A SUBSCRIÇÃO AOS PADRÕES DE WESTMISNTER
Rev. João França.
Nos dias
atuais vivemos uma crise sem precedentes nas igrejas ditas herdeiras da Reforma
Protestante. No limiar que se anuncia os quinhentos e cinco anos da chamada
Reforma Protestante vemos a erosão da fé acontecer; igrejas que tem negado a
importância de credos e confissões.
Alguns anos
atrás houve o movimento do “nenhum Credo senão Cristo!”
Esta declaração argumentava que não havia necessidade de nenhum credo formal
para representar, apontar ou explicar o Cristianismo. Tal movimento proponha uma
ruptura radical com o passado. Onde cada individuo, comunidade religiosa ou
mesmo igreja estava debaixo de um único lema (credo?) que sempre a principio parece piedoso, mas no
fundo é danoso.
Por que
sustentar um credo que não precisa ser formalizado é perigoso? A resposta mais óbvia
para isto está no fato de que forma-se credos particulares individualistas e
sujeitos a tirania do tempo mutável ou da nova onda teológica. Igrejas que não
possuem um credo, uma confissão uma declaração formal de fé são berços e ninhos
para a heresia que, por muitas vezes, afrontam a própria Palavra de Deus; e,
este veneno vem embalado com o rótulo de uma visão nova, uma nova perspectiva
de encarar o ensino cristão, mas quando se examina de perto, por vezes, se
trata de uma velha heresia. Esta pergunta advém de uma concepção totalmente
pluralista e anti-confessional conforme percebemos em nossa época. Por que
estamos vivendo tal crise dentro de nossa Igreja?
Porque vivemos
num tempo de alta indefinição teológica um tempo onde vale a privatização das
convicções. Isto quer dizer que muitas pessoas não tem compromisso com alguma
coisa escrita à qual elas prestam lealdade. As pessoas querem ter as suas
próprias convicções pessoais, sem darem qualquer atenção ao que foi escrito no
passado pelos nossos Pais na Fé.
Este é um perigo enfrentado pelas igrejas que
possuem uma confissão de Fé. Pois, esta ‘indefinição’ ,conforme nos alerta o
professor Heber Carlos de Campos, tem entrado dentro de nossa Igreja e minado a
autoridade do sistema confessional da Igreja. Ano após ano candidatos ao
Sagrado Ministério da Palavra se enfileiram nas reuniões conciliares do nossos
presbitérios (denominação Presbiteriana) e juram fidelidade aos Símbolos de Fé
de nossa Igreja Presbiteriana do Brasil; todavia, eles quebram o juramento
adotando práticas e doutrinas contrárias aos Símbolos de Fé que juraram ensinar
e praticar.
O professor
Ulisses S. Horta nos lembra que um “significativo número de oficiais,
especialmente pastores, assume o compromisso subscricional da ordenação
portando escrúpulos quanto ao conteúdo de sua confissão”. Ele continua nos
informando que:
Tais
escrúpulos podem ocorrer por várias razões: desconhecimento, superficialidade,
mas também por nutrição deliberada de uma convicção divergente do padrão de fé
denominacional. Outro caso que incorre em dificuldade semelhante é a mudança de
opinião posterior à ordenação. Nestas circunstâncias, a reserva pessoal quanto
ao símbolo de fé pode vir a ser cultivada silenciosa ou abertamente. Os
resultados de tal reserva serão, em ambos os casos, danosos ao desempenho do
ofício, ao ministério, e à própria igreja.
Nesta nossa
palestra de hoje pretendo abordar com alguns tópicos sobre a subscrição
confessional aos Símbolos de fé de Westminster..
I – O QUE É SUBSCRIÇÃOCONFESSIONAL?
O
termo subscrição significa assinar e concordar! Isto parece ser simples.
Concordar com o quê? Com as doutrinas e ensinos abraçados pela igreja, mas ensinos
estes que estão fundamentados nas Escrituras Sagradas. Isto é importante ser
ressaltado porque, como disse David W. Hall, “nenhuma confissão merece qualquer
respeito se não for totalmente bíblica”.
Devemos ressaltar que o objetivo de uma “confissão é servir à unidade e à
clareza”. Mas será é bíblico ter uma e subscrever uma confissão? Hall nos diz
que “manter uma confissão declarada é bastante bíblico e prescritivo.”
1.
Subscrição Confessional no
Antigo Testamento:
No Antigo Testamento é
encontro o chamado “Shemá” conforme lemos em Dt. 6.4-9. O verbo ouvir que está
no imperativo no hebraico é “[m;Þv.”- shemá –e tem o sentido de
prestar atenção, significa ouvir, mas não é um mero escutar “envolve a ideia de
ouvir com atenção”.
