).
b) Estão
no paraíso (céu, seio de Abraão) - (I Coríntios
23:42, II Coríntios 12:4, Apocalipse
2:7).
c) Estão
em descanso (sentido de cessaram as lutas desta vida) - (Apocalipse 14:13,m 6:9-12)
4.3.2 – Os Ímpios:
a) Estão separados de Deus (Lucas
16:19-31, Mateus 25:31-46, Romanos 3:23)
b) estão sofrendo o castigo (Lucas
23:42, II Pedro 2:9, Romanos 6:23)
c) estão no Hades. O que é
Hades? A palavra grega a[dej literalmente significa
“não ver”. Refere-se ao mundo não visto, ao além. O Novo Testamento emprega
esta palavra onze vezes, com o sentido de:
1)
Referência
geral ao sepulcro (Atos 2:27-31, I Coríntios 15:55, Apocalipse 1:18, 6:8)
2)
Como
referência ao lugar dos injustos mortos (Lucas 16:23, Apocalipse 20:14)
3)
Como
referência ao sentido implícito de inferno (Mateus 11:23, Lucas 10:15, Mateus 16:18,
Apocalipse 20:14).
Assim, concluímos que, tratando-se do estado
intermediário dos ímpios, o termo “hades” adquire o significado de inferno.
4.4 – É um estado Incompleto:
A
Bíblia apresenta o Estado Intermediário como sendo incompleto conforme vemos
nas seguintes passagens: As almas aguardam pela ressurreição – I Coríntios 15,
Apocalipse 20:11-13.
5. Falsos Ensinos a respeito do
estado da alma no pós-morte:
a) O Sono da Alma: Os textos
usados para defender esta ideia (Mateus 9:24, Marcos 5:39, Lucas 8:52, João
11:11) conforme já vimos trata-se de uma metáfora para descrever a morte, é um
eufemismo bíblico para o conceito da morte física. E já vimos que a alma não
fica dormindo no estado intermediário conforme aprendemos pelos textos de Lucas
16.19-31). Os Mártires na igreja primitiva (Apocalipse 6.9-12).
b) A doutrina do Purgatório: É
uma doutrina do romanismo que ensina tratar-se de um local ou estado da alma
que não é o Céu nem o Inferno, em que a alma fica sofrendo. Não pode adquirir
mérito para sair dali para o Céu, mas as missas e orações em favor do morto
podem fazer isto.
1.
Os textos usados para fundamentar essa
famigerada doutrina são II Macabeus 12:43
- Texto apócrifo,
rejeitado pelos próprios
judeus. Fere todo o ensinamento
bíblico de outros textos, como Ezequiel 18:4, 20, 21, Hebreus 9:27, etc.
2.
Lucas 16 – Lázaro no seio de Abraão estaria no
purgatório. O texto diz que Lázaro estava sendo consolado.
3.
Mateus 5:25-26 – Uma parábola em que o devedor é
lançado na prisão até pagar tudo que deve. Não pode ser o purgatório, pois
segundo o próprio dogma católico, lá ninguém pode pagar pelos próprios pecados.
4.
I Pedro 3:18-20 – Os espíritos em prisão aos
quais Cristo pregou seriam os do purgatório. Na verdade, Cristo pregou nos dias
de Noé aos espíritos aprisionados pelo pecado, através do próprio Noé.
* O autor é
Ministro da Palavra e dos Sacramentos na Igreja Presbiteriana do Brasil.
Atualmente é pastor na Igreja Presbiteriana de Riachão do Jacuípe – BA.
Formou-se em Teologia Reformada no Seminário Presbiteriano do Norte (SPN) no
Recife – PE. Foi professor de línguas bíblicas (Hebraico e Grego) no Seminário
Presbiteriano Fundamentalista do Brasil em Recife – PE. É casado e tem dois
filhos.
[1]
HENDRIKSEN, William. A Bíblia Futura
segundo a Bíblia. Tradução: Marcus Ferreira. São Paulo: Cultura Cristã,
2004, p. 27
[2]
HOEKEMA, Anthony A. A Bíblia e o Futuro.
Tradução: Karl H. Kepler. São Paulo: Casa Ed. Presbiteriana, 1989, p. 97.
[3] HOEKEMA,
Anthony A. A Bíblia e o Futuro.
Tradução: Karl H. Kepler. São Paulo: Casa Ed. Presbiteriana, 1989, p. 105
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