O
texto citado acima era o primeiro a ser lido de um conjunto de leituras
confessionais que carregavam a mesma tônica.
O texto de Deuteronômio
tinha por objetivo apresentar as seguintes verdades:
a) Que existe apenas um Deus
b) Que este Deus merece ser amado com todo o ser
c) Que estas verdades deveriam perpetuar nas gerações
posteriores.
Há também outros dois textos que nos mostram que havia um
credo na Igreja veterotestamentária no ato de culto. São eles: Dt.11.13-21 e Nm
15.37-41.
Em Dt.11.13-21 temos o
desenvolvimento mais elaborado do shemá em sua aplicação ao povo da aliança
indicando que a confissão de fé deve produzir resultados práticos; estes resultados
são evidentes, pois, nasce tudo de uma obediência aos mandamentos de Yhaweh, o
Deus pactual.
Nesta confissão estão inseridas as crenças
necessárias à existência do povo da aliança; e não apenas isso, mas incluem-se
uma metodologia de pedagogia na qual tal ensino confessional pode ser
transmitido, tendo a família como alvo desta transmissão.
Em Números 15.37-41 temos o
mesmo conceito presente: Diante
destes textos nós podemos confirmar que a confissão de fé fazia parte da vida
litúrgica do povo pactual. Este “Shemá” era o credo do
povo, somos informados que o “shemá era repetido três vezes ao dia” pelo povo do pacto; também somos cientes de
que este credo judeu era usado liturgicamente na sinagoga.
2 - A Subscrição Confessional no Novo Testamento.
No Novo Testamento o
conceito de confessionalidade é mais presente e bem definido. Isto significa
que a Igreja sempre elaborou o seu conjunto de doutrinas a partir da revelação
de Deus. No texto neotestamentário lidamos com um grande material que trata da
existência de um grupo de verdades a serem cridas e obedecidas.
Estas verdades são
conhecidas como “Tradições” que no grego é “paradosis”, este vocábulo significa
“transmitir”, “entregar”, “tradição”. A palavra é formada de uma proposição
grega “Para” que indica “junto a”, “ao lado de” mais o verbo “didomi” que de
acordo com o contexto tem uma gama de significados “dar”, “trazer”, “conceder”,
“causar”, “colocar”. Este conceito é percebido pelo texto bíblico de 2 Ts.
2.15: “Assim, pois, irmãos, permanecei firmes e guardai as tradições que vos
foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa.”.
Este aspecto confessional
consistia, no Novo Testamento, na transmissão dos ensinos de Cristo e dos
apóstolos por meio dos sermões e escritos (cartas), sendo orientações quanto ao
comportamento. Todavia, toda tradição que entrava em choque com a Palavra de
Deus deveria ser rejeitada.
Diante disso, devemos ter em
mente que a tradição “é uma boa palavra em si mesma [...]. Graças à tradição,
as pessoas se salvam da tirania do momento e transcendem o tempo”
E, ainda devemos lembra que não “se pode fazer progresso real na busca do entendimento à parte de uma
tradição”Isto
significa que na preservação da tradição recebida não somos feitos meninos
levados por todo e qualquer vento de doutrina (Ef.4.14).
A tradição ou conjunto de
verdades recebidas pela Igreja de Cristo tem sido descrita de diversas formas
nas Escrituras:
a.
Doutrina dos
apóstolos: “E
perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas
orações.” (Atos.2.42).
b.
Palavra da
vida:
reservando a palavra da vida, para que, no Dia de Cristo, eu me glorie de que
não corri em vão, nem me esforcei inutilmente.”(Fp. 2.16).
c.
Forma de doutrina: “Mas
graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer
de coração à forma de doutrina a que fostes entregues;”(Gl.6.6)
d.
Sã Palavras: “conserva o modelo das sãs
palavras que de mim tens ouvido, na fé e no amor que há em Cristo Jesus.” 2
Timóteo 1.13-14.
II – A IGREJA PRESBITERIANA DO
BRASIL E A SUBSCRIÇÃO CONFESSIONAL.
Chegamos a um ponto crucial nesta
hora. A subscrição dos padrões de Westminster pela Igreja Presbiteriana do
Brasil.
2. 1 – Do Ponto de vista Histórico:
A
Igreja Presbiteriana do Brasil teve os seus primeiros passos para uma
orgnaização eclesiástica quando o jovem pastor Ashbel Green Simonton
“desembarcou no Brasil no dia 12 de agosto de 1859”,
embora, sabemos que o presbiterianismo iniciou de fato de verdade no dia
22/04/1960 com uma escola dominical.
Todavia, a data e o ano de agosto tem prevalecido no presbiterianismo
brasileiro.
Historicamente
a Igreja presbiteriana do Brasil parece ter uma afinidade de defesa para com os
símbolos de fé. Embora, o calvinismo trazido por Simonton seja de certa forma
modificado pelo ponto de vista do avivalismo, é o calvinismo confessional de
Westminster com relação a sua subcrição que está em foco aqui.
Na
ordenação do primeiro pastor nacional José Manuel da Conceição “declarou aceitar a Confissão de Fé de Westminster e
a forma de Governo da Igreja Presbiteriana”.
O jovem Simonton passou a ensinar o Catecismo na Escola Dominical. “E o texto
que ele costumava a usar eram: a Bíblia, O Catecismo de História Sagrada e o
Progresso do Peregrino”
Simonton
também tinha a prática de uma vez por mês de pregar fazendo exposição de uma
pergunta do breve catecismo Westminster. E o seu objetivo era de “preparar os
crentes para defender-se dos ataques incrédulos”. Por isso, ele mesmo declarou:
“estou fazendo o que está em mim para gravar este catecismo na memória de
todos”.
A
Igreja Presbiteriana do Brasil tem uma história de solidificação e adesão aos
símbolos de fé de Westminster. É uma igreja que no seu nascedouro desejou tem
uma identidade doutrinária definida.
2.2 – Do Ponto de Vista Doutrinário
Como
Igreja estabelecida adotamos os símbolos de fé: Confissão, Breve Catecismo e
Catecismo Maior de Westminster. Isto significa que doutrinariamente temos uma
identidade. Isto é tão certo que algumas doutrinas são peculiares a nós
presbiterianos. Do ponto de vista da doutrina nós cremos:
1.
Na
Suficiência, autoridade e infalibilidade das Escrituras:
No capítulo 1 de nossa Confissão somos ensinados que:
foi
servido ao Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e
declarar àquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da
verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a
corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido
fazê-la escrever toda. Isto torna a Sagrada Escritura indispensável, tendo
cessado aqueles antigos modos de Deus revelar a sua vontade ao seu povo.
(WESTMINSTER, Cp. 1 Seção 1 – ênfase nossa)
No presbiterianismo não há lugar para revelações, pois,
entende-se que aqueles antigos modos de Deus se revelar ao seu povo há muito
tempo cessaram. Então, é inadmissível uma Igreja Presbiteriana com práticas de
novas revelações, línguas profecias. Isto é negar a plenitude da revelação
trazida por Cristo por meio de sua palavra, conforme nos ensina Hebreus 1.1-2: “Havendo
Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos
profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas
as coisas, pelo qual também fez o universo.”
2.
Na
Soberania de Deus:
Como presbiterianos
confessionais devemos acreditar na soberania de Deus no que respeita os seus
decretos absolutos sobre este mundo. A nossa Igreja crê e confessa a doutrina
da Predestinação, eleição e reprovação; isto significa que o verdadeiro presbiteriano
não acredita no livre-arbítrio do homem, mas crê que o homem está escravizado
pelo pecado, e limitado pelo decreto absoluto de Deus em tudo o que faz em sua
vida; ou seja, ele é morto espiritual, escravo do pecado, e age de conformidade
com o projeto de Deus desde toda a eternidade. A nossa Confissão no terceiro
capítulo 3 nos ensina:
Pelo decreto de Deus e para manifestação
de sua glória, alguns homens e alguns anjos são assim predestinados para a vida
eterna e outros preordenados para a morte eterna. Esses homens e esses anjos,
assim predestinados e preordenados, são particular e imutavelmente designados;
o seu número é tão certo e definido, que não pode ser aumentado ou diminuído.
(WESTMINSTER, Cp.3, seções 3-4)
Isto significa que não há
necessidade de teatros, de shows no culto para atrair pecadores para o reino,
pois, apenas os eleitos hão de ser salvos, e o método bíblico de evangelismo é
a proclamação do evangelho de Deus. Alguns textos nos ajudam a compreender este
assunto: “conjuro-te, perante Deus, e Cristo Jesus, e os anjos eleitos, que
guardes estes conselhos, sem prevenção, nada fazendo com parcialidade.” ( 1
Timóteo 5.21; Rm. 9.22-23; 2 Tm. 2.19).
3. No Batismo Infantil:
É peculiar ao
presbiterianismo confessar e defender o Batismo Infantil. Membros de Igrejas
anti-pedobatistas ( contrárias ao Batismo Infantil ) quando nos conhecem como Presbiterianos
logo tecem comentários negativos à prática bíblica do Batismo infantil; se
somos presbiterianos somos defensores do Batismo Infantil conforme temos em
nossa Confissão de Fé no capítulo 28 seção 4. “não somente os que professam a fé
em Cristo, mas também os seus filhos devem ser batizados”.
Esta é a nossa posição
confessional sobre as crianças. Elas devem ser batizadas; é com tristeza que
dizemos isso, mas muitos membros de nossas igrejas não trazem seus bebês ao
batismo sugerindo que esta doutrina é católica romana, mas não é, esta verdade
é Bíblica fundamenta na teologia do pacto de Deus com Abraão (Gn.17.9-14) e
confirmada por Paulo em Col.2.11-13.
2.3 – Do Ponto de Vista Constitucional.
A Igreja Presbiteriana tem
identidade com os símbolos de fé de Westminster também do ponto de vista da sua
constituição. No capítulo 1 da Constituição da IPB e no artigo 1: somos
informados que a nossa Igreja é “uma federação de igrejas locais” , isto
significa que não deve haver divergências entre as igrejas que estão nesta
federação. A federatividade deve promover a unidade. Mas ainda neste artigo 1 somos informados que
a Igreja adota:
a. A sagrada Escritura como única
regra de fé e prática (Antigo e o Velho Testamento): isto implica que
na constituição assume-se o conceito de suficiência das Escrituras e Autoridade
das mesmas.
b. E como sistema expositivo de
doutrina e prática a sua Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve.
Então, é inaceitável que
muitos membros da nossa Igreja não queriam se submeter à autoridade e
suficiência das Escrituras; e, que estes também não aceitem ou subscrevam os
nossos símbolos de fé.
Os membros da Igreja
deveriam pensar duas vezes antes de jogar fora os símbolos de fé. Para quê eles
servem? Servem como muros que limitam, orientam e nos dão liberdade. Limitam
quanto a abraçar toda e qualquer heresia; orientam qual o caminho correto tomar
e oferecem a liberdade de pensar alicerçados em suas bases.
Na última reunião do Supremo
Concilio da IPB (27-31 de julho de 2022) aprovou-se que nenhum candidato à
membresia da igreja seja recebido sem aceitar os padrões de Westminster na sua
integralidade.
Qual tipo de subscrição a IPB adota?
A constituição de nossa
Igreja é mais severa para com os oficiais da Igreja. Especialmente os
presbíteros docentes e regentes. Vocês tem a responsabilidade de zelar pela boa
doutrina. E como podem fazer isso? Sustentando e defendendo a Confissão de Fé
de Westmisnter. Pois, os símbolos de fé são a exposição das doutrinas de nossa
Igreja.
No artigo 114 de nossa
constituição há um alerta significativo para a ordenação de oficiais: “só
poderá ser ordenado e instalado quem, depois de instruído, aceitar a doutrina,
o governo e a disciplina da Igreja Presbiteriana do Brasil[...]”
Ao seminarista é outorgado a
ele que, no final do curso, perante ao presbitério apresente uma tese –
monografia – baseada em um capítulo ou seção da Confissão de Fé de Westminster
conforme lemos no artigo 120 alínea b de nossa Constituição. Então, senhores e
senhoras aqui presente, estamos diante de um desafio.
È um desafio à fidelidade.
Os pastores e presbíteros de nossas Igrejas devem fazer valer os seus votos de
ordenação. Pois, todos eles juraram ou jurarão que irão ensinar e defender as
doutrinas que se encontram nos símbolos de fé; todavia, o que temos visto é que
muitos deles chegam a fazer o juramento sem conhecer o conteúdo dos símbolos de
fé, nunca leram os símbolos de fé; outros já abandonaram os símbolos de fé de
Westminster.
Poderão ser depostos de seus
ofícios por quebrar os votos de ordenação. Então, se há alguém aqui nesta noite
que não conhece, que não concorda com nenhum ponto de nossa Confissão de Fé lhe
aconselho a pedir para ser exonerado do ofício, pois, não há algo tão terrível
para a igreja de Cristo do que um líder que é infiel ao seu ofício. Que Deus
nos ajude! Amém!.
REFERÊNCIAS:
CAMPOS, Heber C.
In: SIMÕES, Ulisses Horta. A Subscrição
Confessional – Necessidade, Relevância e Extensão. Belo Horizonte: Efrata
Publicações e Distribuição, 2002, p. 12-13